Entre restaurantes e filmes, saiba o que fazer no dia 12 de maio
por
Helena Maluf
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09/05/2024 - 12h

No próximo domingo, dia 12 de maio, o mundo celebra o Dia das Mães, uma data especial para homenagear e reconhecer o amor e dedicação das mães em todo o mundo. A data não é apenas uma oportunidade de presentear com flores, cartões e presentes, mas também uma ocasião para passar tempo de qualidade com aquelas que desempenham um papel fundamental em nossas vidas. 

Para tornar esse dia ainda mais inesquecível, apresentamos algumas sugestões de filmes emocionantes e restaurantes aconchegantes para compartilhar momentos memoráveis com sua mãe.

O restaurante “Merenda da Cidade" é o ambiente perfeito para um almoço descontraído e acolhedor em família. Localizado na República, em São Paulo, ele é conhecido por sua culinária única que combina ingredientes locais frescos com técnicas de cozinha modernas. O cardápio é inspirado na gastronomia regional, mas com um toque de criatividade e inovação. Além da comida deliciosa, o restaurante se destaca pelo ambiente acolhedor e contemporânea. As paredes são decoradas com obras de artistas locais, criando uma atmosfera artística e cultural.

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Ambiente do restaurante “Merenda Da Cidade”. Foto: Instagram @merendadacidade 

Seguindo as raizes brasileiras, a franquia do filme “Minha mãe é uma peça” garante risadas e descontração para toda a família com a história de Dona Hermínia, uma mãe amorosa e engraçada, que busca representar a maioria das mães brasileiras. O filme estão disponível em plataformas de streaming como Netflix e Globoplay.

Se procura um ambiente mais animado, o restaurante “Petro Greek Taverna” localizado em Pinheiros, São Paulo, é vibrante e charmoso, com elementos decorativos e gastronomia que transportam os clientes diretamente para a Grécia. O cardápio apresenta pratos clássicos e deliciosos como moussaka, souvlaki, gyros, saladas frescas com queijo feta e azeitonas, além de uma variedade de frutos do mar preparados de maneira tradicional grega.

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Fachada do restaurante “Petros Greek Taverna”. Foto: Instagram @petrosgreektaverna

Coincidindo com a sugestão de restaurante, o filme "Mamma Mia!" que nos conta sobre relações familiares, especialmente a relação entre mãe e filha, se passa na Grécia. O musical é embalado pelas músicas do grupo ABBA, criando uma atmosfera divertida, leve e cheia de energias positivas - perfeito para o Dia das Mães.

Para celebrar o empoderamento feminino, o restaurante "Camélia Odòdò" é perfeito para esse dia. Localizado na Vila Madalena, São Paulo, o restaurante é o primeiro da chef Bela Gil, que comanda o restaurante sozinha. O cardápio segue a filosofia de alimentação saudável e consciente da mesma, e se destaca por sua abordagem inovadora e sustentável, com pratos elaborados a partir de ingredientes frescos, orgânicos e sazonais. Além disso, possui uma decoração que mescla elementos naturais, como madeira e plantas, proporcionando ao ambiente pequeno, uma atmosfera acolhedora e convidativa.

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Salão do restaurante "Camélia Odòdò". Foto: Ligia Skowronski/Veja SP.

Explorando ainda mais o empoderamento feminino que essa data especial celebra, o filme "Lingui" é essencial no seu itinerário. A história de uma mãe que luta para ajudar sua filha após descobrir que ela está grávida, dentro das pressões e expectativas sociais que as mulheres pretas enfrentam em sociedades conservadoras. Envolvente e provocativo, levanta questões importantes sobre a autonomia das mulheres, o papel da religião na sociedade e as complexidades das relações familiares.

Para as famílias que gostam de experiências fora do convencional, o restaurante experimental da Dengo, o Cabruca, localizado em Pinheiros, São Paulo, é um local fascinante. O ambiente é cuidadosamente projetado para envolver os clientes em uma jornada imersiva, combinando a arte da chocolateria com técnicas inovadoras de gastronomia. Além dessa experiência, o restaurante também oferece workshops e degustações, permitindo que os clientes conheçam mais sobre a origem e o processo de produção do chocolate Dengo.

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Restaurante “Cabruca” localizado na fábrica da Dengo. Foto: Instagram @cabrucarestaurante                                                              

Ainda para aqueles excêntricos e que gostam de se emocionar, o filme “Lado a lado” é perfeito para esse dia. O enredo conta a história de uma família em que a mãe estão lutando contra um câncer terminal, enquanto a nova namorada do pai, madrasta dos filhos, tenta se aproximar e encontrar seu lugar na família. É relatada uma jornada emocional que mostra o poder do amor e da união familiar diante das adversidades da vida.

 

Neste dia especial, seja qual for a forma escolhida para celebrar, o fundamental é expressar amor, gratidão e reconhecimento pela presença e dedicação o das mães em nossas vidas.

 

 

 

MET-Gala,76° edição do jantar teve como tema e inspiração o conto “O Jardim do Tempo”, de J.G Ballard
por
Gabriela Jacometto
Helena Maluf
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07/05/2024 - 12h

O famoso MET Gala aconteceu nesta segunda-feira (06/05), na primeira segunda do mês de maio, fazendo jus a tradição do evento. A edição de 2024, em sinergia com a exposição realizada anualmente no Anna Wintour Costume Center - Ala no The Metropolitan Museum of Art especialmente voltada para exposição de moda, sempre no tema do MET Gala - tem como tema deste ano “Belas Adormecidas: O despertar da Moda”. 

O tema é uma analogia sobre roupas frágeis e delicadas demais para serem usadas novamente. A exposição, assim como o tapete vermelho do MET, conta com peças da Loewe, patrocinadora do evento, Alexander McQueen, Dior e muito mais. E teve como co-anfitriões, Bad Bunny, Chris Hemsworth, Zendaya, Jennifer Lopez ao lado da diretora  e organizadora do evento: Anna Wintour. 

