Em uma estreita viela de paralelepípedo, um portão verde de pouco mais de dois metros de altura anuncia: Vizinhança Solidária. As grades podem intimidar, mas ao se aproximar, uma simplicidade colorida irradia. No centro do bairro de Perdizes em São Paulo, o meio quarteirão formado por duas ruas resiste a verticalização e encanta com sua calmaria, destoante da ideia de cidade grande.
Com nome de antropólogo, Curt Nimuendaju é a porta de entrada para a dezena de sobrados do local. Maria Dolores, moradora há 50 anos na rua é um exemplo do alegre ambiente, marcado por cores e vegetação. Mais adiante temos a rua Manuel Gonçalves Foz, onde a jornada histórica continua. De dentro das grades a atmosfera é outra, confirmando que a organização do local não é uma forma de exclusão ou intimidação, mas de proteção do delicado ecossistema construído, ameaçado pelos empreendimentos ao seu redor.
Segundo levantamento realizado pelo instituto de pesquisas e inovação da Lello Condomínios, Data Lello, São Paulo entregará em 2024 cerca de 150 mil novos apartamentos, e Perdizes está entre as regiões com maior concentração deles. De dentro do subterfúgio mesmo, o olhar cruza com as entranhas de torres que tiram um pouco da luz natural do local, mas sem apagar o seu brilho. Ali se preserva a memória afetiva de pessoas e as várias histórias das distintas paredes, longe dos olhos daqueles que não conseguem ver além da jaula.