Alexandre Brandão é professor há 14 anos. Ele pode pensar que é apenas professor de História, porém para alguns alunos, ele também ensina como viver com sabedoria. O professor diz que não se arrepende de ter escolhido a profissão e relembra o início de sua carreira: “Com 23 anos decidi ser professor. Nessa época eu comecei a fazer um trabalho voluntário numa escola que me dava direito a concorrer a uma bolsa de estudos, o que me permitiu iniciar uma faculdade e dentre as opções a que mais se identificava comigo era História.”
Conhecido por “Xi” pela turma de 2020 do 3° ano do Ensino Médio do Colégio Batista, Alexandre foi e ainda é para os ex-alunos, um amigo e conselheiro. Conhece-os desde 2014, quando ainda eram do 6° ano do Ensino Fundamental. Com o passar dos anos, pôde conhecer cada um, e às vezes, até mesmo as dificuldades pelas quais passavam. A ex-aluna Anna Luiza Gandini relata uma experiência com ele: “Um dia minha melhor amiga da sala faltou e eu estava sozinha no meu lugar. Na época eu estava passando por um momento difícil em minha vida, até que ele foi até minha mesa e disse que notou que eu estava abatida e perguntou o motivo de eu estar assim, então eu contei o que estava acontecendo e ele simplesmente disse que era para eu confiar em Deus, que Ele estava no controle. O professor disse também que eu poderia contar com ele. Talvez ele não se lembre disso, mas eu nunca vou esquecer”.
O professor Alexandre conta que um dos benefícios em ser professor é receber o carinho e a gratidão dos alunos e diz ainda que existem situações que o marcam: “As situações impactantes geralmente são aquelas em que se percebe a gratidão do estudante. Mas em uma oportunidade, eu precisaria me ausentar para fazer uma cirurgia, e no meu último dia na unidade escolar, alunos do 6º ano fizeram uma série de homenagens em gratidão e apoio.”
Também relata sua gratidão por tudo que já viveu em seu trabalho: “O sentimento de satisfação e de realização são inevitáveis. Alunos da Escola de Jovens e Adultos (EJA) já voltaram na Instituição de Ensino para agradecerem a formação e informarem que estavam ingressando num curso técnico ou faculdade.”
Ser educador exige diversas competências e é uma das profissões mais nobres. Porém são várias as dificuldades encontradas, presencialmente e on-line. Nas escolas é necessário oferecer condições de manter a turma focada. Para conhecer os problemas, nada melhor que um professor contando quais ele enfrenta: “Existe a dificuldade de conseguir manter o foco e atenção dos alunos. O número alto de alunos nas salas de aula. A falta de acompanhamento dos pais. A falta de estrutura tecnológica e as vezes básica (como livros didáticos)”. Alexandre observa que os problemas estruturais são mais acentuados nas escolas públicas. Durante a pandemia, grande parte da população já ouviu dos alunos que o rendimento na escola caiu bastante e até já conhecem as dificuldades do Ensino à Distância. Mas os professores também passam por alguns desajustes: “Geralmente os professores citam a adaptação ao ambiente virtual, as novas tecnologias e ao fato de falar para um público não presente (apenas on-line). Particularmente, não senti dificuldades nesses itens. Outra complicação é a percepção da recepção do aluno, algo que só é plenamente possível no presencial”. Ele diz que existem casos em que os estudantes não têm acesso as aulas remotas e é necessário “correr atrás” de alguns: “Na escola pública, apesar de termos uma excelente plataforma digital, nem todos os alunos têm acesso a equipamentos e internet de qualidade. Muitas vezes precisamos recorrer a canais informais como WhatsApp para estabelecer o contato mais direto”.
O professor de História conta as dificuldades no trajeto de casa até o trabalho e pontua aglomerações: “O transporte público ainda é lotado. Eu utilizo o metrô e ele sempre está cheio”. Ele menciona que não se sente seguro ao trabalhar presencialmente durante a pandemia de COVID-19 e diz que não considera essencial o retorno das aulas nas escolas, afirma que a vida está a cima de qualquer outra coisa: “Mesmo com as medidas sanitárias e protocolos seguidos, sair de casa e pegar transporte público ou conviver com pessoas que precisam sair de casa para o serviço, nos deixam expostos ao contágio. O essencial é a vida. Se for algo que a ponha em risco, deixa de ser essencial”.
Aparentemente, Alexandre tem um perfil competente de educador. Além da qualidade técnica, consegue acolher os alunos também em situações que, mesmo sendo originárias de suas vidas pessoais, manifestam-se na sala de aula. Com isso, marca as memórias de muitos estudantes e pode ser definido como "O melhor professor que já tive", como afirma uma ex-aluna do Colégio Batista.