No início de 2023, com a tentativa de golpe pela invasão às sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário, o país reacendeu as memorias de um passado que não é esquecido, mas negligenciado por muitos. Refiro-me ao período da ditadura militar brasileira, que em 2019, foi “negada” pelo presidente à época Jair Messias Bolsonaro, ao declarar que: “[...] onde você viu no mundo uma ditadura entregar pra oposição de forma pacífica o governo? Só no Brasil. Então, não houve ditadura”. Em meios as tentativas de assolar os crimes cometidos pelos militares que tomaram o poder, os registros históricos vão em completa contramão do que afirmou, o ex-presidente. Para resgatar essas memorias fomos à exposição do acervo do jornalista Evandro Teixeira, que exibe fotografias dos períodos ditatoriais chileno e brasileiro.
Evandro Teixeira é baiano, de Santa Inês, nascido em 1935. Sua carreira começou em 1958, no O Diário de Notícias, em Salvador. Chegou ao Jornal do Brasil em 1935 e foi por lá que realizou seus grandes trabalhos. Entre estes, destacam-se: a cobertura da chegada do general Castelo Branco ao Forte Copacabana, no golpe de 1964; a repressão ao movimento estudantil no Rio de Janeiro, em 1968; o pós-golpe militar ocorrido no Chile, em 1973 e o velório do poeta Pablo Neruda.
A exposição conta principalmente com fotos que retratam a verdadeira face das ditaduras citadas: a violência, seja por meio de agressões, como a repressão de passeatas e manifestações, ou por meio da exibição de armamentos, como estratégia para intimidação.
Ao chegar no Chile, poucos dias depois após o golpe que ocorreu em 11 de setembro de 1973, Evandro e outro jornalistas ficaram em “quarentena” no Estádio Nacional, em Santiago. Antes de liberar a imprensa, os militares chilenos buscaram organizar o país, que ainda estava em transição, porém, não contavam que o conhecimento prévio de Evandro em relação ao Estádio o ajudaria a, de certa forma, burlar a reclusão (Evandro conhecia o Estádio graças a uma cobertura esportiva feita anteriormente), e fotografar os presos políticos mantidos no Estádio em segredo.
Nesse mesmo período, Evandro também cobriu a morte do poeta e político Pablo Neruda, ferrenho opositor ao ditador chileno Augusto Pinochet, que morreu 11 dias após o golpe. A causa da morte de Neruda é controversa, oficialmente é vinculada a um câncer de próstata, mas cientistas detectaram, em uma exumação posterior, moléculas que configuram envenenamento em seu corpo. O enterro contou com grande participação popular.
No Brasil, Evandro cobriu os principais eventos do período militar, buscando evidenciar a repressão que os protestantes sofriam durante as manifestações. O trabalho de Evandro é história. Não há margem para opiniões quando se trata de um fato, e a ditadura militar é um fato da história brasileira. Os registros fotográficos feitos servem para provar que, mesmo 38 anos depois, as memórias da ditadura ainda existem e devem ser compartilhadas para jamais caírem no esquecimento. Essa é a principal função e importância do trabalho do fotojornalismo para a sociedade.
O acervo de fotos de Evandro com o tema Chile 1973 continua em exposição até o dia 30/07, na Galeria 1 do IMS Avenida Paulista. A entrada é gratuita, e o instituto funciona de terça a domingo e aos feriados (exceto segunda), das 10h ás 20h. O acervo também contém fotografias sobre a ditadura brasileira e o enterro de Pablo Neruda. Todas as imagens utilizadas nessa matéria estão na exposição.