Depois da Segunda Guerra Mundial, a indústria da moda alavancou seu próprio desenvolvimento e ganhou um espaço enorme no cenário econômico mundial. Na Itália, isso não foi diferente. O conceito da alta-costura acabara de ganhar notoriedade, e foi em Florença que os desfiles ganharam vida. No ano de 1958, criou-se a Câmara Nacional da Moda Italiana. Como resultado, os desfiles e marcas de luxo passam a ser cada vez mais considerados importantes por cidadãos de todo o mundo. Em junho de 2024 a capital recebeu, mais uma vez, uma semana de moda com direito a passarelas de luxo dedicadas exclusivamente ao men'’s wear.
Na Fashion Week de Milão (primavera/verão 2025), vários olhares se curvaram para a entrada de Adrian Appiolaza na Moschino, com a coleção "Lost and Found" ("Achados e Perdidos"). A perspectiva inovadora do novo diretor criativo da marca mistura moda e nostalgia. A era do empoderamento "bossy" ("mandão" ou "mandona", em inglês) foi desmanchada a partir do momento que blazers começaram a se mostrar como vestidos, tops com clipes de papel e jaquetas cheias de post-its.
Zegna
Alessandro Sartori, diretor artístico da Zegna, criou uma atmosfera semelhante a um campo de linho em sua passarela. Sua inspiração vem da relação entre o homem e a natureza, e isso se dá a partir das lâminas de linho confeccionadas em metal e os tons terrosos presentes na paleta de cores como o terracota, o bege e o amarelo. "Oasi of Linen" ("Oásis de Linho") quis evidenciar a riqueza desse material, ao mesmo tempo em que faz jus a ideia da coleção.
Gucci
Dessa vez, o local escolhido pela Gucci para o lançamento de sua nova coleção foi o "Triennale Milano", uma clássica galeria de arte construída em 1930. Sabato De Sarno, diretor criativo da marca, utilizou da arquitetura e da iluminação da casa a seu favor. As peças transmitem um ar jovial e surfista, com conjuntos gráficos de shorts e camisas, chinelos e óculos de sol pendurados por uma gargantilha da maison. Camisetas polo, e peças um pouco mais justas também foram destaque, assim como as cores: tons de magenta, amarelo e verde. Tipicamente de De Sarno, enfeites floridos foram acrescentados aos looks, trazendo mais sofisticação para roupas feitas para serem usadas no dia-a-dia.
Giorgio Armani
Armani lançou sua coleção deste ano de forma discreta. O estilista vem fazendo isso durante toda a sua carreira, prefere evitar conjuntos extravagantes e desmedidos. Armani prefere minimalismo e elegância atemporal, evitando tendências passageiras e cenários elaborados de desfile.
As peças de alfaiataria desconstruídas com um toque de extravagância, proporções generosas, camisas e coletes translúcidos, e uma paleta de cores clássica de Armani em tons de cinza e marinho.
O espírito viajante, outra marca registrada do estilista, também esteve presente na coleção. Estampas nebulosas de folhas de palmeira e chapéus de palha ou algodão evocavam destinos exóticos e um clima de descontração. Armani, "Il Maestro", foi aplaudido de pé após o fim do desfile.
JW Anderson
Jonathan Anderson obteve inspiração através dos princípios da hipnoterapia, técnica terapêutica de hipnose. Equilibrando o estranho com o sedutor em um estilo impecável, Anderson apresenta uma série de peças que desafiam as expectativas e aguçam os sentidos.
Inicialmente, três looks estrearam a passarela; jaquetas acolchoadas over-sized, coletes e cardigans de malha. Anderson soube utilizar as medidas das roupas a seu favor, limitando ou ampliando as proporções das peças , com silhuetas alongadas ou encurtadas e gravatas enormes que desafiam as
normas. Saliências de cetim colorido e camisetas acolchoadas e redondas conferem um toque escultural às peças.
Alguns trajes também traziam memórias e sonhos que foram retraídos no subconsciente. De acordo com o diretor criativo , parte de seu entusiasmo aconteceu em sua última viagem ao festival de música Primavera Sound, na Espanha; "A experimentação de roupas entre as gerações mais novas é incrível. (...) O olhar da moda masculina e feminina mudou. As pessoas querem algo realmente desafiador".
Martine Rose
O desfile da britânica Martine Rose foi marcante. Espectadores especularam como Rose conseguiria trazer sua característica underground para as passarelas italianas. O show aconteceu em um prédio industrial recheado de panfletos da marca pelo chão. As modelos desfilavam com narizes prostéticos e perucas que se arrastavam pelo chão.
Homens utilizavam saias lápis ajustadas ao corpo, ou calças cortadas para parecerem polainas. Camisetas de futebol encolhidas e mais justas, e diversas referências à vida noturna. A coleção celebrou a individualidade e a expressão autêntica, independentemente da idade ou das expectativas sociais, referenciando também a vida noturna e seus códigos de vestimenta abundantes, criando uma conexão autêntica com a estética urbana da designer.
