Cada ser humano tem o seu próprio senso de humor, que é formado por uma série de fatores biológicos, culturais e sociológicos. Por conta disso, a maneira de consumir o gênero da comédia em cada país, se diferencia. O Estados Unidos é conhecido por ser a maior potência na indústria do entretenimento, como consequência, também é o lugar que mais produz e consome conteúdos humorísticos. Lá, a comédia é uma indústria altamente profissionalizada. Os comediantes podem iniciar suas carreiras em diversos clubes de stand-up, estudar em escolas especializadas e são valorizados em suas profissões. Em contraste, o Brasil não possui um grande suporte institucionalizado para a profissão. Até existem clubes de apresentação, mas o brasileiro não possui a cultura de frequentá-los. O que leva os comediantes a dependerem de plataformas como o Youtube, para ganhar visibilidade.
Nos EUA, existem uma diversidade de modelos com bom desempenho, como os late-night shows, que são um gênero de programa de entrevistas, apresentados por comediantes que passaram por outros formatos de comédia, antes de se estabelecerem o suficiente para terem uma uma mesa e um sofá com convidados, em um dos horários nobres a televisão americana. Lá também é extremamente popular o programa de esquete, “Saturday Night Live” (SNL), que impactou e influenciou a indústria mundial do humor. Em 2010, a MTV Brasil, uma rede de televisão dedicada ao público jovem, começou a transmitir um programa chamado “Comédia MTV”, esse tendo como maior inspiração o SNL. Porém, o programa acabou sendo cancelado dois anos depois.
Para um dos roteiristas do “Comédia MTV”, Yuri Moraes, em entrevista à AGEMT, a "razão dele não ter dado certo, foi a falta de incentivo aos participantes do projeto. “As emissoras, querendo ou não, não pagam o suficiente para ser a única coisa que o pessoal tá trabalhando. Então, eu acho que o tempo de dedicação das pessoas ao projeto é um fator”, diz Moraes.
Além da tentativa da MTV Brasil fazer um programa similar ao Saturday Night Live, Moraes acredita que nos EUA existe uma cultura de celebridades mais intensa, e aqui existe uma falta de humor autodepreciativo das pessoas públicas e a falta de vontade delas de serem associadas ao humor. “O programa foi transmitido pela RedeTV, e eles convidaram, mas quase nenhuma das celebridades da Globo, que seria o nosso equivalente a Hollywood, aceitaram o convite”. Então, o formato de esquetes foi aplicado mais uma vez pelos produtores da comédia brasileira, mas dessa vez com sucesso.
No início de 2012, os humoristas: Fábio Porchat, Ian SBF e Antônio Tabet, se reuniram para criar um canal no Youtube, abordando temáticas que eles não conseguiam fazer na televisão, no tempo em que eram roteiristas. Esse canal foi nomeado por eles de “Porta dos Fundos”, e veio para mostrar como o humor na internet poderia competir com a TV e ser altamente lucrativo.

Foto: Divulgação/Thay Rabello
No entanto, enquanto o modelo de esquetes encontrou um caminho de sucesso na internet brasileira, outro formato de comédia americana, chamado de sitcom, nunca conseguiu se estabelecer com a mesma força no Brasil. “Existem programas, como : ‘Eu a Patroa e as Crianças’, ‘Um maluco no pedaço’, ‘Todo mundo odeia o Chris’, que funcionam muito bem no Brasil. Então, não sei se isso ainda não conseguiu ser produzido, porque é super difícil fazer um programa desses assim dar certo, e ainda conseguir refletir com o humor daqui. Mas tiveram alguns que conseguiram chegar perto, como o ‘Sai de Baixo’, que teve um impacto cultural bem forte, apesar de ter apenas um cenário e ser um pouco mais teatral", diz Moraes.
Uma análise realizada pela Folha de S. Paulo constatou que a cada três filmes do ranking dos cem títulos brasileiros de maior audiência, transmitidos no cinema, dois são do gênero de comédia. Por conta dessa popularidade, a ocupação da comédia em salas de cinema pelo Brasil, aumentou. Entre as 45 mil telas que transmitiram filmes nacionais com maior bilheteria, 30 mil receberam obras de comédia presente em um dos seus gêneros. Um dos responsáveis pelo sucesso do humor nos cinemas, foi o ator Paulo Gustavo. Seu último filme antes de sua morte, foi a comédia com maior público e rentabilidade do país.
Embora os formatos que fazem sucesso em cada país não sejam os mesmos, uma coisa é certa: todos os países consomem a comédia. Enquanto os Estados Unidos consolidaram suas indústrias televisivas e cinematográficas, o Brasil encontrou na internet um caminho para dar mais espaço aos comediantes e explorar novas formas de fazer rir. No fim, o que diverte um público pode não funcionar para outro, mas a necessidade de rir continua universal – mesmo que cada país tenha a sua própria maneira de fazê-lo.