Na terça-feira (6), aconteceu a quarta edição do Troféu Audálio Dantas – Indignação, Coragem, Esperança, no auditório Prestes Maia, sediado na Câmara Municipal de São Paulo. Em conjunto com a curadoria da família Kunc Dantas e da Oboré Projeto Especiais, 97 associações contribuíram para a realização do prêmio incluindo a participação dos Centros Acadêmicos Benevides Paixão (PUC-SP), Lupe Cotrim (ECA-USP), Vladimir Herzog (Cásper Líbero) e de estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vladimir Herzog. Além de mais uma vez celebrar o dia do Jornalista e o dia Nacional de Liberdade de Imprensa, comemorados em 07 de abril e 07 de junho, respectivamente, o evento regido pelo vereador Eliseu Gabriel (PSB) e com o apoio dos jornalistas Sérgio Gomes, um dos fundadores da Oboré e Vanira Kunc, viúva de Audálio Dantas homenageou seis jornalistas nesta edição.
Com o início às 19h, o vereador começou a cerimônia relembrando a carreira do jornalista Audálio Dantas, nome o qual a premiação carrega desde a data de seu falecimento (30 de maio de 2018) para preservar sua memória e o legado. Em seguida, representantes de algumas entidades participantes do evento promoveram uma reflexão sobre o atual cenário jornalístico no Brasil. “Nós suportamos tempos duros, mas resistimos e seguiremos resistindo na defesa de um direito que não é só dos jornalistas, e sim de toda a sociedade”, declarou Cristina Zahar, representante da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), somando em sua fala um dado levantado por sua própria entidade de que os números de ataques à imprensa quase quadruplicaram durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Audálio Dantas não teve tempo de ter medo”, afirmou José Eduardo, representante do Sindicato dos Jornalistas, ele reafirmou a importância da ética na profissão independente das condições de trabalho. “Infelizmente, estamos vivendo um tempo de profundo desrespeito ao diferente, provocado pelo fascismo que cresce nesse país”, refletiu Eduardo. Ademais, recém-formados e estudantes de jornalismo, uniram-se para a leitura de uma carta propondo o compromisso para a continuação do Troféu Audálio Dantas a fim de contemplarem jornalistas experientes na profissão em uma possível próxima edição.
Bruno Paes Manso, Gregório Duvivier, Juliana Dal Piva, Leonardo Sakamoto, Rene Silva e Valmir Salaro foram os seis jornalistas homenageados nesta edição, a qual buscou profissionais que produzem um "jornalismo ético e plural que a gente quer e que o país precisa", segundo Leda Beck, atual presidente da Associação Profissão Jornalista (APjor).
Ao receber o troféu, Salaro, experiente repórter policial da Rede Globo e o primeiro a ser gratificado levantou uma reflexão sobre o erro jornalístico que qualquer profissional da área está sujeito a cometer ao exercício da profissão.
Sakamoto, um dos fundadores da Repórter Brasil, organização focada em investigações sobre direitos humanos, ressaltou a dificuldade dos comunicadores durante o governo bolsonarista. “Se a gente que é jornalista e moramos no Sul-Sudeste, em grandes cidades, sofremos muito nos últimos 4 anos de Jair Bolsonaro, tenho certeza de que jornalistas do interior do Brasil sofrem muito mais desde sempre", afirmou Sakamoto. Por fim, o jornalista avaliou que a crise democrática no país não possui 4 anos, e sim 523 anos.
O terceiro prestigiado, Bruno Paes Manso, escritor do livro “República das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro” e repórter especializado na área de segurança pública, exaltou sua relação com os colegas homenageados e a importância de cada um para o funcionamento de um bom jornalismo no Brasil.
A jornalista Juliana Dal Piva, que fez trabalhos investigativos relacionados à família Bolsonaro, ao ser agraciada, fez uma crítica sobre o cenário feminino no jornalismo brasileiro diante do fato dela ser a única mulher homenageada nesta edição. “Não posso parar e não olhar para mim e saber quem eu sou. Sou uma mulher jornalista e para que eu pudesse ter feito o trabalho que fiz e recebesse essa homenagem linda hoje, muitas [mulheres] vieram antes de mim”, declarou Dal Piva.
O humorista, escritor e apresentador do “Greg News”, programa de jornalismo satírico disponível na plataforma de streaming HBO Max, Gregório Duvivier não pôde comparecer ao evento. Entretanto, Denis Russo, um dos editores-chefes do programa, compareceu à premiação representando o humorista. Russo destacou o caráter não jornalístico do Greg News, mas demonstrou a importância do viés humorístico em torno de uma narração factual produzida pela equipe de Duvivier.
Por fim, o último jornalista a receber o troféu Audálio Dantas foi Rene Silva, criador do jornal “Voz das Comunidades”, originário no Morro do Alemão, comunidade do Rio de Janeiro. Silva recebeu o prêmio através da reunião entre os integrantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vladimir Herzog no palco. “Nossos estudantes vieram aqui porque sabiam da possibilidade de conhecer o futuro. Homenagear o jornalista Rene Silva nesta noite, é conhecer o futuro de um jovem da periferia do Rio de Janeiro com características de vida escolar muito parecidas com a dos estudantes de nossa escola”, declarou Keila Girotto, diretora da escola.
“O que a gente não quer mais, é ver a favela sendo retratada a partir de um olhar de violência, tráfico de drogas e mortes. Queremos que a favela seja mostrada como um lugar de esperança e coragem”, refletiu o jornalista, acrescentando a ideia de democratização da informação diante da pouca comunicação existente nas comunidades brasileiras por meio do jornalismo comunitário enquanto um trabalho de resistência.
A solenidade foi transmitida pela Câmara Municipal de São Paulo e pode ser assistida através do link.