A Semana de Moda de Milão (MFW) acontece anualmente desde 1958, nos meses de fevereiro e setembro. Antigamente, o evento era apresentado pela associação da Camera Sindacale della Moda Italiana, que mudou de nome para Camera Nazionale della Moda Italiana. Na época, o evento se resumia a exibir desfiles de moda e exposições que apresentavam a indústria da moda italiana, hoje em dia, tem como objetivo promover estilistas italianos tanto na Itália quanto internacionalmente.
Primeiro dia (20/09)
Destaques:
Fendi: fundada em 1925 por Adele e Edoardo Fendi. A marca começou como uma pequena boutique no coração de Roma, especializada em bolsas e peles. O designer britânico Kim Jones assumiu o cargo de diretor artístico da alta costura em 2020, ao lado das diretoras artísticas Silvia Venturini Fendi e Delfina Delettrez Fendi, respectivamente, a terceira e a quarta geração da família Fendi. A grife ficou conhecida por seu modelo icônico de bolsa baguette.
Na passarela, Kim apresentou uma coleção refinada para mulheres elegantes e modernas, misturando tons neutros aos pastéis e multicoloridos para criar seus visuais. Peças que carregavam o monograma da marca também estavam presentes, além do uso de tecidos leves, como a seda, e alfaiataria.
Os acessórios combinados foram desde bolsas - bolsas-cargo repletas de compartimentos, mini bolsas e as clássicas baguette com o logo aparente - até luvas de couro, usadas por todas as modelos.
Segundo o diretor artístico da marca, ‘’Há uma elegância na facilidade e no fato de não se importar com o que os outros pensam - esse é o verdadeiro luxo. Nessa coleção, eu queria refletir isso".
Roberto Cavalli: criada em 1970 pelo designer de nome homônimo da marca. Conhecido por suas peças com estampa animal em couros e em tecidos e o estilo prêt-à-porter (expressão francesa que significa “pronto para vestir”) , o conceito de Cavalli reflete nas roupas fabricadas em tamanhos padrão, acessórios - incluindo bolsas, óculos, relógios, sapatos, perfumes - e joias.
O desfile foi capaz de traduzir a essência do conceito de primavera na passarela. Muitas plumas, recortes e transparências, além do uso exacerbado de cores vívidas, que remetem à próxima estação.
Diesel: estabelecida em 1978 por Renzo Rosso. A escolha do nome da marca foi pela pronúncia, pois se mantém a mesma em todo o mundo. É especializada em jeans de alta qualidade, além de acessórios para mulheres, homens e crianças de todas as idades.
O desfile chamou a atenção quando a marca enviou câmeras analógicas como forma de convite.
O desfile aconteceu a céu aberto, debaixo de chuva, no qual os convidados precisaram usar guardas-chuva para assistir. As peças em jeans, tie dye (técnica de tingimento de tecidos), látex, couro e casacos puffer (modelo acolchoado) foram itens que tiveram destaque.
Segundo dia (21/09)
Destaques:
Prada: fundada em 1913 por Mario Prada e por seu irmão Martino. A grife, inicialmente era chamada “Fratelli Prada” (Prada Brothers), e vendia acessórios para viagem como baús, malas e produtos de couro.
Em 1978, a neta de um dos fundadores, Miuccia Prada, passou a comandar a marca ao lado de seu esposo, Patrizio Bertelli.
O desfile foi marcado por looks que transitaram entre o delicado e o ousado. As modelos usaram toucas justas o tempo todo, além de exibir peças bem construídas, como jaquetas com mangas largas, lenço de seda no pescoço formando uma espécie de capa, shorts de cintura alta, vestidos transparentes em cor pastel, saias douradas e prateadas com franjas, cintos de couro e camisas florais com franjas.
MM6 Maison Margiela: é uma segunda linha da marca, criada em 2012, na França, pelo designer Martin Margiela. Foi lançada por Maison Margiela, que anteriormente era chamada de Maison Martin Margiela (1988).
O fundador é considerado uma das personalidades mais misteriosas do mundo da moda, cuja principal característica é o anonimato, e até hoje, nunca se viu uma foto dele sequer.