Já o tema dos figurinos faz alusão ao conto ‘O Jardim do Tempo’, do escritor inglês J.G Ballard. O conto reflete sobre a passagem do tempo e as mudanças que o mesmo carrega. O jardim envelhece rapidamente, as plantas crescem e morrem em um ritmo acelerado, tudo isso acompanhado das reflexões do narrador. 

O tapete vermelho do jantar, foi marcado por roupas florais e elementos botânicos, que remetem à natureza, além das interpretações de peças antigas de famosos designers e seus arquivos.  

Roupas que fazem metáfora com a passagem de tempo marcaram presença, como o vestido que a cantora Tyla utilizou, da marca Balmain, feito inteiramente de areia esculpida, acompanhado de uma bolsa no formato de ampulheta. 

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Foto: Getty Images

 

Um dos destaques da noite foi a presença de celebridades como Ariana Grande, Taylor Russell, entre outros, que deslumbraram com looks da marca Loewe, como mencionado antes, patrocinadora do evento. 

Com um vestido todo branco, a cantora Ariana Grande tirou o fôlego dos presentes ao passar pelo tapete. A peça foi feita sobre medida, com um corpete feito inteiro com madrepérolas.

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Foto: Getty Images

 

Novamente investindo no corpete, a Loewe produziu para a atriz Taylor Russell uma peça esculpida em madeira e pintada à mão.

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Foto: Marleen Moise//Getty Images

 

Outro ponto alto da noite foi a presença da atriz Zendaya, que brilhou com não uma, mas duas interpretações únicas do tema. Em seu primeiro look, ela usou um vestido azul royal e verde esmeralda, com ornamentos que pareciam inspirados em árvores frutíferas, uma criação de John Galliano, diretor criativo da marca Maison Margiela. 

 

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Foto: Jamie Mccarthy//Getty Images                                                                                                                                                                                                                    


Em seu segundo look, a atriz reapareceu com um vestido preto,  uma peça de 1996 da era Givenchy de John Galliano,  combinando com um chapéu da marca Alexander Mcqueen, que remete a um buquê inteiro de flores. 


 

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Foto: Theo Wargo//Getty Images

 

A cantora Lana del Rey também se destacou no retorno deslumbrante ao evento, após 5 anos ausente. Ela usou um custom-made da marca Alexander Mcqueen, inspirado em uma peça de archive da grife. O vestido em tule com detalhes que imitavam galhos espinhentos por toda a peça, e o mesmo tecido do vestido transpassado pelo rosto e cabeça.


 

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Lana Del Rey homenageando o icônico look da coleção de Alexander McQueen. Foto: Getty Images 
 

 

Prestigiando o Brasil, a atriz Bruna Marquezine fez sua estreia no tapete do evento. Usando um vestido longo branco da marca Tory Burch, com silhueta marcada e flores na barra retratando o tema.
 

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Foto: Getty Images 

 

O evento também foi marcado por uma performance artística da cantora Ariana Grande, que vestia Maison Margiela feito pelo designer atual da marca: John Galliano. Instalações interativas e discursos inspiradores que destacaram a importância da criatividade, e do poder da moda como uma forma de expressão e de contar histórias.
 

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Foto: Getty Images

 

Novo filme de Luca Guadagnino traz um trisal no mundo do tênis e já é sucesso de bilheteria
por
Beatriz Camargo de Oliveira
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03/05/2024 - 12h

O diretor Luca Guadagnino leva ao público o longa-metragem Challengers (Rivais, na tradução brasileira), lançado no Brasil na última quinta-feira (25). Tendo dirigido outros sucessos como “Me Chame Pelo Seu Nome” e “Até os Ossos”, Guadagnino dessa vez aborda o triângulo amoroso dos três tenistas Tashi Duncan (Zendaya), Art Donaldson (Mike Faist) e Patrick Zweig (Josh O'Connor). 

Na trama, a ex-prodígio Tashi Duncan era um dos nomes mais promissores do mundo do tênis, até sofrer uma lesão ainda em seu período de ascensão, que a impediria de voltar para as quadras. Ainda quando nova, ela conhece os aspirantes a tenistas Patrick Zweig e Art Donaldson, que futuramente torna-se marido de Duncan. 

Em uma história em que o passado alcança o presente, Tashi torna-se treinadora de Art, tornando-o vencedor de um Grand Slam – maior premiação do tênis –, mas após uma sequência de derrotas, a única estratégia que o casal encontra é uma partida contra Zweig, ex-amigo de Art e ex-namorado de Tashi. Envolta em polêmicas e tensões de seu passado e presente, Tashi Duncan encontra-se em meio a antigas rivalidades e um trisal dentro desse romance esportivo.

O filme vem sendo um sucesso, tanto pela crítica quanto pelo público, já tendo arrecadado 2,6 milhões de dólares  mundialmente até o dia 26 de abril. Contando com um elenco de peso, Challengers é protagonizado por Mike Faist (“Amor Sublime Amor”), Josh O'Connor (“The Crown”, “Peaky Blinders”) e Zendaya (“Euphoria”, “Duna”), que também leva o título de produtora do filme.

Da esquerda para direita: Josh O'Connor, Luca Guadagnino, Zendaya e Mike Faist. Imagem: Getty Images
Da esquerda para direita: Josh O'Connor, Luca Guadagnino, Zendaya, Mike Faist. Imagem: Getty Images

Com performances envolventes e surpreendentes, Challengers nos faz simpatizar com personagens que possuem algumas das atitudes mais questionáveis e até mesmo torcer pelo seu sucesso. Mostrando o passado e presente de um relacionamento turbulento entre as personagens principais, a trama aborda os percalços do mundo esportivo e expande o conceito de competitividade e estratégia para fora das quadras. 

