Evandro Teixeira: A lente que retratou a história do Brasil

Com 70 anos de carreira, se consagra como o maior fotojornalista do país
por
Majoí Costa
Nicole Conchon
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21/11/2024 - 12h

Neste mês de novembro, o Brasil perdeu um grande fotógrafo. Ao longo de sete décadas, o fotojornalista Evandro Teixeira se tornou uma referência na fotografia documental brasileira, capturando momentos cruciais do país e imortalizando, com suas imagens, as transformações sociais, políticas e culturais.

Teixeira não foi apenas um fotógrafo, mas um contador de histórias. Durante 70 anos de carreira, seu trabalho transcendeu a simples captura de imagens, tornando-se uma ferramenta essencial na compreensão de momentos decisivos para o Brasil.

 

A lente do compromisso

         O fotojornalismo, como área profissional, exige mais do que a técnica fotográfica; exige comprometimento com a verdade e com a representação fiel dos fatos. Teixeira deixou isso bem claro durante toda a sua vida, ao se dedicar nesse trabalho durante um período de grandes transformações políticas e sociais, desde a ditadura militar até hoje.

         Suas fotos não apenas documentam, mas também provocam reflexões sobre o papel da imagem no campo jornalístico e no impacto de uma fotografia na construção da memória coletiva.

 

Passeata dos Cem Mil. Rio de Janeiro, 1968
Passeata dos Cem Mil. Rio de Janeiro, 1968. Reprodução: Acervo IMS

 

O início da jornada

         Natural da Bahia, de Irajuba, um povoado a 307 quilômetros de Salvador, saiu de sua terra para fotografar o Brasil. Em quase 70 anos de atividade, 47 deles no Jornal do Brasil, registrou o golpe de 1964 e as manifestações estudantis de 1968.

Ao longo da década de 1970, ele se tornou um dos principais fotógrafos da revista Realidade, uma das publicações mais inovadoras do período. Foi nesse momento que Evandro fotografou suas fotos mais conhecidas, em que aprendeu a trabalhar sob pressão, capturando a tensão e os conflitos da ditadura militar.

         Além de sua atuação no Brasil, Teixeira teve uma carreira internacional, cobrindo grandes eventos como a Revolução Nicaraguense (1979) e a guerra civil em El Salvador. Fotografou a Rainha Elizabeth e eternizou imagens icônicas de Ayrton Senna e Pelé. É difícil dissociar seu trabalho de qualquer evento no país que ocorreu durante a segunda metade do século XX.

Caça ao estudante. Sexta-feira Sangrenta. Rio de Janeiro, 1968
Caça ao estudante. Sexta-feira Sangrenta. Rio de Janeiro, 1968. Reprodução: Acervo IMS

 

O fotógrafo foi alvo de perseguição, sendo várias vezes ameaçado e perseguido pelos militares. Mesmo com os riscos, ele continuou a registrar a realidade do regime, contribuindo de maneira significativa para a memória histórica do período.

 

Legado e reconhecimento

O trabalho de Evandro Teixeira foi amplamente reconhecido, com exposições em museus e galerias ao redor do mundo. Ele também foi premiado diversas vezes por sua contribuição ao fotojornalismo, consolidando seu nome como um dos mais importantes do Brasil.

Em um dos seus maiores feitos, em 2013, Teixeira foi agraciado com o Prêmio Vladimir Herzog, uma das maiores honrarias da área, por sua contribuição ao jornalismo e ao combate à censura e à opressão.

Seu legado vai além das inúmeras fotos que tirou, mas uma documentação completa dos principais momentos do Brasil. Retratou lutas e vitórias de um povo em busca de liberdade e justiça Suas imagens retratam isso, não apenas registrar a realidade, mas também as emoções que a história carrega consigo.