Soam vãos, dolorido epicurista,
os versos teus, que a minha dor despreza;
já tive a alma sem descrença presa
desse teu sonho, que perturba a vista.
Da Perfeição segui em vã conquista,
mas vi depressa, já sem a alma acesa,
que a própria ideia em nós dessa beleza
um infinito de nós mesmos dista.
Nem à nossa alma definir podemos
a Perfeição em cuja estrada a vida,
achando-a intérmina, a chorar perdemos.
O mar tem fim, o céu talvez o tenha,
mas não a ânsia da Coisa indefinida
que o ser indefinida faz tamanha.
Em busca da beleza - Fernando Pessoa