Tempestades, derretimento dos glaciares, subida do nível do mar e ondas de calor escaldantes causam sofrimento à população do continente asiático
por
Guilherme Lima Alavase
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07/05/2024 - 12h

A Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência das Nações Unidas especializada em clima, divulgou, em abril, o relatório “Estado do Clima na Ásia 2023”.

O Órgão destacou, em comunicado à imprensa, o ritmo acelerado de alterações nos principais indicadores observados, como: aumento da temperatura no continente, derretimento e recuo dos glaciares, aquecimento da água do mar e a subida de seu nível.

As alterações nestes dados reforçam a gravidade das mudanças climáticas no continente.

O relatório aponta que a tendência de aquecimento global se intensificou e que, no longo prazo, as consequências do desequilíbrio da natureza serão cada vez mais intensas.

O aumento desenfreado de emissão de gases do efeito estufa, ocorrido desde a Revolução Industrial, com o uso intensivo de combustíveis fósseis para movimentar os motores e máquinas, a utilização de técnicas arcaicas na agricultura e pecuária, como a queimada de florestas para semear capim e possibilitar a criação de gado em larga escala ou a monocultura, e o uso intensivo de agrotóxicos em áreas extensas tem causado uma desordem severa na natureza ao longo dos anos.

Mapa do continente asiático – Fonte: mapamundipolitico.com
Mapa do continente asiático – Fonte: mapamundipolitico.com

 

A Ásia, continente com a maior extensão terrestre, que se estende até o Ártico, é a região do mundo em que o aquecimento é superior à média global e mais propensa a desastres naturais, sendo os perigos relacionados à água a principal ameaça. 

As tempestades e inundações são os maiores causadores de vítimas e perdas econômicas no continente. Em 2023, ocorreram 79 desastres associados às chuvas intensas com inundações na Ásia, afetando diretamente nove milhões de pessoas, com mais de 2000 vítimas fatais.  

O relatório destaca o aumento da temperatura da superfície dos oceanos, sendo que no continente os mares estão aquecendo três vezes mais rápido que a temperatura média global dos oceanos. O derretimento e recuo dos glaciares, com a consequente subida do nível do mar, ocasionam sérios problemas para as sociedades, economia e ecossistemas da região.   

Como a natureza não escolhe nem onde, nem quem ela atingirá mais severamente, os países, com limitada infraestrutura sofrem de forma desproporcional, com consequências mais duradouras. 

Como exemplo, o ciclone tropical Mocha, que, em maio de 2023 provocou 156 mortes em Mianmar e Bangladesh. A chuva torrencial, classificada como tempestade ciclônica extremamente severa, atingiu a costados países situados no golfo de Bengala, obrigando milhares de pessoas a abandonarem as suas casas.

 

Desabrigado da tempestade Mocha
Destruição causada por tempestade ciclônica em Mianmar – Foto: Sai Aung Main/AFP/JC

 

Além dos fenômenos climáticos associados à água, ocorre na Ásia aumento significativo da temperatura, com ondas de calor sufocantes que podem causar desidratação e insolação.

 

Termômetros registram temperaturas elevadas
As ondas de calor sufocantes do continente contribuem para o aumento de focos de incêndio nas florestas – Foto: VladisChern / Shutterstock.com

 

As ondas de calor são o mais letal dos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas. Em 2023, o Japão viveu o verão mais quente já registrado em sua história.

Na China, em muitas estações meteorológicas foram anotados recordes de temperaturas. Na Índia, as fortes ondas de calor levaram à morte 110 pessoas devido à insolação. 

Os trabalhadores que vivem expostos a condições extremamente quentes e úmidas, como os operários da construção civil ou quem trabalha em atividades ao ar livre, são os que correm maiores riscos de estresse térmico.

 

destruição das florestas com incêncio
Incêndio florestal  - Foto: Nicolas Economou/Reuters -

 

O relatório da OMM reforça a necessidade de que os serviços meteorológicos nacionais de toda a região produzam dados e os divulguem de forma sistematizada e em tempo hábil, para melhor alertar a população sobre os riscos eminentes de um evento climático na tentativa de reduzir danos.