O desfile foi marcado pela presença de looks que remetem aos anos 90, mantendo os trajes elegantes em destaque, com foco no estilo clássico por meio de tecidos brancos e cinza escuro listrados, além das camisas sem manga prateadas, combinadas com bodys e decote profundo, calças oversized, casaco sobretudo de couro, coletes e shorts modelo vintage.
MOSCHINO: criada em 1983 por Franco Moschino. Suas coleções são caracterizadas por serem extravagantes, ousadas e excêntricas, sempre fazendo o uso de muitas cores. Desde 2013, o designer norte-americano Jeremy Scott comandava a direção criativa, mas deixou o cargo em março deste ano.
O desfile celebrou os 40 anos da grife e convidou as estilistas Carlyne Cerf de Dudzeele, Gabriella Karefa-Johnson, Katie Grand, e Lucia Liu para montarem dez looks cada.
A inspiração para esta coleção foram as décadas de 80 e 90, marcadas por modelos com silhueta bem definida. As peças criadas por Carylne trouxeram a marca de volta às origens de seu criador (Franco Moschino), com ternos brancos de dois botões, junto a calças cinza plissadas e golas altas pretas. Os acessórios exibidos foram bolsas em formato de coração, brincos e colares.
Gabriella, por sua vez, estilizou os clássicos chapéus de cowboy, apresentou vestidos de crochê e joias marcantes, além de apresentar seus visuais ao som da música PURE/HONEY da cantora norte-americana Beyoncé.
Katie, tinha o intuito de montar suas peças em cima de slogans chamativos.
Alguns bodys que estampavam pontos de interrogação, outros que delineavam o corpo nas cores preto e branco, outras peças continham, em letras garrafais, a frase Loud Luxury ( que remete a ideia de fácil identificação da marca de luxo pelo público geral).
Por fim, Lucia, que adotou uma abordagem mais romântica e conceitual. E Liu, que usou muito ouro, ferragens em forma de coração e bordados florais em silhuetas delicadas.
Emporio Armani: é a segunda marca da família ‘’Armani’’, estabelecida em 1975 por Giorgio Armani e Sergio Galeotti.
Na passarela, foram apresentados conjuntos organizados por cor - permitindo uma fusão de nuances, estilos e tons. A coleção começou com tons neutros de prata, bege, preto e cinza antes de passar para tons de verde, azul, roxo e rosa. Além disso, foram exibidos conjuntos formados por duas peças, blazers, vestidos, saias fluidas, shorts, tops de soutiens e blusas transparentes. E tudo isso, claro, sem perder a elegância tradicional da grife.
Tom Ford: fundada em 2005 pelo designer de nome homônimo.
Em 1990, Tom foi contratado no cargo de designer prêt-à-porter feminino da grife italiana Gucci. Em 1994, tornou-se diretor criativo da marca. Sob seu comando, o grupo Gucci adquiriu a Yves Saint Laurent - grife francesa - fazendo com que ele também assumisse os papéis de diretor de criação e diretor de comunicação da nova marca adquirida, enquanto exercia sua função na Gucci.
Em 2004, pediu demissão e iniciou sua própria marca.
O desfile marcou a estreia de Peter Hawkings como diretor criativo da grife, que apresentou looks em tons neutros e vibrantes, que iam de ternos despojados a peças em couro, decotes exagerados, metalizados, vestidos transparentes, franjas e alfaiataria.
Terceiro dia (22/09)
Destaques:
Gucci: estabelecida em 1921 por Guccio Gucci. O fundador da marca veio de uma família simples, trabalhava como porteiro em um hotel em Londres e após muitos anos observando malas de viagem, decidiu criar seu próprio negócio para vender bolsas e malas.
Em um primeiro momento, o foco da marca era artigos feitos em couro de alta qualidade por artesãos. Depois de um tempo, a Gucci passou a ampliar sua fabricação, e começou a produzir luvas, bolsas, cintos e sapatos.
O desfile foi marcado pela estreia do novo diretor criativo, Sabato de Sarno, que entregou um show que não agradou os amantes da moda! Os espectadores disseram que a nova coleção não parecia uma grife, mas sim peças de fast fashion, como da Zara, por exemplo. Uma das reclamações foi a falta de criatividade e originalidade de Sabato para esta coleção, alegando que o trabalho feito pelo antigo diretor criativo Alessandro Michele (que durou sete anos) foi muito mais memorável e ousado.
