Jeans segue entre os produtos mais vendidos no mercado brasileiro

Indústria aposta em preço e modelagem para manter a demanda
por
Larissa Pereira José
|
26/11/2025 - 12h

 

O jeans continua entre as peças mais consumidas no Brasil e mantém relevância estratégica para a indústria têxtil e para o varejo de moda. Mesmo após mudanças no comportamento do consumidor nos últimos anos, o denim permanece como um dos principais motores de vendas do setor.

Segundo levantamento do IEMI – Inteligência de Mercado, o Brasil produziu cerca de 280 milhões de peças de jeans em 2023. O faturamento do segmento chegou a aproximadamente R$14,7 bilhões no mesmo período. O estudo “Comportamento do Consumidor de Jeanswear no Brasil”, desenvolvido pelo IEMI em parceria com a Vicunha Têxtil, aponta que o jeans responde por cerca de 10% de todo o volume comercializado no mercado de vestuário nacional.

Uma pesquisa divulgada pela Vicunha Têxtil mostra que 80% dos brasileiros consideram o jeans uma peça obrigatória no guarda-roupa. O dado ajuda a explicar a presença constante do produto nas vitrines, campanhas promocionais e estratégias comerciais das grandes redes.

Para Diego Amaral, gerente comercial de uma grande varejista nacional, o desempenho do jeans segue consistente. “O jeans é um dos pilares do faturamento. Ele traz fluxo de clientes para a loja e influencia o desempenho de outras categorias. Quando o jeans performa bem, o restante da coleção tende a acompanhar”, afirma.

Ele explica que o consumo segue forte porque o produto atende diferentes perfis de consumidores. “Vendemos desde modelos clássicos até modelagens mais amplas, como wide leg e cargo. O jovem busca tendência, enquanto o cliente mais velho procura modelos tradicionais. O jeans atravessa gerações”, diz.

De acordo com o IEMI, o comércio eletrônico já representa mais de 5% das vendas de jeans no Brasil, com crescimento contínuo desde 2020. Apesar desse avanço, a loja física segue decisiva na jornada de compra. “O cliente pesquisa online, compara preço, avalia fotos e comentários. Mas o provador ainda define a compra de jeans”, afirma Amaral.

Outro estudo do IEMI, em parceria com o Guia Jeanswear, mostra que preço, caimento e exposição na vitrine são os principais fatores de decisão de compra. A mesma pesquisa aponta que 43% dos consumidores não se lembram da marca do jeans adquirido, o que reforça o peso da experiência no ponto de venda.

“O cliente entra pela promoção, olha a vitrine e decide pelo conforto. Se a peça veste bem, a marca passa a ser secundária”, explica o gerente comercial. Ele afirma que, embora o tíquete médio do jeans seja maior do que o de outras categorias, o consumidor aceita pagar mais quando percebe a durabilidade da peça. “O cliente pensa no custo por uso. Uma calça que dura mais tempo é vista como investimento”, diz.

O consumo de jeans enfrenta pressão ambiental crescente. Estudos da Water Footprint Network indicam que a produção de uma calça jeans pode consumir milhares de litros de água ao longo de toda a cadeia produtiva. Parte desse impacto está concentrada nos processos de lavanderia industrial e acabamento do tecido.

Esse relatório sobre polos de produção de jeans no Brasil aponta desafios no descarte de resíduos têxteis e no uso de produtos químicos, especialmente em regiões com forte concentração de lavanderias industriais, como o agreste pernambucano. O tema passou a ganhar espaço em debates setoriais e em políticas de sustentabilidade nos últimos anos.

Segundo Amaral, essa pauta já chegou ao consumidor final. “O cliente pergunta de onde vem o algodão e se a loja trabalha com práticas sustentáveis. Ainda não é a maioria, mas cresce todo ano”, afirma. Ele diz que a varejista passou a priorizar fornecedores com tecnologias de redução do consumo hídrico e processos menos agressivos ao meio ambiente.

A cadeia têxtil brasileira movimenta cerca de R$ 190 bilhões por ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Dentro desse cenário, o jeanswear segue como um dos segmentos mais sólidos do setor, com demanda contínua e forte presença no cotidiano do consumidor brasileiro.

Para o gerente comercial, o principal desafio agora é equilibrar preço, velocidade e responsabilidade. “O consumidor quer novidades, quer preço acessível e quer entender o impacto do produto. O jeans continua forte, mas o jeito de vender mudou”, conclui.

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