Prada
O depósito de Fondazione Prada recebeu uma nova instalação: uma cabana branca elevada por palafitas. De fora, luzes piscantes simulavam que uma grande festa acontecia lá dentro. Miuccia Prada e Raf Simons, co-diretores criativos da
marca, descreveram o espaço como uma "ravescape de conto de fadas", onde a coleção celebrava "liberdade, otimismo juvenil e energia".
A ideia era ter peças que pareciam já ter "vivido uma vida", com silhuetas dinâmicas e propositalmente deformadas, encolhidas e exageradas. Mangas curtas, como se as peças tivessem sido emprestadas ou trocadas, camisas tortas e calças estreitas caídas na cintura e acumuladas nos tornozelos, criavam uma estética descolada e autêntica. A coleção também brincava com a percepção, desafiando o que os olhos viam. Camisetas bretãs trompe l'oeil com listras distorcidas, "cintos" de couro na cintura baixa que na verdade eram parte das calças e enormes óculos de sol com lentes adornadas com fotos de raves, estátuas romanas e estradas americanas criaram um clima surreal e desorientador. As estampas do artista Bernard Buffet, usadas "como uma camiseta de show", adicionam um toque artístico à coleção. Acessórios como bolsas de ombro com alças trançadas e sandálias de plataforma reforçavam a estética descontraída e jovem. "
Emporio Armani
Nesta temporada, a Armani transportou seu homem urbano habitual para a selva, explorando temas de aventura e desinibição. A paleta de cores terrosas dominou a coleção, com tons de verde musgo, marrom profundo e cáqui.
Camisas largas e volumosas combinavam com calças amplas e botas robustas, inspiradas no mundo equestre. A alfaiataria impecável da Armani se fez presente em jaquetas estilo safári e quimonos fluidos, enquanto o foco na cintura era constante, marcado por cintos em jaquetas utilitárias e detalhes em couro que realçam os blazers leves e descontraídos.
O desfile chegou ao fim com um toque inesperado: um aroma de lavanda pairava no ar enquanto modelos vestidos com lederhosen (calças de couro tradicionais alemãs) percorriam o espaço carregando cestos de flores primaveris. A natureza,mesmo que domesticada nesse contexto, permeia toda a coleção, criando uma atmosfera única e memorável.
Fendi
Silvia Venturini Fendi, diretora das coleções masculinas e de acessórios da casa, revelou ter se inspirado em um mergulho profundo no rico arquivo da Fendi para criar essa coleção. Celebrando o centenário da marca romana neste ano, a designer concebeu um brasão comemorativo composto por quatro dos motivos mais icônicos da Fendi, incluindo o famoso emblema duplo F, que adornava suéteres e camisas na passarela. Essa estética conferiu à coleção um ar de time do colégio, algo que Venturini Fendi já havia mencionado em entrevistas pré-desfile, expressando seu desejo de que a Fendi se sentisse como um time ou clube.
Suéteres listrados de rugby e gravatas combinando desfilavam lado a lado com jaquetas xadrez, blazers escolares e uma versão divertida da camisa de futebol. O resultado foi um uniforme coeso para o clã Fendi – e sua ampla base de fãs internacionais – ostentar com orgulho neste ano marcante do centenário da marca.
Dolce & Gabbana
Inspirados nos verões italianos despreocupados, Domenico Dolce e Stefano Gabbana criaram uma coleção que exala elegância descontraída. A ráfia, um elemento clássico da mobília italiana, se destaca como um dos materiais principais da coleção. Tecida em jaquetas de verão arejadas e camisas pólo oversized, a ráfia evoca a sensação de frescor e leveza dos dias ensolarados.
A alfaiataria impecável, marca registrada da marca, permanece presente, com destaque para os paletós trespassados combinados com calças plissadas que se ajustam na barra, remetendo à década de 1950.
Para um toque de personalidade, a coleção é enriquecida com detalhes bordados e ornamentais. Ramos de flores vermelhas delicadas adornam calças e jaquetas brancas, conferindo romantismo e elegância à silhueta.
MSGM
No sábado pela manhã, Massimo Giorgetti celebrou 15 anos da sua marca MSGM com um desfile de moda masculina ambientado em uma antiga garagem industrial nos arredores de Milão. A coleção, inspirada no mar e com uma estética limpa e gráfica, foi apresentada em um cenário vibrante de explosões de tinta em cores primárias contra caixas de Perspex que revestiam a passarela. Giorgetti explicou que a coleção fez referência às pinceladas ousadas e aos motivos gráficos que se tornaram a sua assinatura ao longo dos anos, reinterpretados aqui em uma variedade vibrante de estampas.
Padrões náuticos, margaridas coloridas e impressões pictóricas de cenas litorâneas, evocaram as memórias do designer de sua casa à beira-mar na Ligúria, perto de Portofino, onde a coleção foi idealizada. A atmosfera do desfile era a personificação do verão mediterrâneo. Com sua energia positiva e vibrante, o desfile transportou os convidados da Milão nublada para a ensolarada Riviera italiana.