Muitas vezes o exercício jornalístico envolve a investigação e a publicação daquilo que determinados grupos não querem que seja revelado, o resultado disso é a perseguição a esses profissionais.
Ontem (27) o “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” destacou um grupo específico de perseguidores e perseguidos: os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) e mulheres jornalistas.
De acordo com a Fenaj ( Federação Nacional dos Jornalistas), uma das associações convocadoras do ato, o ano de 2021 registrou recorde de registros de ataques aos profissionais e aos veículos de comunicação. Cerca de 34,19% desses ataques foram promovidos pelo próprio presidente da República.
As jornalistas Patrícia Campos Mello e Bianca Santana, vítimas desse desrespeito do presidente Bolsonaro e seus apoiadores, estiveram presentes no encontro de maneira remota. Em sua fala, Patrícia relembrou a série de ataques que sofreu em 2018, após a publicação da série de reportagens sobre campanhas de desinformação.
Patrícia ainda relatou que as agressões iam de montagens de fotos a ataques diretos a sua integridade física. “Pessoas que ligavam pro meu celular dizendo que iam dar um murro na minha cara, mensagens dizendo que eu deveria sair do país se quisesse a segurança do meu filho [...] chegou um momento que eu não podia sair de casa porque eu tinha medo”, desabafou.
Em conjunto com a Fenaj, outras organizações convocaram a cerimônia, sendo essas: o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Repórteres sem Fronteiras (RSF), Instituto Vladimir Herzog, Associação Profissão Jornalista (ApJor), Barão de Itararé, Intervozes, Centro Acadêmico Vladimir Herzog (Cásper Líbero), Centro Acadêmico Benevides Paixão (PUC-SP). Ademais, tiveram a participação de corporações da sociedade civil entre eles o Grupo Prerrogativas, CONDEPE(Conselho Estadual de direitos da Pessoa Humana), OAB e o Grupo Tortura Nunca Mais.
A mesa foi presidida por Cláudia Tavares, integrante da diretoria do SJSP, e foi composta por Fábio Cypriano, diretor da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC (Faficla), Diogo de Holanda, coordenador do curso de jornalismo da universidade, Thiago Tanji, presidente do SJSP, Paulo Zocchi, vice-presidente da Fenaj (que representou também todas as demais entidades organizadoras do evento), Ana Amélia Camargos, representante do grupo prerrogativas, Natália Cristóvão, advogada da OAB, Ariel de Castro Alves, advogado representante do Grupo Tortura Nunca Mais e a vice-diretora do Centro Acadêmico Benevides Paixão (BENÊ), Maria Clara Alcântara.
Na sua fala, Maria Clara apontou a importância da defesa da democracia para o jornalismo brasileiro. "É impossível fazer jornalismo num país que não exista a democracia, principalmente como mulheres, porque eles atacam a gente não somente pela profissão, mas duvidam do nosso caráter e nos atacam diariamente no âmbito pessoal e profissional”, afirmou a estudante.
Sob essa perspectiva, a organização do evento exibiu um vídeo com depoimentos de oito jornalistas mulheres, de diferentes veículos, sobre as violências que sofrerem devido ao seu gênero e sua carreira. A gravação contou com depoimentos de Carla Vilhena, Flávia Oliveira , Josi Gonçalves, Amanda Audi, Paula Guimarães, Tatiana Dias, Tai Nalon e Juliana Dal Piva.
As mulheres viraram o principal foco dos ataques direcionados à imprensa, retrato que se ampara na misoginia da sociedade brasileira. A situação fica ainda mais tensa e intensa, como apontou Flávia Oliveira, d’O Globo, se a profissional for negra.
O depoimento de Bianca Santana foi o último a ser apresentado e logo depois a representante da Abraji, Cristina Zahar leu o documento preparado pelas entidades organizadoras que lembrou os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, enquanto realizavam seu trabalho na Amazônia em junho deste ano.