Foi possível observar na passarela, muitas peças em alfaiataria, como: os micro shorts-saia e casacos compridos, aplicações de franjas, camisetas brancas e regatas, mocassins de plataforma, vestidos brancos de cetim e muitos visuais estampados com o monograma da grife, como coletes oversized e bolsas já conhecidas pelo público. Foram desfilados também blazers e terninhos com pele à mostra, jaquetas de couro rígidas, túnicas cintilantes, lapelas de cristal. Os acessórios que mais chamaram atenção foram as joias volumosas douradas e os óculos de sol.
Versace: fundada em 1978 por Gianni Versace. Suas peças sempre foram conhecidas por explorarem a sensualidade feminina por meio do uso do couro, com recortes e modelagem que marcaram a silhueta, além de cores vibrantes e estampas que não passavam despercebidas.
Em 1997, Gianni foi brutalmente assassinado em frente à sua mansão, em Miami. A partir de então, Donatella Versace, sua irmã, que já dividia tarefas com ele, assumiu o comando como diretora criativa e permanece no cargo até hoje.
O logotipo traz a imagem da Medusa - figura mítica grega que exala sensualidade, teatralidade e classe, conceitos que, de acordo com a grife, são essenciais para a representação que ela deseja transmitir.
Donatella trouxe os anos 60 para a passarela! Apresentou vestidos sem mangas curtos e botas até o joelho, que remetem à estética retrô e cores pastéis na maioria dos looks. As modelos usavam cabelos volumosos e rabos de cavalo altos, com faixas de cabelo. Além disso, foi possível observar vestidos evasê adornados com mangas bufantes, conjuntos comportados em alfaiataria fluida e peças floridas em crochê. Modelos em seda, couro, tweed, bem como tricô e tecido transparente compuseram a maior parte da coleção.
Boss: criada em 1924 por Hugo Ferdinand Boss, na Alemanha, após o fim da Primeira Guerra.
A marca, inicialmente, ficou conhecida por produzir fardas militares e uniformes para o partido nazista, no qual era associado.
Hugo faleceu em 1953 e foi substituído por seu genro, que mudou a imagem da marca. O foco continuou no estilo masculino, mas na produção de ternos que ficaram conhecidos como “ternos Hugo Boss”.
Em 1967, passou a ser comandada por seus netos que transformaram o conceito da marca para um estilo mais moderno e autêntico. Nas décadas de 70 e 80, a grife apostou no estilo esportivo e na elite, investindo na Fórmula 1, no golfe e no tênis. Em 1998, entrou para o universo feminino, com peças minimalistas e elegantes.
Marco Falcioni apresentou uma coleção clássica, seguindo os moldes tradicionais. Com saias lápis, casacos estruturados, blusas drapeadas e com decotes, cores neutras e maletas adornadas como acessórios.
Quarto dia (23/09)
Destaques:
Ferragamo: fundada em 1927 por Salvatore Ferragamo. Marca conhecida por criar modelos memoráveis de sapatos feitos à mão. Nos dias de hoje, também produz acessórios e perfumes. Algumas atrizes como Marilyn Monroe, Greta Garbo e Sophia Loren já usaram pelo menos um dos modelos de suas criações, nessa perspectiva, passou a ser conhecido como “sapateiro das estrelas”.
Nesta coleção, o diretor criativo britânico Maximilian Davis, tirou a cor vermelha do destaque e deu espaço para os tons neutros brilharem! A paleta girava em torno do preto, branco, um pouco de verde e sutis detalhes de vermelho.
Dolce & Gabbana: criada em 1985 por Stefano Gabbana e Domenico Dolce. A dupla de designers faz questão de exaltar seu país de origem (Itália) sempre que podem. A marca tem como característica o uso de símbolos religiosos na grande maioria de suas peças, além de abusar de estampas florais.
A grife já se envolveu em algumas polêmicas, como em 2013, quando Domenico (que se considera homossexual) se posicionou contra a adoção de crianças por casais homoafetivos, alegando que o modelo tradicional (mulher + homem) de família seria o correto.
