Taxa de desemprego atinge recorde de 14,7%: veja perspectivas

Contingente de desempregados aumentou 2 milhões em um ano, chegando a 15,2 milhões; desalento e subocupação também disparam
por
Rafaele Oliveira
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04/06/2021 - 12h

A taxa de desemprego chegou a 14,7% em março de 2021, o que significa uma alta de 2,5 pontos percentuais (p.p) quando comparado ao mesmo período do ano anterior, no início da pandemia de Covid-19. Os indicadores foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 27 de maio e fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua

Considerada em termos mensais – conforme a metodologia do pesquisador Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) –, a taxa de desemprego atingiu  15,1% em março, maior do que o registrado no mesmo mês de 2020 (12,8%). De acordo com o Ipea, anulando os efeitos sazonais, a taxa de desemprego passou de 14,3%, em fevereiro, para 14,8%, em março.

taxa de desocupação e população ocupada
Taxa de desocupação e população ocupada no período entre março de 2012 e março de 2021.
Gráficos retirados da Carta de Conjuntura 51 | Nota 19 | 2˚ trimestre de 2021
 

O Brasil possuía, em março de 2021, 15,2 milhões de desempregados, um aumento de 15,1% em relação a março de 2020 (13,2 milhões). Já a população ocupada era de 85,6 milhões, representando uma queda de 4,8% em comparação ao mesmo mês do ano passado (89,9 milhões), quando o início da pandemia já vinha reduzindo os postos de trabalho. 

As estimativas mensais para a Pnad Contínua constam da Carta de Conjuntura número 51 do Ipea, em relatório sobre o mercado de trabalho assinado por Marcos Hecksher e Maria Andreia Parente Lameiras, técnicos de Planejamento  e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas da instituição.   

População desocupada, subocupada e desalentada

Considera-se desocupada a pessoa com idade para trabalhar que não está trabalhando, mas encontra-se disponível e à procura de trabalho. Rogério dos Santos perdeu o emprego como vendedor de uma loja de conveniência em agosto de 2020. Desde então, busca uma recolocação. “Está difícil arrumar um emprego, ainda mais na minha idade. Eu faço alguns bicos para conseguir pagar as contas, mas todo mês eu tenho medo de não conseguir o suficiente”, conta.

Rogério faz parte de uma parcela da população que entrou na categoria de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas, ou seja, trabalhadores que têm uma jornada de trabalho inferior a 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais horas e estão disponíveis. Conforme dados do IBGE, o número de subocupados no trimestre móvel de janeiro  a março  de 2021 foi de 7 milhões de pessoas, crescendo 8,7% em relação ao mesmo trimestre de 2020.

Ainda há a força de trabalho potencial, que engloba duas categorias: primeira, os que não estão empregados, nem procuraram emprego recentemente, mas estariam disponíveis para trabalhar e, segunda, os que procuraram trabalho, mas não estavam disponíveis na semana de referência. Da soma desses três grupos origina-se a taxa composta de subutilização, cujo total foi de 29,7% no trimestre  encerrado em março, crescendo 0,9 p.p. frente ao trimestre móvel anterior (28,7%) e  5,3 p.p em comparação com o mesmo trimestre de 2020 (24,4%). 

Por fim, a população desalentada inclui pessoas que gostariam de trabalhar e estariam disponíveis, porém não procuraram trabalho por acharem que não encontrariam. O número de desalentados no trimestre móvel de janeiro a março de 2021 foi de 6 milhões, um recorde da série histórica iniciada em 2012, crescendo 25,1% ante o mesmo período de 2020.

O que está por trás das altas taxas de desemprego?

A crise econômica, iniciada em 2014, abriu feridas no mercado de trabalho, que até hoje não cicatrizaram. A redução dos investimentos em vários setores levou empresas a produzir menos e demitir parte de seus funcionários. O reflexo disso está na diminuição do consumo de bens e serviços, resultando em um encolhimento da economia no país. 

O professor de economia da FMU Marcos Henrique do Espírito Santo explica que o alto índice de desemprego é uma questão estrutural. “O desemprego alto é motivado por vários fatores, entre eles, uma desaceleração da economia nacional, que começa com as manifestações de 2013, depois piora com a Lava Jato. Desde então, a gente está nesse marasmo de altas taxas de desemprego, com investimento que não decola e com uma péssima confiança em relação ao futuro.” 

O futuro do mercado de trabalho no Brasil

Especialistas não estão otimistas quanto às perspectivas para o desemprego no Brasil. Segundo Marcos Henrique, além dos 15 milhões de desocupados, há outros 6 milhões de desalentados que, quando voltarem a procurar emprego, irão aumentar a taxa de desemprego.

A previsão é de que, a partir do segundo semestre, a atividade econômica comece a aumentar um pouco. “A perspectiva é que essa taxa de desemprego possa vir a cair, de 14,7% para 13%, algo assim”, estima o professor. Para ele, o setor de serviços, principal afetado pela pandemia, também é o que pode se recuperar mais rápido, à medida que as restrições vão terminando. Até mesmo categorias menos prejudicadas, como construção civil e agropecuária, ainda estão muito longe do período anterior à crise sanitária.

Qual é a solução?

Os estudiosos entendem que é preciso pensar em um novo plano econômico, com o objetivo de aumentar o investimento. “Derrubar o teto de gastos e discutir o tripé macroeconômico, além de reordenar tudo isso em um plano nacional que inclua empregos e investimento de alta tecnologia, é fundamental para que o Brasil recupere o ciclo de crescimento e, portanto, consiga derrubar de maneira estrutural essas taxas de desemprego tão altas”, finaliza Marcos Henrique.