Em uma trilha sonora que conta com produções originais de Atticus Ross e Trent Reznor, além de músicas de outros artistas, como é o caso de “Pecado” de Caetano Veloso, o filme nos deixa ansiosos e na ponta da cadeira aguardando as mais inesperadas decisões dos personagens, deixando o público de queixo caído com cenas inesperadas e instigantes. Dentro de quadra, tudo passa a envolver todas as intimidades vividas fora do campo pelos tenistas.

Guadagnino faz o uso do tênis como ferramenta de expressão dos sentimentos e as dinâmicas dos relacionamentos dos personagens ilustram as obsessões e os desejos e, junto da instigante trilha sonora, leva o público a perceber os diferentes olhares, etapas e situações das vidas envolvidas na história. Tudo torna-se “um jogo” e toda raquetada na bola é reflexo das ações fora de quadra onde a partida se mescla com as conversas entre as personagens.

A partir de um final um tanto quanto inconclusivo, Challengers é uma obra que aborda originalmente toda essa competição – dentro e fora das quadras, as paixões – platônicas ou não – e traz toda uma nova euforia para aqueles que, até então, não se interessavam pelo mundo do tênis.

Imagem: Niko Tavernise/MGM
Imagem: Niko Tavernise/MGM

 

No penúltimo dia de desfiles, a marca paulistana apresentou sua nova coleção com a presença das veteranas Yasmin Brunet e Vitória Strada, e do estreante Pedro Novaes, no Shopping JK Iguatemi.
por
Giovanna Montanhan
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29/04/2024 - 12h

lA noite de sábado, 13 de abril, foi marcada por visuais que vislumbravam a ideia de futuro que a Forca Studio desejou transmitir, e já na abertura tivemos a atriz e modelo Vitória Strada com um drone ao seu lado. O desfile foi marcado por três blocos: Office - com foco em peças corporativas, de alfaiataria; Sport - uma colaboração com a marca esportiva italiana Kappa, com a presença de camisas de time, bonés e chuteiras, totalmente focada no streetwear; e Noite - com roupas festivas, de paetês e peças de couro. Cada uma dessas fases era acompanhada de um pequeno vídeo antes dos modelos entrarem na passarela. 

A marca nasceu em 2022, oriunda da amizade da estilista Vivi Rivaben e do DJ Silvio de Marchi, conhecido por agitar as noites paulistanas. O nome surgiu dos próprios criadores como uma forma de retratar as minorias da sociedade. Para a revista L’Officiel, eles disseram ‘’sempre fomos mandados para a forca por ser quem somos. Decidimos tomar e virar essa forca para o outro lado.” 

O ator Pedro Novaes, filho dos atores Letícia Spiller e Marcello Novaes, fez sua estreia na passarela da SPFW, e contou para o portal Elas no Tapete Vermelho, que sempre teve vontade de modelar, mas tinha a sensação que nunca era o momento ideal, e que naquele dia, conseguia se sentir preparado para o novo ofício, não só fisicamente como também mentalmente. A atriz, modelo e ex-BBB, Yasmin Brunet, retornou após 12 anos fora desse universo, e disse que apesar de sua vasta experiência, ficou nervosa. Sua mãe, também modelo, Luiza Brunet, já lhe deu diversos conselhos, como beber água e descansar bastante, e ela revela que não segue-os à risca da maneira como deveria! Já, Vitória Strada, estava há oito anos fora, mas ainda sim, mantinha uma boa relação com a marca, então, quando surgiu o convite, não pensou duas vezes. 

 

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Reprodução: @agfotosite

 

 

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Reprodução:AgNews

 

 

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Reprodução: Agnews

A principal proposta da grife foi evocar uma ideia de como eles imaginam que será o futuro. Além do drone, teve também a inclusão de um cão-robô que desfilou junto de um modelo. E pode parecer apenas uma excentricidade passageira, mas na verdade, foi uma simulação de um lembrete perturbador do que realmente está em jogo. Será que, no futuro, veremos os animais, de uma maneira geral, sendo substituídos por máquinas? Se sim, que tipo de mundo estamos construindo? Um onde a natureza é reduzida a uma mera conveniência tecnológica? E a realidade não está tão distante; temas que o evento não tratou neste ano.

 

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Reprodução: Divulgação SPFW. 

E quanto aos seres humanos? Será que estamos caminhando para um cenário digno de "Metropolis" (filme de 1927, dirigido pelo cineasta alemão Fritz Lang), onde os seres humanos são subjugados ao papel de servos de uma tecnologia dominante? A moda está intrinsecamente ligada aos valores e as aspirações de uma sociedade, podendo, por vezes, acidentalmente, apresentar uma visão de um futuro distópico. No entanto, a realidade é que essa visão pode se concretizar em um amanhã que mora logo ali. E por fim, pode-se dizer que nem mesmo a mais eficiente das ciganas seria capaz de desvendar o curso dos acontecimentos da contemporaneidade.

 

Faz falta falar do que não vira pauta
por
João Curi
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17/04/2024 - 12h

É confortável escrever sobre o que já conhece. Mas o jornalismo não precisa ser confortável. Na verdade, não deve. A imprensa não sobreviveu a ferro nos anos de chumbo sendo confortável - ainda que também exista esse papel. É preciso renovar os votos de Gutemberg, lá do século XV, e levar a notícia às mãos de quem ainda não a tem nos ouvidos. Não tomem como exemplo a mecanização, justamente para não cair na esteira das máquinas. Você não é uma.

