Gabriela Mayer, jornalista e apresentadora, conta sobre coberturas, podcasts e assédio de público

Em entrevista coletiva, Gabriela Mayer fala sobre a cobertura de Brumadinho, literatura e as consequências da exposição de apresentadores
por
Maria Clara Lacerda
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24/05/2021 - 12h

Na aula de Oficina do Texto Jornalístico, 12, mediada pelo professor Aldo Quiroga, foi realizada uma entrevista com a apresentadora e repórter da Band News FM, Gabriela Mayer. Ela é formada em jornalismo pela Cásper Líbero e, atualmente, apresenta Alta Frequência, na Band, além do podcast Elas com Elas. Na aula, foi conversado sobre suas coberturas mais importantes, os comentários que ela recebe vindos de sua exposição, e muito mais.  

E, ainda, fora da Band News, Mayer fundou a rádio Guarda-Chuva, sendo uma rede apenas de podcasts jornalísticos, e a primeira do Brasil. Dentro da Guarda-Chuva existe o Põe na Estante, um podcast de literatura da própria apresentadora. Ele é um clube do livro no formato de podcast com troca de ideias e impressões de convidados sobre o livro do momento.

Gabriela Mayer conta que os dois podcasts são produzidos inteiramente de forma independente, ou seja, tudo é realizado por ela, desde a produção, roteirização, até a postagem. A jornalista diz que há um financiamento coletivo, onde os ouvintes contribuem com valores mensais, e que isso a ajuda na melhoria das produções. Por exemplo, ela paga o “mixador” e o artista plástico que desenha as capas. 

Reprodução de Instagram @gabrielacmayer
Foto reprodução instagram
Disponível em @gabrielacmayer

Falando sobre literatura, ela conta: “Sou uma leitora voraz, gosto muito dos livros, acredito muito na literatura e acho que ela tem um potencial transformador muito grande”. Sobre o jornalismo e no que diz respeito a motivação, Mayer diz que precisava escolher uma carreira para o vestibular, sem a certeza do que queria – estava entre direito e jornalismo. Mas, no fim, ela continuou na área jornalística por ver o motivo em cada uma das histórias, “Também vejo potencial no jornalismo, ainda que seja um pouco idealista” completando que é um importante pilar na democracia, na construção da crítica e para a capacidade de alteridade. 

Logo depois, sobre o trabalho na prática, Gabriela Mayer conta o episódio de Brumadinho, onde ela realizou a cobertura mais importante de sua vida. Mayer ainda acompanha os acontecimentos da tragédia, mesmo não fazendo publicações, pois foi muito marcante não só pelo acontecimento, mas por tudo que a jornalista reflete sobre si mesma e sobre as melhorias futuras que aconteceram na sua vida profissional.

 Assim, ela conta: “Eu estive lá quando a barragem se rompeu, fiquei quase dez dias e voltei seis meses depois para produzir essa série de reportagens, que foi finalista do (prêmio) Herzog.” Mayer completa que se envolveu emocionalmente e que, com isso, houve um desafio extra, dizendo, ainda, que não concorda quando falam sobre o jornalista ser frio e distante, “É inevitável que você tenha emoção envolvida porque você ‘tá’ falando de uma tragédia, de um crime que deixou 270 pessoas mortas”.

A apresentadora revela que não é tranquilo assistir tudo aquilo, estar no silêncio da morte, ver os corpos sendo retirados da lama, sentir o cheiro de decomposição e presenciar a miséria em que as pessoas se encontram após a tragédia, “Foi uma cobertura muito difícil de fazer, mas eu considero muito importante não só pelo teor das histórias, mas considero pessoalmente importante pra minha trajetória como jornalista”.

Mudando o assunto, Gabriela Mayer conta da sua transição para o rádio, pois sempre trabalhou na televisão. Mayer conta que trabalhar com rádio é apaixonante, mas que sente muita falta das imagens, “A construção da história com imagens sempre fez muito sentido pra mim”. Entretanto, ela diz que vê muitas possibilidades no rádio, como, por exemplo, quando algo acontece é possível colocar uma pessoa no telefone, rapidamente, para falar sobre o ocorrido.

Além disso, a apresentadora explica que encontrou dificuldades na adaptação por serem linguagens muito diferentes. Ela fala que a descrição é algo importante, então, precisou passar a descrever muito mais do que antes, já que com imagens não era necessário. Sobre a apresentação, ela conta que não é tão roteirizada, então a improvisação precisa estar ali. E, por fim, Mayer fala sobre a mesa do âncora: “A mesa é enlouquecedora. Você tá falando, pensando no que vai falar, operando a mesa, e aí alguém entra avisando que o fulano de tal caiu na ligação então não é pra chamar mais.”

Indo para uma temática delicada, Gabriela Mayer fala sobre como lida com a exposição e todos os comentários que existem com ela. “Eu lido mal. Eu me lembro de uma vez, na TV Cultura, que um telespectador escreveu para reclamar que eu não deveria apresentar um jornal e muito menos ficar em pé porque meu corpo não era adequado pra ser apresentadora de TV. Eu fiquei arrasada”.

Ela ainda revela que é muito suscetível aos comentários, e que muda muito o conteúdo para os homens. Normalmente, as mensagens negativas da rádio são direcionadas para a apresentadora especificamente por ela ser mulher, como “vaca”, segundo exemplo da jornalista. Mayer também diz que quando são reclamações sobre o conteúdo, ela responde diretamente pelo aplicativo WhatsApp – canal aberto com o público – e que vê a falta de diálogo e como isso dificulta a disseminação das notícias reais, já que as pessoas usam trechos de programas que espalham notícias falsas para rebater aquilo que foi noticiado com veracidade, “Parece que a notícia e o post do Facebook têm o mesmo peso”.

Ainda sobre exposição, Gabriela Mayer fala que lida mal com o assédio que sofre também, “Também lido mal, porque eu respondo muito às pessoas e às vezes eu demoro muito pra perceber quando uma linha tá se cruzando ali, e as vezes vira uma perseguição”. Ela conta que acha legal que a achem bonita, mas que não gosta quando associam isso ao que ela é e que por esse motivo, apenas, ela chegou aonde está, “Tô ali por outros motivos, sabe?”