Protestos contra governo ocupam a Avenida Paulista

Segundo organizadores, 80 mil pessoas se reuniram em São Paulo reivindicando a saída da chapa Bolsonaro-Mourão, a vacinação em massa e a implementação de políticas públicas eficazes
por
Manuela Nicotero Pestana
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18/06/2021 - 12h

A crise sanitária provocada pela pandemia de Covid-19 vem se alastrando pelo Brasil desde março de 2020 - mês em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a doença como uma pandemia. Desde então o país passa por um acúmulo de problemáticas que - ainda que já existissem  - se agravaram com a doença. O desemprego, o aumento de preço de alimentos básicos, o número alarmante de óbitos - que já passam dos 500 mil -, o descaso do Estado em relação a compra de vacinas e a posição negacionista do Presidente da República levam ao alto índice de rejeição que o governo federal vem enfrentando. Segundo pesquisa do Datafolha feita em março de 2021, 54% reprovam as decisões de Bolsonaro - especialmente no que concerne à pandemia -, um recorde desde o início de sua gestão em janeiro de 2019. 

Em meio a este cenário, protestos vêm sendo convocados em diversas cidades do Brasil, a fim de pontuar o descontentamento popular em relação à Bolsonaro e sua negligência em adotar medidas efetivas para impedir o agravamento da crise sanitária, além de turbinar a Comissão Parlamentar de Inquérito - a “CPI da Covid” - que tramita no Senado com o objetivo de avaliar se houve falhas do governo federal  no enfrentamento da pandemia. O primeiro grande protesto convocado este ano contra Jair Bolsonaro ocorreu no dia 29 de maio (sábado), em 27 capitais brasileiras.

Em São Paulo a concentração partiu da Avenida Paulista, próximo ao MASP, e contou com 80 mil pessoas - segundo organizadores. Muitas críticas foram levantadas a respeito das manifestações, uma vez que poderiam ir contra os protocolos de distanciamento social que visam diminuir o contágio - e consequentemente o número de casos e óbitos. Por essa razão, organizações como CUT (Central Única de Trabalhadores) e MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Teto) - notoriamente de oposição a Bolsonaro - não convocaram institucionalmente seus membros, ainda que não os impeçam de ir. 

No entanto, importante ressaltar que a manifestação do 29M teve ampla aderência de máscaras eficazes, como a PFF2, KN95 e a 3M, também haviam muitos manifestantes com faceshield - poucas eram as pessoas vistas sem qualquer tipo de proteção. A manifestação na capital paulista durou mais de quatro horas e atravessou toda a Paulista e a Consolação, se dispersando apenas na Praça Roosevelt - localizada na região central. 

O protagonismo das manifestações são de entidades de esquerda que pretendem construir uma frente de oposição forte contra o negacionismo de Jair Bolsonaro. Partidos como PT (Partido dos Trabalhadores), PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), PCdoB (Partido Comunista do Brasil), PCB (Partido Comunista Brasileiro), PCO (Partido da Causa Operária), entre outros, ocuparam a Avenida Paulista em peso, convocando seus militantes às ruas. Segundo Rafael Pluciennik (20), estudante de psicologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro da União da Juventude Comunista (UJC) - uma das organizações do PCB - que esteve presente na manifestação do dia 29 de maio, o atual cenário obriga a população a ir às ruas. “Ir em uma manifestação no meio de uma pandemia não é algo que queremos, não é o que a gente faz por prazer, mas é uma necessidade que se impõe” - afirma ele. 

Segundo ainda Rafael, as manifestações são imprescindíveis para que a população demonstre sua insatisfação com a negligência do Estado que vem matando milhares de brasileiros. “O impacto da manifestação tem caminhado nesse sentido, de pressionar o governo Bolsonaro, de mudar a correlação de força nas ruas, a gente retomando as ruas a gente consegue demonstrar mais força, a gente consegue se impor e fazer com que de alguma forma isso seja ouvido” - explica ele. Já a estudante Isabela Claro (20), que cursa direito na PUC-SP e é participante do coletivo anticapitalista de juventude Afronte - que teve seu próprio bloco nas manifestações do 29M - preferiu não comparecer presencialmente ao protesto: “Por não ter minha família completamente vacinada, e por um receio de contaminação, optei por, pessoalmente, não comparecer às manifestações” - aponta ela.

Apesar de sua escolha pessoal, Isabela apoia veemente a causa que leva mais de 80 mil brasileiros às ruas: “Enquanto cidadã brasileira que sofre e assiste os horrores dos efeitos da política genocida imposta pelo governo de Jair Bolsonaro, (…) é necessário, mais do que nunca, a tomada das ruas pelo povo em nome do FORA BOLSONARO!  É não somente legítimo, como urgente, nesse sentido, a realização de atos organizados, como os do 29M”, afirma. 

 

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