Em setembro deste ano, as queimadas no pantanal se intensificaram de tal forma que os focos de calor ultrapassaram 5.600 em número, superando o recorde do mesmo mês em 2007, de 5.498 (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O turismo internacional no Brasil já havia sofrido grande impacto por conta da pandemia da covid-19 que fechou as fronteiras, e agora, as queimadas no Pantanal podem prejudicar a conservação de onças via turismo e a proteção garantida no Parque que esteve em contato com o fogo.
Grande parte das regiões brasileiras possuem uma vasta área que poderia tornar o Brasil referência, se não o foco, do ecoturismo mundial. Seja por conta dos Pampas Gaúchos no Sul do país, as praias de Salvador no Nordeste, a Floresta Amazônica no Norte, trechos da Mata Atlântica no Sudeste ou o Pantanal no Centro-Oeste; o fato de ser possível potencializar a economia brasileira e, ao mesmo tempo, acabar com o extrativismo madeireiro e queimadas, deveria tornar o potencial do turismo brasileiro pauta nos grandes jornais do país.
Luciano Palumbo, fundador do Turismoetc, que conta com grande acervo de informações sobre viagens, gastronomia e entretenimento; e embaixador do GreenPress, Rede de Turismo Consciente sem fins lucrativos, composto por uma equipe de 27 jornalistas e formadores de opinião, aponta que o grande motivo da falta de interesse da mídia em dar voz aos nossos biomas fora das tragédias que eles sofrem, é por conta, na verdade, do desinteresse da população: “grande parte dela, não liga para as questões ambientais, não liga para as queimadas na Amazônia”. Apesar de em pesquisas a população se colocar a favor da proteção do ecossistema brasileiro, pouco se fala dele quando nada visualmente alarmante está acontecendo.
Pesquisa feita pela WWF-Brasil aponta que dois em cada três brasileiros não sabem onde se localiza o Bioma do Pantanal, o que é um grande indicador do porquê só se ouve falar e só se fala dos nossos biomas quando eles estão em imediato perigo. Outra questão levantada durante entrevista com o jornalista, é se essa desinformação não parte da falta de interesse do brasileiro em fazer turismo dentro do país.
“Ainda falta o brasileiro conhecer mais do Brasil, temos o sonho de viajar para a Disney, Buenos Aires, de conhecer a Itália, de pisar na Torre Eiffel, mas a gente não conhece o interior do nosso país. Não conhecemos a riqueza que temos no Pantanal, na Serra Gaúcha, na Amazônia, no Cerrado...”
Michelle Alves, de 26 anos, publicitária e dona do blog e maior canal de intercâmbio do Brasil no youtube, “Mi Alves”, compartilha do mesmo pensamento, “A grande maioria dos brasileiros desde cedo aprecia os EUA, o frio da Europa, as Praias do México, mas esquece como o Brasil é diverso e bonito,” e que acredita que um dos motivos disso é a comparação dos preços entre viagens nacionais e internacionais, o que gera a pergunta “Com esse dinheiro eu vou para tal lugar, não vou gastar isso tudo para ficar no Brasil...” e que a escassa divulgação do turismo brasileiro se concentra na chamada de estrangeiros e não com intuito de atrair pessoas do próprio país. Dados retirados do Plano Nacional de Turismo 2018-2022, revelam que menos de um terço da população viajam pelo Brasil e que, ainda assim, essa locomoção representava, em 2016, 3,5% do PIB do setor de viagens e turismo, o que torna simples ver a dimensão que o turismo doméstico poderia tomar caso impulsionado.
“Um ou outro estado que cria campanhas pontuais para atrair a atenção de outros brasileiros, falo isso porque moro em Blumenau e aqui só tem campanha pra conhecer a cidade na época da Oktoberfest, mas a cidade é muito mais que a festa, tem muitas coisas legais pra fazer.”
Valorizar o turismo nacional parte de duas frentes: a vontade do viajante “O primeiro caminho, é mudar o foco”, aponta Palumbo; e a valorização e consumo da chamada Mídia Ambiental, que diferente da cobertura de outros veículos - que termina assim que o problema é controlado, - mantém o assunto em foco, visando estudar e oferecer diagnósticos sobre as consequências, causas e repercussão, o que pode gerar uma parceria sobre como o turismo ajuda a preservar o meio ambiente; além da divulgação de nossos biomas, não como alvo de tragédias, mas como agentes potenciais da economia e ecossistema, como aponta Alves “A informação nas mídias sobre esses biomas e como protegê-los, deveria ser diária.”