 

Nem eu. Por isso este texto. É cansativo enxergar tantos sonhadores desistindo de si ainda no começo da caminhada. Existe todo um sistema envolvido nessa mentalidade, de fato, mas não precisamos fugir. Não daqui. O jornalismo não é válvula de escape, é o motor do carro. É a imprensa que aciona o povo às pautas que não chegaram a ele. Então por que se prender ao que já aparece?

 

Claro que é justo cobrir o que já tem cobertura, até porque o ineditismo é privilégio de poucos. Mas não dá pra ignorar o que já é ignorado. Se não, a quem estaremos servindo a notícia? E o quê? Pense num restaurante que serve o mesmo menu todos os dias, e tudo que varia é o preço. É confortável, é conhecido, e se continua aberto é porque funciona, é verdade. Só não precisa ser o único restaurante aberto. 

 

Ouça as vozes que não têm ouvidos, nem que seja para uma aspa de duas linhas ou uma. Busque a informação na fonte. Deixa o sofá esfriar. Abra os ouvidos, desacostume os olhos. Você vai enxergar tudo diferente. Às vezes, a pauta nasce com um rosto e envelhece com outro

 

Permita-se surpreender, perguntar o que ainda não foi respondido porque ninguém perguntou. Tem muita história pra pouco contador. Não precisa colher todas de uma vez. E nem escrever tudo pra todos. 

 

Um texto às vezes é para uma pessoa só. Não parece, mas é permitido. A regra é não deixar falhar a caneta. A tinta precisa aparecer por completo, sem deixar dúvida. Fato por fato, olho no olho, queixo erguido e nariz deitado. Nada é grande demais que não caiba na ponta de uma caneta. 

 

Inclusive, nenhum sonho é grande demais. Pode ser que o resultado não alcance as proporções que se almejava, mas isso não cabe a um. A diferença se faz no coletivo, na pluralidade de um povo que não se homogeniza e faz acender a individualidade de cada célula que mantém o corpo vivo.

 

O mundo não precisa de mais profissionais quadrados, condicionados à fórmula do um mais um iguala em dois. A Terra vai continuar girando, com ou sem a gente. O que vale aqui é o que fizer o seu mundo girar. O que te acender os olhos. O que fizer a sua caneta dançar na mão. Escrever sem amarras, sem precisar seguir um padrão que não te cabe e não tem que fazer caber. Peça que não encaixa não completa quebra-cabeça. 

 

E a nossa cabeça está em formação, faminta por oportunidades de crescer, de alcançar, de realizar, de ser o que tanto projetava com a cabeça sobre o travesseiro. Nosso teto é mais alto do que parece. A gente é mais do que um peão de notícias.

 

A gente é um coletivo de vozes. Então façam-se ouvir. Doa a quem doer. Demore o que demorar. Escrevam sobre o que quiserem, e porque querem. Aproveitem. Não existem tantos lugares com esta oportunidade. A gente só é a gente porque você compõe este plural. 

 

Por isso, faz um favor? Não esquece do que está na sua frente. Se for a sua vontade cobrir o que já tem cobertura, faça isso, mas faça do seu jeito. Dê motivo para o seu nome estampar a matéria. Torne-a sua, reclame-a ao seu gosto. Mas faça. Produza. Não deixe pra outra pessoa escrever. 

 

Se não a gente, quem? 

Resenha do livro Infocracia, de Byung-Chul Han expõe falsa liberdade e vigilância nas redes sociais
por
Catarina Pace
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13/11/2023 - 12h

Lançado em 2022, o livro Infocracia analisa as relações sociais e democráticas da era da tecnologia. Byung-Chul Han une em sua obra aspectos da política digital, da sociedade e da maneira em que a própria informação é manipulada nesse momento. Em cinco partes, o autor consegue analisar e descrever as questões em torno de cada situação em que as redes sociais e a tecnologia incidem na liberdade e na capacidade de gerir informações. “O sujeito submisso do regime de informação não é nem dócil, nem obediente. Ao contrário, supõe-se livre, autêntico e criativo. Produz-se e se performa”, enfatiza o autor. No primeiro capítulo, Han faz uma análise profunda da maneira como a sociedade começou a lidar com a liberdade. O mundo sempre viveu momentos de lutas constantes por liberdade, e finalmente na era da internet, ele “alcançou”. Pelo menos, é o que se parece. 

Mas, a liberdade que as redes sociais costumam propagar faz parte de um modelo diferente. O autor compara o regime de informação com o regime disciplinar de Foucault, em que a sociedade não teria liberdade de se livrar da vigia. Mas, na sociedade da informação essa vigilância se desfaz em redes abertas, ou seja, nas redes sociais. A visibilidade é produzida então, pela conexão e não mais pelo isolamento. 

A tecnologia funciona através de bases de dados, assim como as redes sociais, o que se torna uma grande ironia. A sensação de liberdade que se tem ao usar a internet, gera dados e só aumenta mais a vigilância. “Nos regimes de informação, as pessoas não se sentem, além disso, vigiadas, mas livres. Paradoxalmente, é o sentimento de liberdade que assegura a dominação. [...] A dominação se faz no momento em que liberdade e vigilância coincidem.”

Os influenciadores são hoje, o maior exemplo dessa dominação digital que Han frisa. Eles são adorados, tem fãs como se fossem donos de verdades e de identidades que todos gostariam de ter. A autenticidade no capitalismo moderno não existe mais. Todos querem ter a roupa de fulano, o mesmo cabelo de ciclano e a vida de beltrano, mas ainda sim, acreditam que isso é liberdade. Outra questão que pode ser relacionada com essa análise é a das recompensas digitais. Os usuários das redes anseiam por recompensas e por isso continuam alimentando sua necessidade. Por exemplo, quando uma foto é publicada no Instagram o usuário costuma receber likes por ela e assim, continua publicando para receber cada vez mais likes e seguidores. Mas por que esse tipo de recompensa só funciona na vida digital?

