Foi aprovado pelo Senado, na quarta-feira dia 03 de junho, a emenda que dobra a pena dos crimes previstos na Lei Maria da Penha cometidos durante a pandemia, contudo, os casos também estão dobrando. Joseane Bernardes (Jô, como prefere ser chamada), coordenadora da casa Leste da ONG Bem Querer Mulher em São Paulo, diz que os telefonemas por ajuda durante a madrugada passaram de 4 para 12 depois do início da pandemia.
Heloisa Melillo e Jô, coordenadora geral do programa e coordenadora da Casa Leste, atualmente estão passando por um desafio para prestar ajuda às mulheres assistidas pela ONG Bem Querer Mulher. “Você atender mulher, qualquer lugar atende, mas você acolher a mulher humanamente é o diferencial.” Jô frisa que o atendimento humanizado é muito importante e que ele ajuda a mulher a denunciar e reconstruir sua vida, mas que é muito difícil fazer isso remotamente, portanto, mesmo com a quarentena, seu trabalho exige atendimento presencial e novas estratégias.
Durante as ligações, elas precisam saber um horário e um local que não gere suspeitas, “o isolamento tira a autonomia da mulher”, explica ela ao falar dos desafios de se atender uma vítima constantemente vigiada e presa com seu agressor. Em um caso recente, Joseane, com o apoio da gerente de uma UBS próxima, conseguiu encaminhamentos para o posto afim de atender a vítima, que já passava por acompanhamentos de remissão de um câncer em outra unidade, e foi assim que ela foi auxiliada no caminho para uma denúncia.
O Brasil registra, a cada 4 minutos, pelo menos um caso de agressão contra mulheres cometida por homens. Ainda assim, muitos outros não são registrados e chegam a serem apagados. Os 5 tipos de violência contra mulher - física, sexual, psicológica, moral e patrimonial - não acontecem somente dentro de casa. Cleone Santos, fundadora da ONG Mulheres da Luz, coletivo que busca promover a cidadania e garantia dos direitos humanos para mulheres em situação de prostituição, reforça isso; “Se fala de violência doméstica, mas não se fala da violência que outras mulheres sofrem, dessas que estão em situação de prostituição, e que sempre existiu.”
Localizada dentro do Parque da Luz, em São Paulo, a ONG fornece acolhimento, redes de conversa, terapia, apoio jurídico e outras formas de assistir as mulheres que a procuram. “Na época em que foi criada, tínhamos apenas a nossa solidariedade para oferecer à elas, então, a partir de pedidos, começamos a ter rodas de conversa sobre regulamentação, mas percebemos que só isso não satisfazia”, a partir daí, nasceram pautas sobre a criação de políticas públicas para essas mulheres.
Com a pandemia, Cleone precisa trabalhar de casa, mas a ONG não para. Houve dois casos de suspeita no espaço, mas foram descartados como não sendo Covid-19. Todas estão buscando se proteger na medida do possível, “a maioria delas, as mais velhas, que estão em extrema vulnerabilidade, estão se mantendo em casa”, sendo protegidas pela ONG com doações que envolvem cestas básicas, materiais de higiene, limpeza e máscaras. As que permanecem no parque, fazem o possível para se protegerem e dinamizar para que os parceiros façam o mesmo.
Algumas estão conseguindo gerar renda de forma diferente com a quarentena, os cursos ministrados pela ONG as ajudaram, e agora, vendem sabão em pedra, máscaras e produtos de higiene, que são divulgados pelo coletivo.
As ONGs Bem Querer Mulher e Mulheres da Luz aceitam doações e voluntários, para saber como ajudar, basta acessar: https://www.mulheresdaluz.com.br/ e http://www.bemquerermulher.org.br/site/