Óbitos, desaparecimentos e desalojamentos são registrados por todo o estado
por
Giovanna Takamatsu
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06/05/2024 - 12h

As tempestades contínuas que se alastraram pela maioria dos municípios gaúchos fizeram com que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB-RS), decretasse estado de calamidade pública, por 180 dias. Essa decisão, divulgada na última quarta-feira (1) no Diário Oficial do Estado, permite que órgãos e entidades da administração pública prestem apoio à população afetada. 

Até o momento, foram apontados 83 óbitos, 111 desaparecidos e, pelo menos, 129 mil desalojados, de acordo com o boletim mais recente divulgado pelas autoridades gaúchas.  


A situação do RS foi classificada como um desastre nível 3. Segundo a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, “os danos causados são importantes e os prejuízos vultosos”. Todo o território está em alerta de risco hidrológico extremo, com níveis dos rios acima da cota de inundação - quando as águas passam a causar danos ao município. 

mapa hidrológico
Mapa de risco de inundação de acordo com o município. Imagem: Defesa Civil do RS

A prefeitura de Porto Alegre iniciou a evacuação de seus moradores na última  sexta-feira (3). O lago Guaíba, que banha a capital, ultrapassou a marca dos 5m acima de seu nível normal - circunstância que deve se manter por, no mínimo, 4 dias. A situação se agravou, especificamente na zona norte da cidade, por causa de um rompimento de uma das comportas do lago - o portão 14. 

centro histórico
Nível da água no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Evandro Leal/Agência O Globo

Por que as chuvas estão ocorrendo?

Chuvas fortes já são esperadas na região Sul, entre dezembro e março, devido ao El Niño, que provoca o aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico. Entretanto, o Rio Grande do Sul está sendo atingido por níveis pluviais anormais por uma combinação de alguns fenômenos climáticos: 

  • Intensa corrente de ventos que causa instabilidade climática;

  • Onda de calor na região central do Brasil causa um bloqueio atmosférico por estagnação do movimento normal do ar - naturalmente essa é uma região de alta pressão atmosférica;

  • Sucessão de frentes frias e chuvosas proveniente da Argentina, que ficaram estagnadas na região Sul do Brasil por causa do bloqueio causado pela onda de calor;

  • Corredor de umidade proveniente da Amazônia é desviado pelos Andes, e acaba atingindo a região Sul do Brasil. A umidade causa precipitação;

  • La Niña e altas temperaturas no oceano Atlântico geram mais umidade e precipitação.  

Em entrevista à TV Brasil, Marcelo Seluchi, coordenador do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), explica que as chuvas não devem cessar tão prontamente. “Esta situação [as chuvas], infelizmente, deve se manter, com poucas mudanças, pelo menos até sábado com volumes muito elevados ainda, até superiores a 250 milímetros, especialmente na porção centro-norte do estado”, diz Seluchi.

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Gráfico explicando a causa das chuvas. Foto: Ighor Jesus/ Arte g1

 

O envolvimento do governo federal

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Lula e Eduardo Leite em Santa Maria. Foto: Ricardo Stuckert/PR 

O presidente Lula (PT) desembarcou na cidade de Santa Maria, uma das mais afetadas, na quinta-feira (2), para se encontrar com Leite. 

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O Presidente Lula se encontra com o governador Eduardo Leite em Santa Maria. Foto: Reprodução/ Redes sociais

Junto à ele estavam os ministros Rui Costa (Casa Civil), Jader Filho (Cidades), Renan Filho (Transportes), Waldes Góes (Integração e Desenvolvimento Nacional), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Paulo Pimenta (Secretária da Comunicação), além do chefe do gabinete do Comandante da Aeronáutica, Major-Brigadeiro do Ar Antonio Luiz Godoy Soares e do comandante do Exército, general Tomás Paiva. 

“Fiz questão de trazer os ministros aqui porque quero que eles assumam o compromisso em solidariedade ao povo do Rio Grande do Sul, para que a gente possa minimizar o sofrimento que esse evento extremo da natureza está causando no estado”, afirmou Lula. 

Após retornar à Brasília, Lula anunciou a criação de uma sala para conseguir monitorar diariamente a situação do RS. O governo federal, que já reconheceu o estado de calamidade do RS, mobilizou 626 militares na região para salvamento e resgate das vítimas. 

Foram enviadas 45 viaturas, 12 embarcações e botes de resgate, e oito aeronaves pela Marinha e Exército, também para auxiliar no resgate dos afetados.  