É simples. Ninguém é 100% verdadeiro no ambiente digital, os usuários mostram o que querem que seus seguidores vejam e achem que são na vida real. E talvez por decepção ou por não querer se decepcionar, criam a vida “perfeita” em um ambiente que não é nada verdadeiro. E assim, criam uma era do egoísmo, do ego inflado e da individualidade. No capítulo “O fim da ação comunicativa”, Han ainda problematiza essa questão da autopropaganda. “Levam igualmente a perda de empatia. Hoje, cada um presta homenagem ao culto de si mesmo. Cada um performa e se produz”. Ele usa o termo “tribos digitais”, para caracterizar esses grupos que criam uma falsa noção de identidade e liberdade e os espalham nas redes. 

Mas tudo isso está atrelado a facilidade de criar e de espalhar as informações. Há uma crise da verdade quando toda e qualquer informação pode ser divulgada e assim, hoje, ela já chega nas pessoas com o pré conceito de desconfiança fundamental, termo que Han usa para explicar. 

E não dá para esquecer que a crise da verdade é uma crise da sociedade. Ela gera diversos conflitos em uma democracia e acaba impedindo que seja feita da maneira correta e como tudo no cenário atual, se torna uma mercadoria. Como o autor explica, estamos presos em uma caverna digital, com muitas informações, mas sem verdade ou interpretação do que acontece. Tudo vira fútil no mundo digital e o que foi criado para facilitar e conectar pessoas, está individualizando e separando-as. Parece que na internet não há mais tempo para conversas sinceras ou exposições de verdades nuas e cruas. Quem se mostra realmente, é martirizado, leva uma enxurrada de comentários negativos que são frutos da toxicidade cultivada nos ambientes virtuais. 

Isso deixa cada vez mais claro que a sociedade virtual quer continuar mantendo a mentira, a falsa vida e a falsa felicidade, porque se não existe na vida real, pode ser forjada em um ambiente que aceita esse tipo de “falsa liberdade”. Mas talvez, ainda falte pouco tempo para que as pessoas percebam que a liberdade das redes não é real, ela se esconde atrás de dados e informações roubadas de cada usuário e cada personalidade, que acaba sendo perdida no mundo real. 

As novas tecnologias de informação vem sendo usadas pelo capitalismo moderno de uma maneira que ameaça as sociedades democráticas
por
Felipe Abel Horowicz Pjevac
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13/11/2023 - 12h

A digitalização cada vez mais intensa vivida nos dias atuais está presente em todas as esferas da vida e ajudou a inaugurar o capitalismo da informação, uma nova era em que são usados algoritmos por grandes empresas e companhias através de bases de dados; o importante é trabalhar através dos conceitos de informação. Essa interferência digital, que no início era tratada por muitos como algo meramente restrito ao ambiente virtual, tomou proporções enormes e atualmente já atinge o mundo off-line com consequências perigosas na política e nos processos de relacionamento dentro de uma sociedade.

No livro ‘Infocracia: Digitalização e a Crise da Democracia’ (Ed. Vozes, 2022), o autor e filósofo sul-coreano Byung-Chul Han traz como tema central a tese de que a maioria dos aspectos da digitalização vivida nos tempos de hoje ao redor do mundo ameaçam em muito as democracias como sistema político dominante no planeta. Han estudou Filosofia na Universidade de Friburgo e Teologia em Munique e escreveu diversas obras a respeito das relações entre as sociedades contemporâneas e o trabalho, as novas tecnologias, as dinâmicas sociais e o poder na era da pós-modernidade.

Percebe-se que o autor trata a questão da imersão digital relacionada aos problemas do sistema capitalista com uma visão extremamente pessimista e negativa. Inclusive, Han traz argumentos para rebater autores que encaram o tema com mais positividade, com teses como a de que a acessibilidade à internet pode conectar os cidadãos globais em favor de uma sociedade mais unida e eficiente.

O autor diz que tanto o conceito de inserção global quanto a imaginada formação de um coletivo consciente não passam de uma ilusão dos sonhadores. Na realidade, o que mais se enxergaria é a divisão de usuários em ‘enxames digitais’ que se comportam de maneiras radicais e promovem a organização de grupos em bolhas, quase impossibilitando o cruzamento de informações e opiniões distintas.

Quando essas informações de fato são apresentadas a grupos virtuais fechados, elas são rapidamente rebatidas com narrativas decoradas ou são simplesmente ignoradas. Isso se dá devido ao domínio da subjetividade na digitalização: fake news, chamadas sensacionalistas e frases ou falas retiradas de contexto motivam essa ruptura de um determinado grupo com uma grande parcela da sociedade que está ‘do outro lado’.

Esse comportamento é facilmente enxergado nos dias de hoje em grupos de Facebook ou WhatsApp, especialmente em épocas turbulentas da sociedade como períodos eleitorais ou debates sobre novas leis. Nos comentários de notícias, reportagens e até mesmo colunas opinativas, o que se vê são comentários odiosos, falácias repetidas quase que de maneira robótica e muito pouco de fato acrescentado ao debate. Outro ponto de crítica do autor é em relação a propagação de conteúdos cada vez mais rápidos e fragmentados; a atenção é dispersa e o foco é retirado por uma quantidade imensa de informações que chegam de todos os lados sem serem desenvolvidas da maneira adequada; o cérebro humano se habilita a receber muito conteúdo, mas não a interpretá-lo e parar para entendê-lo. A paciência de ler sobre algum determinado assunto por mais de um minuto já não se faz presente.