Um tempo depois, a marca fez uma coleção que exaltava o culto à magreza extrema, exibindo tênis e bolsas com as seguintes palavras: “magra e maravilhosa”.
Em 2018, se envolveu em mais um escândalo. Antes de apresentar um desfile na China, a grife divulgou um vídeo no qual uma modelo chinesa, vestida com trajes típicos, tentava comer pizza usando hashis. O motivo do “humor" se concentrava na tentativa falha. O vídeo foi acusado de carregar xenofobia e sofreu boicote.
Nesta coleção, os tons neutros tiveram destaque! O desfile fez uso do preto e branco, que acabou dominando a passarela, chegando até a receber o nome de ‘’Woman’’ (Mulher). Vestidos assimétricos de chiffon preto com poás de renda e transparente, junto de laços amarrados no pescoço, smokings desconstruídos, micro shorts, babados e estampas florais foram algumas das peças desfiladas. Algumas roupas tinham colarinhos brancos ou detalhes em camisas sociais brancas. Além de uma seleção de ternos, jaquetas e vestidos completamente brancos. As modelos carregavam pequenas bolsas de mão e usavam saltos agulha ou botas pretas de cano alto.
Sem esquecer de mencionar a icônica estampa animal da marca em capas de chuva brilhantes.
The Attico: estabelecida em 2016 por Gilda Ambrosio e Giorgia Tordini. As inspirações da dupla para criar suas coleções se baseiam nos palácios e casas de Lago, abordando a proposta vintage que a marca deseja transmitir.
A The Attico fez sua estreia na Semana de Moda de Milão nesta edição e apresentou 42 looks, dentre eles tecidos transparentes (com vestidos) e lantejoulas espelhadas, calças cargo, jaquetas oversized, calças prateadas, sobretudos oversized, blazer com ombreiras, meias adornadas com penas, echarpes, sapatilhas cravejadas com cristais e bolsas brilhantes.
Bottega Veneta: fundada em 1966 por Michele Taddei e Renzo Zengiaro. Sua especialidade sempre foi criar peças refinadas de couro usando o método intrecciato - couro trançado que vem do trabalho artesanal. A marca vai na contramão da ideia de luxo ostentação e parte do princípio do ‘’Quiet Luxury’’ - termo adotado por pessoas da alta sociedade que desejam utilizar peças de grife de maneira discreta.
O conceito do desfile foi uma verdadeira ‘’floresta fashion’’ - na qual o diretor criativo da marca, Matthieu Blazy, transportou os convidados para o distrito de Bovisa, que foi todo colorido com mapas pintados à mão e convites em formato de relógios de bússola de couro. As peças iam de casacos de tweed a bolsas de mão brilhantes, malhas em patchwork, casacos de franja, camisas listradas e gravatas de couro, além de exibirem jornais como se fossem acessórios.
Quinto dia (24/09)
Destaques:
Giorgio Armani: criada em 1975 pelo estilista de nome homônimo e por Sergio Galeotti. A marca não está somente no mercado do vestuário, mas também nos perfumes, acessórios, itens de decoração, coleções esportivas e itens dedicados a crianças. A grife é famosa por produzir peças elegantes de alfaiataria, como blazers e ternos, em tons neutros, roupas com a silhueta feminina marcada e vestidos modelo ‘’sereia’’ e paetês, considerados o carro-chefe da grife.
Armani intitulou esta coleção como ‘’Vibes’’ e se inspirou em cores, texturas e movimentos que remetem à água, como por exemplo, o uso de tecidos fluídos em tons de azul e verde.
Karoline Vitto: fundada em 2019, em Londres, pela estilista brasileira de nome homônimo da marca. Para vir a Milão desfilar sua primeira coleção solo, teve o apoio da italiana Dolce & Gabbana. Sua intenção sempre foi divulgar os corpos reais e curvilíneos, deixando de lado os estereótipos de beleza convencionais.
Vitto costuma investir em peças que contém recortes e várias numerações. Na passarela, foi possível observar modelos mid-size e plus-size usando vestidos tubinhos, saias lápis, transparências, calça cintura baixa e muitos decotes, sendo a maioria das peças adornadas com aplicações de metais.