Acidente de carro assusta motorista ao ouvir "você matou meu filho"

Batida na entrada de Belo Horizonte, em 1992, levou drogado a falsa acusação
por
Pedro dos Reis Duarte
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20/11/2020 - 12h

"Achei que tinha  machucado uma criança em uma batida de carro. Isso mexe com você, sabe", relembra José Nascimento Filho da noite em que voltava para casa e se envolveu em um acidente, no mínimo, esquisito.

“Nessa época, eu morava em uma cidade chamada Ipatinga. Fica a uns 200 km de distância de Belo Horizonte. Para visitar a família na capital, eu e meus amigos pegávamos horas de estrada.” Nascimento Filho, nascido e criado na principal cidade mineira, trabalhava na empresa Usiminas no ano de 1992. Foi, no entanto, transferido para Ipatinga, no interior do Estado, e  morava lá. 

Ele e alguns amigos que também foram transferidos decidiram dividir uma casa alugada. Dois deles também eram de Belo Horizonte. Combinaram, então, de fazer um rodízio de carros para voltar à capital todo fim de semana. Assim, ninguém sairia prejudicado por dirigir mais que o outro e economizariam gasolina para cortar gastos. José não tinha um carro. Para suprir a necessidade do grupo, pegava o carro de sua mãe emprestado quando era sua vez. Na verdade, não era um carro e sim uma caminhonete antiga.

“Eu gostava de dirigir a caminhonete da mamãe porque me lembrava os tempos da escola. Lembro até hoje de entrar no carro e passar na casa dos meus amigos. No começo eram uns dois ou três amigos e ela levava sem problema algum. Ao longo do tempo mais pessoas foram pedindo carona e ela começou a cobrar. Era engraçado porque todos gostavam de ir na parte de trás da caminhonete mesmo sem banco e a gente ficava deitado.”

Em uma de suas vezes do rodízio, em uma sexta-feira de carnaval, Nascimento Filho parecia esperar algo: “A estrada é uma das mais perigosas no estado de Minas. É pouco iluminada, tem várias curvas fechadas, não é duplicada e muitos caminhões passam por ela. A famosa ‘BR dois meia dois’. A estrada estava muito cheia". No carro estavam ele, Léozão e o Bruno Lúcio, que moravam na capital. A viagem foi tranquila até o momento em que estavam chegando em Belho Horizonte.

Era um trecho muito sinuoso. Estava escuro já. Eram umas oito, oito e pouco e a estrada já estava um pouco mais cheia porque essa parte já pegava o trânsito urbano. Como era véspera de carnaval, já estava lotada. "O asfalto estava recém renovado. A divisão de faixas sequer existia, o que deixa ainda mais perigoso. Por ser uma via de mão única, em trechos de subida geralmente ficam duas pistas para que carros mais lentos possam ir pela direita e os mais rápidos pela esquerda. No sentido oposto havia uma única faixa", recorda o motorista.

Antes de entrar no anel rodoviário, havia uma grande fila de carros, mas e na sequencia que vem o momento dramático:  "Eu estava atento na pista até que vejo um farol alto vindo em nossa direção. Tudo estava acontecendo muito rápido. Quando eu percebo, o carro da minha frente faz uma manobra brusca e joga o carro para direita. Ele podia fazer isso, pois tinha acabado de ultrapassar o caminhão. Quando ele sai da minha frente, os dois faróis em sentido contrário estavam na minha frente, na minha faixa. O que eu faço? Não posso jogar para a direita porque ainda não ultrapassei o caminhão. Joguei para a contramão. Com isso o carro bate em toda a minha lateral".

Todos ficaram uns 10 segundos parados em choque. A cena estava horrível. A lateral da caminhonete estava destruída. Deu para ver que o outro carro era um fusca, apesar de ele estar acabado por causa da batida. Nascimento Filho não estava com o sentimento de culpa, mas de muita dúvida, quando escuta ao longe: "Você matou meu filho.”

 A sua sorte é que a delegacia rodoviária ficava há 200 metros de onde ocorreu o acidente. Em menos de cinco minutos, a polícia já havia chegado no local. Não demorou muito para que tudo se esclarecesse.

Chegando na delegacia, ele ficou apenas alguns minutos. O policial disse a ele que o homem que bateu na lateral de seu carro estava drogado. Quando perguntou sobre o filho morto, responderam que nem filho ele tinha. A sensação de alívio tomou conta de seu corpo ao deixar o estabelecimento.

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