Esse fato é facilmente exemplificado pela ascensão do TikTok, aplicativo de vídeos curtos e sucintos que, muitas vezes, tenta resumir um assunto extremamente complexo a uma opinião de minutos ou até mesmo segundos. Filmes também são recortados e exibidos em forma de trechos no aplicativo, e o usuário sente que sabe de tudo quando, na verdade, não sabe muito sobre nada. O autor compara a época atual com as críticas feitas na época do domínio da televisão. Han reforça que, apesar da TV criar conflitos midiáticos e resumir muitos assuntos complexos a exposições visuais, ela não produzia notícias ou discursos confusos e falsos e não exercia tantas técnicas de dominação do espectador.

A grande manobra dos produtores e coletores digitais é passar uma falsa sensação de liberdade ao usuário, que se parar para se atentar vai perceber que não consegue mais sobreviver sem esse ciclo de informações e interações digitais. ‘Infocracia: Digitalização e a Crise da Democracia’ traz um alerta forte sobre as possibilidades bem perigosas que a digitalização e a imersão virtual da maneira que estão sendo feitas podem trazer para a humanidade em futuros a curto, médio e longo prazo. Muitas das estruturas que sustentam a base do sistema democrático podem estar em xeque com essa supervalorização do capitalismo de informação; os usuários devem tomar cuidado com o conteúdo que acessam, compartilham e replicam nas redes, além de buscar se informar e debater por outras plataformas e em bolhas diferentes da sua.

por
Felipe Bragagnolo Barbosa
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13/11/2023 - 12h

O livro “Infocracia: Digitalização e a crise da democracia” foi escrito por Byung-Chul Han em 2022 (Ed. Vozes), o livro complementa outra obra do ator, “sociedade do cansaço”. Em ambos os livros, o ensaísta analisa a digitalização que vivemos hoje, sendo ela uma ameaça para a democracia, o principal argumento desenvolvido é de que esta digitalização rápida e cada vez mais intensa estaria criando diversas novidades, entre elas a nova era do capitalismo, o capitalismo da informação e da vigilância. Comparado à obra de Pierre Lévy, em que prega o aprimoramento da democracia pela pela inteligência coletiva, pois os feedbacks seriam imediatos e a melhorariam o coletivo, Han é pessimista, diz que seria uma grande ilusão, já que a internet potencializa fanáticos, abrindo a própria cultura do cancelamento atual, e como as redes levaram extremismos novamente, como por exemplo nas eleições argentinas de 2023, esses fanáticos seriam como gados de representantes políticos, sem poder de decisão e de discernimento, transformando grupos desses fanáticos em bolhas.

Han vence o “debate” com Levy sobre esta questão, pois o francês idealiza uma realidade utópica, diferente do sul-coreano .Ele também  argumenta e traz a obra a obsessão pelo entretenimento na sociedade atual e como nos tornamos escravos das telas, vivendo em uma própria teatrocracia, isso abrange e aproxima a outras obras, como “1984” de George Orwell. O autor nos instiga com a questão de sermos observados e vigiados a todo momento nas redes, e de como isso a afeta por fora, no offline, destacando eleições e manipulações políticas, usou Donald Trump, “o presidente tuiteiro”  como exemplo a essa sociedade da informação. A grande busca por informações rápidas transforma a sociedade imediatista, e a fragmenta com o excesso de informações, e nesse meio as fake news ganham força, já que o discernimento não é influenciado, além de que estas notícias falsas podem ser confortantes para certas bolhas políticas, não existindo a busca pela verdade exata, apenas para a “sua” verdade, com sensacionalismo e distorções, as verdadeiras e sem grandiosidades sensacionalistas são renegadas.

Estas bolhas muitas vezes são controladas pelos próprios mentirosos, em que divulgam essas mentiras e teorias da conspiração, estes grupos criam identidades para quem as participa, como por exemplo o bolsonarismo, sair dessas bolhas machuca, pois o pertencimento e a afirmação constante é confortante, por isso para a maioria não faz sentido buscar a verdade.  O autor sul-coreano acerta ao mostrar a forma em que a sociedade está sendo conduzida, de forma passiva e sem perceber, e também ao citar a embriaguez por informações, principalmente as que não nos afetam mais, por serem tão frequentes. Sobre a vigilância e dados da população, o filósofo mantém sua coerência, porém explora áreas parecidas com de outras obras literárias, um buraco que poderia ser preenchido.  
Han cita e concorda com Orwell, autor de "1984", na questão das teletelas e controle da sociedade, mas discorda de ser de um “grande irmão”, deixando mais em questão das grandes corporações nos controlarem, sendo que o estado tem um poder muito forte em sua sociedade, ele determina de forma mais extrema de que será desta sociedade, sendo o governo um grande potencializador do controle de informação, como no livro distópico.
 
Para um contraponto a essas ideias, recomendamos os livros do já citado Pierre Lévy, sendo eles: “cibercultura”, “ciberdemocracia” e “o que é o virtual?”. Mas para quem quer entrar mais afundo sobre o que Han diz, recomendamos “sociedade do cansaço” e “psicopolitica: neoliberalismo e as novas técnicas de poder”. O autor é filósofo e ensaísta sul-coreano, tem como destaque os livros: “Sociedade do Cansaço” e “Agonia do Eros”. O coreano também é professor da Universidade de Artes de Berlim, o filósofo se inspira em Michael Foucalt. Ele se formou na Universidade de Freiburg em filosofia e em teologia na Universidade de Munique. 
  

