Pandemia frustra calouros na USP

Impacto de aulas virtuais causaram no primeiro ano universitário é considerado anti-democrático
por
Maria Clara Lacerda Nunes
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23/06/2020 - 12h

Em meio a pandemia do coronavírus, alunos e alunas que estudaram o ano de 2019 inteiro para ingressar na faculdade tão desejada, contam suas expectativas quebradas com a quarentena e as aulas a distância. A aluna Mirta Fania, 18, que preferiu não ter o curso identificado, ficou o ano passado inteiro no cursinho para entrar na Universidade de São Paulo (USP). Ela diz que estava ansiosa para aproveitar o campus, ocupar e explorar o universo da faculdade, e ressalta ainda que o ensino a distância é antidemocrático. 

Local de estudos de Fania (acervo pessoal)
Local de estudos de Fania (acervo pessoal)

Fania relata: “Minhas expectativas diminuem muito e o que torna todo esse processo de aprender e colocar em prática, que seria presencialmente, fica muito mais difícil, a jornada fica mais complicada.” E não ficando só no âmbito pessoal, a caloura diz “O sistema de educação a distância é antidemocrático pela forma como ele é estabelecido e realizado já que é necessária uma internet de qualidade e um computador. Além disso, ele torna tudo homogêneo, o professor não vê o aluno e não vê as diferenças que compõem a sala em que a aula é dada.” 

Gabriella Maya, 19, também sofre com os impactos da quarentena. Conta que o ingresso na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no curso de Jornalismo, era seu maior sonho acadêmico “Eu estava super animada que tinha passado na PUC, sempre quis estar lá. Nunca tinha conhecido fisicamente e essa era minha maior expectativa: conhecer tudo, aproveitar os ambientes, os materiais que eles possuem e ver como são as coisas na prática.”

Além disso, a caloura diz que sente muita falta do contato físico com todo mundo. Ressalta que a internet é facilitadora, mas não substitui a presença de ninguém, especialmente dos novos amigos e amigas que ela faria. Por fim, diz que a educação a distância está cumprindo seu papel, mas que nada substitui as aulas presenciais, e ela não vê a hora de voltar.

Local de estudos de Hayashi (acervo pessoal)
Local de estudos de Hayashi (acervo pessoal)

O aluno Murilo Hayashi, 19, que ingressou na Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) no curso de Engenharia Mecânica relata “Eu esperava começar uma vida nova na faculdade, entrar numa fase diferente, conhecer pessoas diferentes, ter um ano de impacto mesmo. Minhas expectativas eram altas.” 

Hayashi, que até mudou de cidade para iniciar o ano acadêmico, diz que era para ser seu melhor ano universitário, mas tudo mudou. Também diz que as aulas a distância estão sendo diferentes do que ele esperava “No começo fiquei na dúvida de como seria, ainda mais por ser faculdade pública. Foi difícil me organizar, nunca tive aula a distância.” E assim como a aluna Fania, ele enfatiza que a educação a distância é injusta, já que muitos não tem acesso nenhum a internet.

Pedro Galavote, 18, também calouro da PUC-SP em Jornalismo, conta um pouco de sua decepção “O problema é que veio a pandemia e fomos forçados as aulas virtuais né? Essas aulas exigem muito mais do aluno do que presencialmente, já que o ambiente de estudo pode não ajudar em diversos momentos.” O estudante passou o ano de 2019 focado em passar na universidade.

Local de estudos de Galavote (acervo pessoal)
Local de estudos de Galavote (acervo pessoal) 

        Galavote conta “Acho que o que eu mais sinto falta do presencial é o ambiente da faculdade, o prédio, o contato com centenas de pessoas todo dia, mas isso deve ser algo que todo mundo tá sentindo devido as condições né?” Muitos amigos da família e próprios familiares estudaram na PUC e só tinham elogios para a universidade, o que só aumentou a ansiedade de estar lá.