A semana de moda de Nova York começou nesta sexta-feira (6) e não falhou em trazer tradição, street wear e a sofisticação características da moda nova-iorquina. O segundo dia de desfiles contou com marcas como Prabal Gurung, que através das cores e tecidos fluidos trouxe alegria e esperança. E Monse, que inovou na vestimenta esportiva, apresentando novas formas e silhuetas, ambas entregando um novo olhar para o legado do evento.
A TRADIÇÃO DAS SEMANAS DE MODA
A história das semanas de moda tem início com Charles Frederick Worth, considerado o pai da alta-costura. No século XIX, ele inovou ao apresentar suas criações em modelos ao vivo, uma prática que seria continuada por estilistas em eventos glamourosos. Na década de 1920, Coco Chanel, Elsa Schiaparelli e Madame Vionnet consolidaram a alta-costura, criando desfiles exclusivos para clientes, sem a presença de fotógrafos, em um formato bem diferente do coletivo que se tornaria a Fashion Week.
A primeira semana de moda organizada foi a "Press Week", realizada em Nova York em 1943 por Eleanor Lambert. Criada durante a Segunda Guerra Mundial, a iniciativa buscava promover os designers americanos, já que não era possível viajar para a Europa. Ao mesmo tempo, na França, a Chambre Syndicale de la Haute Couture foi estabelecida em 1945, organizando desfiles de alta-costura de forma mais estruturada. Em 1962, Eleanor Lambert ajudou a fundar o Conselho de Designers de Moda da América (CFDA), com o objetivo de fortalecer o reconhecimento cultural, social e econômico da moda americana.
Com o tempo, as semanas de moda evoluíram, estabelecendo um calendário semestral para as principais capitais da moda: Nova York, Londres, Milão e Paris. Esses eventos apresentam as coleções de Outono/Inverno e Primavera/Verão, além de semanas específicas para moda masculina e alta-costura. A New York Fashion Week, pioneira no formato, é reconhecida por seu perfil comercial, equilibrando novos talentos e marcas tradicionais como Ralph Lauren e Michael Kors. A influência do streetwear e do athleisure wear, marcas do estilo americano, convivem com a sofisticação da moda nova-iorquina, refletindo as mudanças na forma como a moda é consumida e apresentada no cenário global.
MONSE
O desfile de primavera de 2025 da Monse foi um evento estrelado, contando com a presença de personalidades como Paris Hilton, Tiffany Haddish e Coco Rocha. Neste cenário, os designers Laura Kim e Fernando Garcia trouxeram uma dose extra de leveza e diversão à sua abordagem única de reinventar o athleisure wear em uma junção com a alfaiataria esportiva e masculina americana para mulheres que buscam uma elegância não convencional e natural.
A coleção se destacou ao reinterpretar elementos das roupas esportivas de forma literal, explorando camisas de rúgbi, jaquetas universitárias e peças inspiradas no atletismo das escolas preparatórias. Contudo, os momentos mais marcantes vieram das referências mais sutis e estruturais, como blazers reformulados e pregas que remetiam às saias de tênis, evidenciando o talento da dupla em equilibrar tradição e inovação.
Vale lembrar que Kim e Garcia também são diretores criativos da Oscar de la Renta, onde começaram suas carreiras. Nesta coleção da Monse, eles permitiram que sua experiência com o glamour clássico americano transparecesse um pouco mais, apresentando vestidos brilhantes dignos de tapetes vermelhos. Em meio a diversas referências esportivas, a coleção demonstrou a capacidade da Monse de explorar novas direções, mantendo sua combinação característica de alfaiataria refinada e ousadia lúdica.
PRABAL GURUNG
Combinando tradições festivas com uma sensibilidade ao atual cenário eleitoral do país, Prabal Gurung utiliza seu estilo fluido, repleto de cores e influências globais, para transmitir uma narrativa de renovação pessoal e comunitária.
O estilista e fundador da marca nasceu em Singapura e foi criado no Nepal. Após iniciar sua carreira em Délhi, capital da Índia, ele se mudou para Nova York para continuar seus estudos, mas suas origens sempre foram muito presentes em seus designs. Ao longo de sua carreira ele já vestiu personalidades importantes como Michelle Obama, Kate Middleton, entre outros.
Para a primavera de 2025, Gurung responde aos tempos difíceis recorrendo às tradições e à cor, revelando uma mensagem de otimismo e renascimento. A inspiração para a coleção surgiu durante uma visita ao Nepal, onde o designer participou do festival de Holi. Ao retornar aos EUA, em meio a um turbulento ciclo de notícias políticas, ele se deparou com a possibilidade histórica de uma mulher assumir a presidência, o que reavivou seu questionamento sobre o sonho americano.
“A celebração do Holi – há um abandono juvenil; há facilidade, diversão, devaneio e esperança. Fazia muito tempo que eu não me sentia assim – mas no minuto em que houve um anúncio de Kamala Harris, houve um ressurgimento da esperança. Eu tinha começado a coleção muito antes disso, mas aquele momento a uniu com essa explosão de otimismo e criatividade feminina”, disse o estilista sobre o processo criativo.
A coleção reflete o compromisso de Gurung com pregas, seleção meticulosa de tecidos e a fusão de estéticas ocidentais e orientais, incorporando um espírito de celebração, esperança e criatividade feminina. Esse otimismo se refletiu também na apresentação, que contou com uma banda orquestral liderada pela compositora Chloe Flower, uma coda surpresa toda em branco e um cenário icônico na 1 Centre Street — local que Gurung sempre sonhou em usar para um desfile, e que agora, finalmente, tornou-se palco de sua visão.