Não é segredo que envelhecer é visto como inimigo geral da nação pela maioria das pessoas, principalmente mulheres, que lidam com suas próprias inseguranças e com a pressão imposta pelos outros nesse processo. Com o passar do tempo e a intensificação da era digital, parece que essa fase da vida bate na porta cada vez mais cedo. Uma sociedade que atrela a jovialidade à beleza e acredita estar sempre atrasada não é uma combinação amigável para quem está envelhecendo.
O molde representado na mídia e nos meios digitais tem forte influência nessa negação da idade porque valoriza o oposto. Nesse sistema, o idoso é visto como insuficiente e desatualizado, o que é lido como desnecessário, e isso resulta na invisibilidade de suas causas e dores.
A estudante de Psicologia Rafaelly Ketellyn, de 20 anos, dividiu o que escutava sobre o envelhecimento na infância: “Eu escutava que envelhecer era sinônimo de limitação, doença e solidão. Parecia ser sempre algo pesado, quase como se fosse o fim da linha e poucas vezes era falado sobre o lado positivo, como o aprendizado acumulado e a experiência.”
Já Maria Marinalva, de 55 anos, disse que, quando criança, ouvia que quanto mais a pessoa envelhece, mais ela fica chata e ranzinza. Ela afirma que não quer se encaixar nesse rótulo.
Segundo o relatório da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) divulgado em junho deste ano, o Brasil é o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos não cirúrgicos. Entre as intervenções mais recorrentes estão: toxina botulínica, mais conhecida como Botox (45,7%), ácido hialurônico (22,9%) e procedimento de rejuvenescimento da pele com efeito lifting (7,9%). Todos esses métodos buscam, de alguma forma, retardadores de envelhecimento. O primeiro pode eliminar linhas de expressão; o segundo é usado para restaurar a elasticidade da pele, consequentemente, promete prevenir rugas; e o terceiro, por si só, já carrega a promessa de apagar os sinais da idade.
Atualmente, chegar à velhice se tornou ainda mais indesejado, por conta do padrão criado pelas redes sociais. A alta porcentagem de procedimentos estéticos é um reflexo disso. A juventude sempre foi um dos requisitos para mulheres na TV, como as “Paquitas”, assistentes de palco da apresentadora Xuxa, as dançarinas do Faustão ou até as Panicats. Hoje em dia, essa lógica migrou para a internet, cada vez mais presente na nossa rotina. Criadoras de conteúdo jovens têm mais patrocinadores e visibilidade.
Você é quem cria a sua fonte da juventude
Contra essa onda de pessoas que veem o envelhecimento como um pesadelo, há quem levante a bandeira de maturidade mais alto. Rafaelly lida naturalmente com esse processo da vida e pensa ser parte dela, embora entenda que não seja uma situação simples. Porém, sabe que é inevitável e tenta levar esse fato como uma oportunidade de amadurecimento e ganho de sabedoria. Para ela, o lado positivo do tempo é o de poder colher frutos que já plantou, uma chance de viver novas etapas e aprender a valorizar o presente.
O tempo como vilão está presente em diversas obras, como filmes, livros e mitos. O longa-metragem A Substância, estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, traz luz sobre o envelhecimento na indústria do entretenimento e critica a pressão para manter a juventude e a beleza, especialmente sobre as mulheres. No livro O Retrato de Dorian Gray, o personagem principal se sujeita a um pacto para nunca ficar velho e manter sua aparência jovem para sempre. Além disso, há também o mito da fonte da juventude, representada em vários trabalhos, por exemplo, Os Trapalhões e a Árvore da Juventude, que, por incrível que pareça, nunca envelhece.
Marinalva também tem um pensamento mais aliviado com a passagem de idade. Ela compartilhou que lida super bem com isso e não deixa a mente envelhecer com o corpo. Acredita que precisamos aprender a aceitar para não ver isso como um grande problema. Porque a idade mais avançada faz parte da vida e acontece com todos.
Muitas mulheres buscam se encaixar no padrão imposto pela sociedade e sofrem com isso, porque é um ideal impossível de sustentar para sempre. Enquanto houver vida, não há como fugir da passagem do tempo e o que resta é aprender a lidar com isso e, principalmente, não deixar de viver por causa disso.