Trump enfrenta rejeição histórica em seu segundo mandato

Entenda a ascensão e queda rápida do Governo Trump
por
Manuela Schenk Scussiato
Gabriela Blanco
|
24/03/2025 - 12h

Donald Trump está enfrentando uma queda de popularidade desde que assumiu seu segundo mandato em 20 de janeiro deste ano. As razões em torno dessa rejeição estão ligadas a maneira em que tem lidado com as questões socioeconômicas do país. Em entrevistas à AGEMT, Caio Sabbag e Euclides Cunha explicam os fatores que podem ter influenciado sua impopularidade. A eleição de 2024 entre Donald Trump (Republicanos) e Kamala Harris (Democratas) foi discutida em todo o mundo devido às polêmicas envolvendo ambos candidatos e problemas socioeconômicos do país.

Até meados de agosto, os Democratas programavam tentar uma reeleição de Joe Biden, entretanto a idade e a impopularidade do ex-presidente implicou na mudança de estratégia. Kamala era a vice-presidente naquele momento e possuía uma melhor imagem que seu colega de partido, sendo uma boa substituta para o cargo. Mesmo assim, isso não foi suficiente e perdeu para o candidato Republicano. A economia no governo Biden foi um dos fatores que respingaram na candidatura de Kamala. A qualidade de vida estadunidense tem diminuído devido a desindustrialização crescente. Muitas fábricas e indústrias dos Estados Unidos foram desmontadas e reabertas em outros países para baratear o custo de produção, implicando numa alta taxa de desemprego. Outro fator foi a maneira em que o ex-presidente se posicionou em relação à guerra no Oriente Médio ao apoiar financeiramente Israel e ser contra o cessar-fogo.

A postura de Donald Trump em relação aos eleitores tenta passar proximidade, utilizando discursos populistas que trazem uma legião de eleitores fieis. Durante esses 4 anos, desde que saiu da presidência, se manteve afastado de cargos políticos, o que contribuiu para que sua imagem política se tornasse distante da memória nacional. Isso, em conjunto com sua legião fiel de eleitores que o seguem desde o primeiro mandato, o impulsionando-o para sua segunda vitória.

Trump junto a sua filha Tiffany e esposa Melania ao assumir seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. Foto: Reprodução/Jim Bourg.
Trump junto a sua filha Tiffany e esposa Melania ao assumir seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. Foto: Reprodução/Jim Bourg.

A rejeição do segundo mandato de Trump é de uma agilidade histórica. Em menos de 2 meses de mandato, pesquisas realizadas pelo site RealClear apontam que cerca de 48.5% da população estadunidense está insatisfeita com o trabalho de seu novo presidente. Pela primeira vez na história dele no cargo, esse número é maior do que o de aprovação a suas ações. Caio Sabbag, formado em Relações Internacionais, falou um pouco sobre motivos possíveis para essa queda repentina de Trump nas pesquisas. “Ele é um businessman, é um showman, ele gosta de fazer esse personagem que está ali fazendo um show para os votantes e para a parcela da comunidade política que está ali apoiando ele, acrescentando: "quando a parcela de eleitores republicanos que não são os fanáticos MAGA (Make America Great Again) começa a enxergar que, esses discursos que fazia durante o período eleitoral não passavam de ideias sem embasamento real, isso acaba com o personagem criado por ele para seu público”, ressalta. 

Medidas autoritárias

A história estadunidense é regada por segregação social em que discursos de “nós contra eles” são absorvidos com muita facilidade. A retomada de discursos de ódio contra imigrantes e minorias étnicas propagada pelo presidente está refletindo diretamente na economia estadunidense e na opinião pública sobre ele. Seus posicionamentos sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, comunidade LGBT e imigrantes são fatores fundamentais para entender a queda de sua impopularidade. Em seu último encontro na Casa Branca, Donald Trump e Volodimir Zelensky discutiram a guerra Russoucraniana. O presidente estadunidense teve falas polêmicas direcionadas ao ucrâniano, chegando a chamar Zelensky de ditador e dizer que ele não estava em posição de exigir que Trump influenciasse Vladimir Putin, presidente russo, a aceitar um cessar-fogo imediato. Após o acontecimento, Trump anunciou o fim da ajuda monetária americana para Ucrânia e se encontrou com o presidente Putin.

Trump e Zelensky em seu último encontro na Casa Branca, antes do presidente estadunidense anunciar fim do patrocínio dos EUA na guerra Rússia X Ucrânia. Foto: Reprodução/Saul Loeb.
Trump e Zelensky em seu último encontro na Casa Branca, antes do presidente estadunidense anunciar fim do patrocínio dos EUA na guerra Rússia X Ucrânia. Foto: Reprodução/Saul Loeb.

Euclides Cunha, historiador e colunista da Revista Ópera, relembra que o primeiro mandato de Trump não fez tantas políticas contra imigrantes quanto deixa transparecer em sua campanha. Governos como de Joe Biden e Barack Obama, ambos democratas, tiveram estatísticas de deportação maiores que as do atual presidente. “ a diferença é que Trump eleva isso a uma bandeira de governo e de mobilização, ele faz disso um fato político e um fato de marketing também.”, exemplifica o historiador. 

A WHCA (White House Correspondents Association) no dia 24 de fevereiro passou para a equipe de Trump o poder de escolher a Press Pool - grupo de comunicadores que acompanha o presidente durante suas comitivas de imprensa e compartilhar os acontecimentos com os demais colegas de profissão. A mudança de setor pode implicar numa cobertura com viés político ao invés de informativo. “Eu acho que essa decisão é como o terceiro ou quarto dominó caindo, estamos vendo uma rejeição muito rápida do governo dele e essa decisão não passa de mais um ato fascista do presidente”, opina Caio.

O contraste do crescimento e queda do governo Trump reflete a crise sociopolítica dos Estados Unidos. Enquanto parte dos seus apoiadores incentivam as ações do governo, suas atitudes autoritárias trazem questionamentos sobre sua maneira de governar.