O Legado de um Militante

O início da carreira de Elifas Andreato
por
Murari Vitorino
Giulia Aguillera
|
29/03/2022 - 12h

Elifas Andreato, artista plástico de renome, faleceu no dia de 29 de março de 2022 aos 76 anos por causas ainda desconhecidas.

Seu legado deixado fará grande falta para a cultura nacional, sendo Elifas um dos maiores artistas a dar uma cara para o MPB desde dos anos 70. Com mais de 700 ilustrações no seu portfólio, 362 artes foram dedicadas a capas de CDs e DVDs para artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Elis Regina e entre muitos outros.

Nascido em 1946 na Rolândia, interior do Paraná, Elifas Andreato teve uma criação muito simples. Em suas próprias palavras, o artista dizia que a cidade era um refúgio de judeus alemães, mas todos eram artistas e burgueses que acabaram encontrando tamanha dificuldade em se adaptar a vida com a enxada na mão. Porém o artista tomou um caminho diferente de seus familiares. Começou a vida profissional ainda muito jovem, quando se mudou para São Paulo, em 1960, para trabalhar na indústria. Ele tinha apenas 14 anos.

O ilustrador entrou em contato com uma realidade operária e conviveu com o proletariado. Inspirado na própria vivência, começou a fazer charges com conteúdo sindicalista em 1965, sendo completamente autodidata no ramo das artes visuais.

Enciclopédia Itaú Cultural

Sua história foi marcada principalmente por sua participação no ativismo contra a ditadura militar de 1964, sendo um dos fundadores da revista Placar, que fazia uma cobertura esportiva do Brasil durante o período das Diretas Já. Em entrevista para o Jornal Vermelho, o artista ressalta que se considerava um militante do futuro e das boas causas: “Sempre fui preocupado com as liberdades básicas de cada pessoa, com os direitos humanos, independente de siglas partidárias. Minha vocação é a militância, a esperança, a brasilidade. Nunca deixei de lado as estrelas, que são o emblema da esperança, sempre trabalhei para que o futuro seja mais generoso, principalmente com as crianças”.

Além de sua carreira nas artes visuais, Elifas também teve uma carreira no teatro e como dramaturgo. Algumas de suas principais obras são adaptações de Ricardo III do Shakespeare e Morte Sem Sepultura de Sartre.

“Minha arte se liga à história de minha vida, das vidas assemelhadas à minha, e serve para contar o que eu e pessoas semelhantes a mim entendemos que seja o mundo, a justiça e a liberdade”, destacou em fala ao Memorial Da Resistência de São Paulo.