Todo mês, o mesmo ritual se repete. E desta vez, em novembro, o dia nasceu com um tom indefinido, entre o azul e o cinza, parecendo refletir o ritmo intenso de São Paulo. Logo ao sair da Estação Anhangabaú, atravessando o caos das ruas do centro, entre Sete de Abril e a Barão de Itapetininga, encontra-se o refúgio secreto da cidade — a Galeria Nova Barão. Para quem passa rápido, desatento, talvez o lugar pareça apenas mais uma galeria comercial. Mas para quem sabe onde olhar, ali, nas sombras dos corredores ao ar livre, se encontra um verdadeiro templo para os apaixonados por vinil.
Sua história começa no ano de 1964, idealizado como um espaço voltado à venda de pedras preciosas e serviços de cabeleireiro. Mas, nos anos 1990, a galeria passou por uma metamorfose silenciosa. As vitrines, antes dedicadas a penteados, começaram a exibir pilhas de discos de vinil, trazendo com elas um novo tipo de visitante — não mais ávidos consumidores de mercadorias capilares e exoticamente, de pedras, mas curiosos em busca de experiências que o digital jamais conseguiria imitar.
Hoje, os mais de 20 estabelecimentos da galeria abrigam um acervo vasto e eclético, do jazz ao rock, passando por raridades que podem valer verdadeiras fortunas. E embora haja um canto reservado para lançamentos mais recentes, o verdadeiro espírito do lugar permanece fiel ao passado. Como um santuário, onde os LPs, fitas e CDs são contemplados verdadeiras raridades. Entre as lojas que compõem esse pequeno universo, a Sonzera Records é uma joia. Sob as luzes azul neon, Luciano Sorrentino, o dono, percorre feiras e eventos em busca de preciosidades de MPB, jazz, soul, metal e rock. Em 2018, trouxe a loja para a galeria, criando um refúgio onde os fãs podem garimpar discos, singles, cassetes e CDs selecionados a dedo.
Ali, à direita da escada rolante, destaca-se a Locomotiva Discos. Toda em tons de vermelho vibrante, ela traz um ar moderno, com um catálogo cheio de raridades que chegam a ultrapassar os R$3 mil, mantendo vivo o espírito de troca e a paixão pela música. Cada uma das 23 lojas da galeria possui seu próprio charme, peculiaridades, oferecendo desde discos raros até clássicos eternos, mas todas com um mesmo propósito: preservar a essência do vinil e conectar gerações através da música.
Como um arqueólogo sonoro, você percorre os vinis que já passaram por tantas mãos, cada um carregando uma melodia que desafia o tempo. Caminhando pelas curvas da galeria, é possível sentir que cada canto guarda algo a mais: uma memória, um eco de uma época que nunca se apagou completamente.
A Galeria Nova Barão pulsa musicalidade. Depois de uma visita, é difícil não sair com uma vitrola, um disco, ou com a vontade de começar uma coleção. Assim nasce um próprio ritual mensal. Em um mundo cada vez mais digital, a galeria resiste como um espaço onde o vinil não é apenas um disco à venda, mas um pedaço de história cultural. Um local que, através das gerações, mantém viva a chama da música, sendo um verdadeiro refúgio dos vinis e impossível de se apagar.