A necessidade de se retomar a presença e a conexão com o mundo real
por
Giovanna Montanhan
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09/11/2023 - 12h

O livro ‘’Como Sair das Bolhas?’’ de Pollyana Ferrari começa sendo apresentado por Martha Gabriel, formada em Engenharia Civil pela Unicamp, pós-graduada em Comunicação de Marketing pela ESPM-SP e professora de pós-graduação na PUC-SP do TIDD (Tecnologias da Inteligência e Design Digital). Ela inicia falando sobre o ser humano e sua relação com a tecnologia, e, lista os desafios que implicam a velocidade com que se propaga as informações. Além, de introduzir os conceitos de fake news e pós-verdade. O prefácio é feito por Lúcia Santaella, formada em Letras Português/Inglês, professora titular no programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, que aborda sobre como somos invadidos diariamente por notícias e informações falsas através das redes sociais, como por exemplo, o Facebook. Para embasar a sua análise, cita alguns teóricos, sendo um deles Sigmund Freud quando fala sobre a bondade inata do homem e que isso parece até uma miragem nos dias de hoje. Atribui a notabilidade da expressão pós-verdade após a vitória de Donald Trump na eleição americana de 2016 e do plebiscito do Brexit, no Reino Unido, no mesmo ano.   

Além disso, menciona os três fatores que fomentam a indústria de fake news - que são, respectivamente: o ambiente de alta polarização política, a descentralização da informação pelos meios de comunicação independentes e o ceticismo generalizado entre as pessoas em relação às instituições democráticas, com os principais alvos sendo os governos, partidos e veículos de mídia tradicional. Santaella classifica esta obra de Ferrari como ‘’um verdadeiro manifesto contra a leviandade ingênua ou deliberada das crenças e dos compartilhamentos às cegas.’’  

O manuscrito possui doze capítulos, no total, e a cada seção, a autora escolheu colocar uma frase ou um excerto dito por um escritor, com exceção do primeiro.  Pollyana abre o livro contando um pouco sobre sua vida pessoal e compartilha sua visão espiritual com os leitores, cita o poder da meditação e destaca a importância de se viver o presente. No mundo agitado em que vivemos, muitas vezes nos encontramos escravizados pela correria diária e pela dependência dos nossos dispositivos móveis. Isso nos leva a realizar múltiplas tarefas simultaneamente, resultando na perda da conexão conosco mesmos e no esquecimento de apreciar o momento presente e a profundidade do silêncio.   

Ela explica, também, que vivemos em uma bolha, e isso significa que, às vezes, não percebemos que estamos dentro dela, portanto, não buscamos formas de sair. É algo que já se tornou intrínseco e automatizado em nós, mas basta repararmos se só frequentamos os mesmos estabelecimentos, se só ouvimos o mesmo gênero musical, entre outros comportamentos limitadores, que devemos evitar ceder à zona de conforto imposta por essas ‘'bolhas’’.  A escritora relata que este livro foi feito a partir dos oito passos do Shastra Abhidharma Mahavibhasha em mente, e enfatiza a influência dos ensinamentos de Buda e da filosofia védica para a construção desta obra.   

Aponta as ferramentas necessárias para identificarmos se a notícia é falsa ou verdadeira, apresenta algumas agências de fact-checking (checagem de fatos) como a Lupa, a primeira no Brasil, uma empresa privada patrocinada pelo Instituto Moreira Salles. Aos Fatos, que teve seu surgimento por meio de investimento próprio dos fundadores, sendo suas três fontes de financiamento: as parcerias editoriais, as contribuições da iniciativa privada e de organizações da sociedade civil e apoio de leitores e de financiamento coletivo (crowdfunding). Preto no Branco, primeiro blog de checagem de fatos do Brasil, criado com o objetivo de testar o grau de veracidade dos políticos durante as campanhas eleitorais, possui classificação própria para dar suas notícias e usa termos como: falso, ainda é cedo para dizer, insustentável, verdadeiro, mas…; contraditório e exagerado. Chequeado, site pioneiro da América Latina dedicado à verificação do discurso, está entre as dez primeiras organizações do mundo, é comandado por uma jornalista, advogada e professora chamada Laura Zommer, especializada em direito à informação pública, e mantém-se com um plano de negócios diversificado, obtém sua fonte de renda por meio de indicações de particulares, colaborações com empresas na realização de eventos e parcerias internacionais.  

A autora cita o Instituto Poynter, líder mundial em jornalismo, e o código elaborado por eles a ser compartilhado por meio da Rede Internacional de Fact-Checking (IFCN), que vem sendo adotado por diversos veículos e contém cinco itens, que são: 1) Compromisso de apartidarismo e equidade, 2) Compromisso pela transparência das fontes, 3) Compromisso pela transparência de financiamento e organização, 4) Compromisso com transparência de métodos, 5) Compromisso com correções francas e amplas. Este código é usado desde 2017 pelo Facebook para filtrar informações. Ademais, a rede social incluiu o item fake news no menu para denúncias.  

Ao longo de sua reflexão, Ferrari explora algumas concepções para abordar a questão da credibilidade das informações publicadas. Ela sugere que, com a volta dos jornais por meio de assinaturas, os leitores passarão a valorizar mais a veracidade das notícias e procurarão fontes que ofereçam serviços de checagem. Ela observa, também, que as notícias falsas se espalham de forma rápida devido à intervenção dos algoritmos e dos bots (robôs). Além do mais, Ferrari aponta que os jornalistas também têm uma parcela de responsabilidade na disseminação das notícias falsas, já que na busca pela primazia na divulgação das informações, a devida apuração dos fatos muitas vezes é negligenciada, resultando em possíveis notícias que não são verdadeiras por completo.   

Declara, que a tecnologia não é a vilã da história, basta sabermos como utilizá-la da melhor forma possível, usufruindo de todas as ferramentas que ela nos oferece, para assim, domá-la ao nosso favor. Visto que, até mesmo os empresários e CEOs das grandes empresas de big techs da Califórnia não matriculam seus filhos em escolas que têm acesso livre a internet, muito pelo contrário, suas escolhas são pautadas nas que proíbem o porte e o acesso a dispositivos eletrônicos.   

Por fim, nos propõe refletir quanto a dependência que a sociedade adquiriu em ser aceita a todo custo, um exemplo disso, é a foto lotada de filtros e efeitos que são capazes de nos transformar em outra pessoa - o famoso efeito degradante do ‘’Photoshop’’.   

