Semana de Jornalismo da PUC-SP: mesa feminina debate videogames

Na primeira mesa de games em 43 anos, quatro especialistas conversaram sobre machismo e jogos
por
Hiero de la Vega de Lima
|
14/06/2021 - 12h

Na quinta-feira (10/06), durante a 43ª Semana de Jornalismo da PUC-SP, realizada de forma remota devido a pandemia de Covid-19, teve um debate sobre a presença feminina no jornalismo de games. Mediada pelo professor e coordenador do curso Fabio Cypriano, ele ressaltou que, em 43 anos da Semana, esta foi a primeira abordagem do tema videogame: “é ainda mais histórico porque é uma mesa totalmente de mulheres”, completou.

O debate teve a participação de Victória “Vic” Rodrigues e Domitila “Domi” Becker, comentaristas do campeonato oficial brasileiro de Rainbow Six: Siege; Thais Weiller, co-fundadora do estúdio JoyMasher e professora de game design na PUC-PR; e Giovanna Breve, ex-Loading, atualmente freelancer para o Start UOL e colaboradora do blog Garotas Geeks. Entre perguntas enviadas pelo chat, elas falaram sobre machismo, paixão por games e seus lugares na comunidade gamer.

Perguntadas sobre os casos Gabi Cattuzzo e Isadora Basile, influenciadoras assediadas por internautas e demitidas em vez de serem acolhidas pelas empresas para as quais trabalhavam, as meninas falaram sobre se sentirem contempladas pelo ambiente de trabalho. “Eu fui a primeira mulher no mundo a ser comentarista de Rainbow Six, e antes da minha estreia pensava: vão vir para cima de mim com uma doze”, relata Vic. “Mas a comunidade já me conhecia de torneios não oficiais, e eu não tenho o que reclamar da Ubisoft [desenvolvedora do jogo e empregadora da comentarista]. Sei que é um privilégio, mas sempre me apoiaram”, diz Vic, que acrescenta que muitos dos haters mudaram de opinião: “Eu já vi ‘ah, é mulher’ virando ‘pô, ela é mulher, mas manja do jogo’. E eu tenho uma teoria: se o hater é muito dedicado, é apaixonado enrustido (risos)”. Mas lamenta: “quando se é mulher, não se tem espaço para errar”, lembrando novamente os casos das colegas influenciadoras. 

Contudo, todas concordam que, apesar da comunidade gamer ter, como tantas outras mídias, um problema de machismo e racismo, é, pelo menos, um problema discutido. “Lembro que uma vez em um campeonato, tinham mulheres jogando e a câmera ficava focando na saia delas. Dois meninos que estavam assistindo falaram que perderam o interesse, acharam o ambiente machista. Eu fiquei muito orgulhosa”, conta Domi.

Todas discutiram o amor por videogames: Weiller responde a uma pergunta do chat sobre a visão negativa que muitos gamers têm do jornalismo da área apontando que os fãs criticam de uma maneira mais apaixonada. “Eles ficam bravos, ‘como assim, aquele site deu uma nota baixa para aquele jogo da Nintendo que marcou a minha vida?!’”, brinca. Ela lamenta a quantidade de manchetes caça-cliques nos veículos de games, mas aponta: “é necessário para o site sobreviver”.

Vic e Domi falam das experiências no Rainbow Six: “eu chorei quando a NiP [time brasileiro do jogo] ganhou o mundial, e esse choro meu veio de acompanhar o Brasil crescendo nos games, fazendo história! Foi como se fosse o Galvão narrando o tetra”, compara Vic. “Muita gente já me deu feedback falando que não joga, mas assiste as streams e se diverte. É muito legal”, acrescenta Domi.

Giovanna Breve, que escreveu uma matéria sobre uma campanha de democratização de games inspirada pelo relato de um fã do RPG Persona 5 (2017, PS3/PS4), comemorou o gigante Free Fire, jogo de tiro para celulares em formato battle royale, onde até 50 jogadores combatem em uma ilha até que apenas sobre um, como na série Jogos Vorazes. “É um jogo enorme, tem campeonato profissional, e é super acessível”, destaca. Free Fire é gratuito para baixar em modelos iOS e Android.

Em geral, todas as entrevistadas veem no universo gamer um ambiente com grande potencial para melhorar, apesar de lamentarem a toxicidade. “A área atrai muito incel [termo em inglês que significa “celibatário involuntário”, homens que não conseguem se relacionar com mulheres], mas eu não acho que isso deva parar ninguém de entrar”, diz Weiller. “A sociedade como um todo é machista e racista, e precisamos de mais diversidade. Só ver os chefes das empresas, são todos homens brancos cisgênero”, destaca Vic.

Tags: