Casas de Cultura de São Paulo voltam à vida

As instiuições são fundamentais para a preservação das artes paulistanas
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Bárbara More
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25/05/2022 - 12h

Por Bárbara Cristina More

Além de ser o centro financeiro do Brasil, São Paulo também é uma metrópole muito rica quando se pensa em cultura. Com o intuito de garantir livre acesso da população às artes, a Secretaria Municipal de Cultura dispôs 20 Casas de Cultura espalhadas pela cidade. As instituições são voltadas para a atuação do setor artístico-cultural, promovendo atividades gratuitas que abrangem todas as camadas da sociedade. Dentro delas, um universo de cores e texturas invade os sentidos dos presentes. 

Quem já passou por uma dessas casas, provavelmente não conseguiu ignorá-la. Estruturas imponentes e coloridas, elas chamam os transeuntes a visitar seu espaço. No interior, pessoas de todas as idades celebram as artes durante os eventos e exercitam talentos criativos nas oficinas. Localizadas nos corações de bairros tradicionais de São Paulo, essas instituições também abrigam exposições artísticas, apresentações musicais e espetáculos teatrais. Contudo, por se tratarem de iniciativas públicas, os polos sofreram muito com a pandemia de Covid-19. 

Os espaços, que antes eram dominados por músicas e conversas animadas, perderam a vida e foram invadidos pelo silêncio. Por conta das restrições sanitárias, fecharam as portas que estavam sempre abertas e se viram obrigados a buscar por alternativas. Algumas recorreram à lives e aulas remotas, enquanto outras precisaram cessar as atividades. No caso da unidade do Butantã, apenas os seguranças ficavam no local para cuidar da propriedade. Com o decreto de liberação, ela deu boas-vindas novamente ao público e já recuperou todo o seu esplendor. 

Oficializado em 1992 com a lei de Casas de Cultura, a instituição foi planejada e construída com o intuito de ser um sacolão e, por conta disso, apresenta um formato de galpão. O coordenador da casa, Danilo, ficou animado ao exaltar o bairro que se tornou um símbolo de residência artística. A instituição é um reflexo da história local e se ergueu em meio a grandes polos exportadores de cultura. Artistas ocuparam o espaço antes que ele pudesse se tornar um comércio e criaram uma casa que acolhe aqueles que estão dispostos a conhecer seu universo. 

No interior, frequentadores e oficineiros se misturam enquanto exercem diferentes atividades. Por se tratar de um espaço sem divisões, algumas oficinas acontecem simultaneamente, criando uma explosão de cores e sons. A música se mistura às conversas, risadas e ensinamentos que estão sendo passados. Pessoas de diferentes gerações, classes sociais e origens se encontram para praticar ações distintas, mas sem haver confusão. Ao mesmo tempo em que existe uma inundação de informações, tudo é simples de ser entendido e parece hipnotizar o visitante a entrar e não sair mais. 

Se a casa do Butantã é bem colorida, no polo de Santo Amaro reinam os tons marrons. A explicação para o ar mais sóbrio do local está em sua história. Antes de abrigar a instituição, o prédio chegou a ser um mercadão e uma funerária. Hoje, ele ainda preserva a sua arquitetura e representa um imponente patrimônio histórico do bairro. As marcas no piso de madeira denunciam os milhares de sapatos que se arrastavam no chão enquanto seus donos dançavam nos bailes. Nas paredes, estão quadros e registros de seus principais eventos e o orgulho da casa: o samba de vela. 

Funcionária da casa há 15 anos, Neuma carregou suas palavras de felicidade ao falar sobre o tradicional bloco de samba. Apesar de as atividades estarem voltando gradualmente após terem cessado durante a pandemia, o visual do espaço permite imaginar casais apaixonados girando ao som de músicas nacionais e aproveitando uma bela noite de divertimento. Os idosos, que estavam acostumados a bailar de duas a três vezes por mês, ocasionalmente batem na porta e clamam pelo retorno dos eventos. Por conta da saudade das aulas, o público se entristeceu e alguns até chegaram a ficar doentes. A cultura é uma distração para a terceira idade, que representa o grupo mais frequenta o local. 

Quando se fala de tradição, não há como deixar de mencionar a Casa de Cultura Salvador Ligabue. Se para o resto da cidade ela se tornou um ponto turístico, para os moradores da Freguesia do Ó, o local integra sua rotina. A instituição faz parte do novo polo cultural e gastronômico do Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, um projeto de lei instaurado pela vereadora Sandra Santana. Ao longo de seus 30 anos de existência, a construção cresceu e anexou o espaço da junta militar, onde agora há uma escola gastronômica. 

Da gastronomia às artes, o largo não falha em atrair público. Na época de Carnaval, a região hospeda um dos mais tradicionais blocos da cidade de São Paulo. Contudo, não é apenas no feriado que se pode encontrar festas. A Casa de Cultura invoca a todos a participar de seus programas e se inscreverem em sua oficinas. As crianças do bairro se habituaram a frequentar o local para aprender novas habilidades e se divertir no processo. Assim como o polo de Santo Amaro, a Salvador Ligabue recebe muitos idosos, que parecem rejuvenescer ao adentrar o seu espaço. Enquanto passam seu tempo livre no acolhedor local, os sorrisos não deixam seus rostos. Contudo, tiveram que esperar longos meses para sentir novamente o calor da casa, que segue tomando cuidados preventivos e realiza controle de carteiras de vacinação para acessar as atividades.

Na luta pela sobrevivência à pandemia, o coordenador Luís se empenhou em fazer um estudo de como manter os artistas em atividade de forma segura. Seguindo o exemplo de outras unidades, ele também recorreu aos meios de comunicação onlines e criou uma programação onde os artistas eram contatados e cadastrados em um sistema para que a instituição e o público conseguissem continuar contemplando os programas. Com as pessoas retidas em casa e clamando pelo acesso às artes, não havia alternativa senão reunir esforços para inovar os equipamentos culturais e se adaptar nesse processo.

Para participar das aulas gratuitas oferecidas pelas instituições, o interessado deve aguardar pela abertura do período de inscrições, visitar a Casa de Cultura de sua preferência e deixar os seus dados.

Secretaria de Cultura de São Paulo 

Em entrevista à AGEMT, a secretária de cultura de São Paulo, Aline Torres, comentou a importância das Casas de Cultura para a sociedade. Para ela, essas instituições são uns dos principais equipamentos de livre acesso e descentralização da cultura, porque elas estão, de fato, nos mais diversos bairros. Preocupada com o fomento de políticas públicas das artes e implantação de novos projetos para a sociedade, ela revelou que a secretaria está introduzindo um programa novo.

Ainda em processo, ele fomentará 300 blocos de carnavais periféricos pequenos. Aline afirma que já conseguiram instrumentalizar a ideia juridicamente para contratar esses grupos. No entanto, ela acredita que a pandemia não teve impacto somente nos programas de incentivo à cultura, mas na cultura como um todo. Segundo Torres, ela foi o primeiro segmento da sociedade que teve impacto, depois da saúde, porque foi onde os palcos e os microfones foram fechados. Ao mesmo tempo, a cultura foi quem deu sobrevida para todo mundo.

A secretária acredita no poder das artes em trazer forças para a população. Durante a entrevista, ressaltou que foi preciso criar um novo olhar e inovar na hora de levar a cultura até a população, sendo o momento das lives e dos shows em casa. Em específico, a sociedade conseguiu reorganizar e entender que podia transformar o teatro em audiovisual, abrindo novas plataformas e possibilidades da cultura para todos os fomentos.

 

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