Para fundamentar a sua análise, referencia o filósofo polonês Zygmunt Bauman, quando aborda a questão de que vivemos em uma sociedade onde tudo é efêmero, o que sobrecarrega nosso cérebro diante da avalanche de conteúdo a que somos expostos a cada minuto por meio de nossos dispositivos.  Contudo, não podemos embasar a nossa felicidade em coisas que não fazem parte da nossa realidade e em padrões inalcançáveis.   

A partir do avanço da informação e do estímulo que desenvolvemos para recebermos novidades a cada segundo, nos tornamos ‘’reféns’’ dessa sociedade capitalista de consumo, e sempre quando compramos algo novo, imediatamente já estamos desejando o próximo item.   O fato é que nos tornamos seres insaciáveis.   

 

 

Como a tecnologia impacta no modo de organização e comportamento da sociedade
por
Isabelle Maieru
Jalile Elias
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07/11/2023 - 12h

A digitalização do mundo pode ser explicada por uma sequência de fatores que conectam a comunicação no meio virtual com as formas democráticas impostas pelos algoritmos da era digital. Em seu livro Infocracia: digitalização e a crise da democracia, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han explica a transformação do “regime disciplinar”, que tratava-se da exploração de corpos e energias e assume uma forma maquinal, em “regime de informação”, na qual o controle incide sobre informações e dados. Segundo Han, o poder não é mais decorrente dos meios de produção, mas do acesso à informação: “acesso a dados utilizados para vigilância, controle e prognóstico de comportamento psicopolíticos”.

O smartphone é a principal arma da dominação do regime de informação, ocultada na medida em que se funde com o cotidiano. Simples ações do dia a dia como acionar um comando para assistente virtual, acessar um aplicativo inteligente ou até mesmo fazer uma publicação em uma mídia social são exemplos que evidenciam a existência de um regime dominante exercido pelo capitalismo da informação. A criação do like, por exemplo, nas redes sociais é justamente uma técnica do poder do regime de informação. Essa sensação de receber curtidas em publicações funcionam como “estímulos positivos” controladores de comportamento que exploram a liberdade dos usuários. Quem nunca viu uma pessoa que faz literalmente de tudo, muitas vezes de forma inconsciente, para conseguir milhares de likes nas redes sociais? Para Han, “no regime da informação, ser livre não significa agir, mas clicar, curtir e postar”.

E nessa onda de estímulos positivos que entra o papel dos influenciadores digitais nos dias de hoje. Seja no YouTube ou Instagram, seja influenciador fitness, de beleza ou de viagem, é feita uma auto-encenação com produtos enviados por marcas com o intuito de formar um exército de followers, os seguidores, que passam a se comportar de acordo com uma vida baseada em um cotidiano encenado. Byung-Chul Han entende que os influencers são adorados como modelos. Os produtos de consumo se transformam em objetos de autorrealização e a identidade funciona como uma mercadoria. Quem nunca comprou ou chegou perto de comprar um produto simplesmente por status? A Apple é um exemplo disso. Nos últimos anos, as próprias crianças cresceram com a ideia de que ter um iPhone era a solução para popularidade e aceitação em uma sociedade capitalista. Ter um dispositivo com a famosa maçã se transformou em um dos principais símbolos de status do mundo atual. Para o autor de “Infocracia”, toda mudança decisiva de mídia produz um novo regime, já que “mídia é dominação”.

Além disso, há também o entendimento de que o mundo se tornou uma sociedade paliativa, em que desejos e necessidades são automaticamente satisfeitos. Nesta realidade, os novos meios de dominação são baseados no entretenimento, no divertimento e, sem sombra de dúvidas, no consumo. Tendo o smartphone como meio de submissão, as pessoas não só consomem, como também produzem informações, rendendo-se à chamada embriaguez de comunicação. Han acredita que na era das mídias digitais, “a esfera pública discursiva não é ameaçada por formatos de entretenimento nas mídias de massa, não pelo infoentretenimento, mas sobretudo pela propagação e proliferação viral de informações, a saber, pela infodemia”.

Exatamente nesta realidade de “guerra de informações”, a verdade acaba se desintegrando em meio à instabilidade temporal, o curto-prazo em que as informações circulam -- o que não traz nenhum benefício à democracia. A racionalidade é outro ponto importante. Na sociedade da informação, não há tempo para a ação racional, logo, informações com maior potencial de estimular acabam sobressaindo diante das que apresentam melhores argumentos. Atualmente, o X, antigo Twitter, é a principal rede social em que as fake news, notícias falsas, recebem mais atenção e engajamento do que artigos fundamentados. Quem nunca caiu em uma fake news pelo alto número de curtidas e compartilhamentos de uma publicação?

A própria acessibilidade simples à internet atua como um facilitador da propagação de notícias falsas, visto que, com pouco esforço e sem custos, praticamente qualquer pessoa pode criar uma conta no X ou um canal no YouTube -- diferentemente da era das mídias de massa, em que para produzir uma informação eram necessários diversos recursos e, consequentemente, maiores investimentos. O filósofo também acredita que a comunicação baseada nos famosos memes como contaminação viral “dificulta o discurso racional ao mobilizar, mais do que nada, afetos”. Isso pode ser explicado pela preferência dos usuários por conteúdos visuais ao invés de textuais nas mídias, à medida em que imagens são mais rápidas que textos, mas sequer argumentam ou fundamentam.

Han explica que essa propagação viral de informações, que busca engajamento e não argumentação, prejudica o processo democrático, visto que fundamentações não cabem em memes e tuites que circulam rapidamente. É possível afirmar, portanto, que a digitalização do mundo criou um fenômeno considerado praticamente irreversível: a verdade foi ultrapassada num piscar de olhos pelas informações.