O governo federal liberou nesta segunda-feira (6) R$534 milhões em emendas individuais de parlamentares gaúchos, que estavam alocados na área da saúde. Segundo o ministro Paulo Pimenta, até quarta-feira (8), devem ser liberados mais R$80 milhões. 

“A gente não vai permitir que faltem recursos para que a gente possa reparar os danos causados”, disse o presidente da República durante sua visita ao RS.

A Agemt tentou contato com moradores das regiões afetadas, mas não conseguiu resposta devido à falta de internet local. Até o momento, segundo balanço do governo do RS, 740 mil pessoas estão sem acesso a serviços essenciais, como energia elétrica, serviços de telefonia e internet e abastecimento de água.   

“Estamos falando de uma cidade insustentável”: como São Paulo ainda não superou seus problemas climáticos
por
Giovanna Takamatsu
Kimberlly Ramos
Victória Rodrigues
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29/04/2024 - 12h

São Paulo ainda não entrou no debate da adaptação às mudanças climáticas. A maior cidade da América Latina, ainda faz com que seus moradores vivam em condições improcedentes. O meio insustentável em que a capital está inserida, impede a população paulistana de possuir qualidade de vida e existir plenamente. Uma metrópole que sofre com o racismo ambiental, altas taxas de poluição, causando diversos problemas de saúde, e nenhuma indicativa de uma transição energética, acaba vinculada a uma realidade limitada e que dificulta o seu desenvolvimento. Inserir o planeta em um cenário mais sustentável e, consequentemente, mais duradouro e habitável para futuras gerações, é essencial; por isso, torna-se cada vez mais necessário a adoção de medidas que garantam isso.

Na aula inaugural promovida pelo curso de Pós-Graduação em Governanças Global e Formulação de Políticas Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que ocorreu na  quinta-feira, 25 de abril, o pré-candidato à Prefeitura de SP, Guilherme Boulos, dedicou bastante tempo de sua fala a essa discussão. O deputado, que palestrava sobre cidades sustentáveis, afirmou: “O que as cidades precisam fazer? Desenvolver planos de adaptação às mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, cumprir metas de redução das emissões de gás de efeito estufa. Hoje nós não estamos discutindo isso aqui na cidade de São Paulo”. 

São Paulo está entre as 10 cidades brasileiras que mais emitem carbono, o que contribui em massa para as constantes e intensas mudanças climáticas às quais a cidade tem sido submetida. Dos 12 mil ônibus responsáveis pelo translado da população paulistana, apenas 84 são elétricos, além de serem restritos ao centro de São Paulo. A grande problemática desses números, é a emissão de carbono causada pelo diesel. No entanto, o transporte público ainda é a opção mais sustentável, uma vez que os carros utilitários são os maiores agentes na emissão de poluentes

O dióxido de carbono (CO2) é um dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE). Dessa maneira, sua emissão faz com que a temperatura da Terra aumente, por impedir que o calor saia da atmosfera. Vários problemas decorrem da emissão de gases e do aquecimento global. “No contexto global, as principais consequências são as mudanças climáticas, com eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos; e a debilitação da saúde pública, devido à exposição a poluentes atmosféricos”, informa Célio Bermann, professor associado do Instituto de Energia e Ambiente da USP. 

A transição energética, ou seja, a substituição do uso de energia fóssil (petróleo e seus produtos) para uma energia limpa e renovável, é uma realidade em outras cidades. Shenzhen, na China, possui 18 milhões de cidadãos - 6 milhões a mais que São Paulo - e foi a cidade pioneira na transição energética urbana. Atualmente, 100% de sua frota de ônibus são elétricos. O que impede que São Paulo, a cidade mais rica do Brasil, faça também essa mudança?

Para o atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes, falta infraestrutura. O político, entretanto, responsabiliza a empresa Enel, e afirma que a instituição não entregou pontos de carregamento elétrico para a compra de mais ônibus de energia limpa. De qualquer maneira, é uma urgência eletrificar os ônibus de São Paulo. Em parte, é necessário cumprir com o Acordo de Paris, que foi assinado em 2015, e visava impedir o aumento da temperatura da terra; em outra parte, a sistematização elétrica permite que os custos com transporte público diminuam a longo prazo. “Eletrificar a frota de ônibus, além de ser um grande caminho para reduzir a emissão de carbono, também é um caminho para democratizar o direito ao transporte público. Porque o ônibus elétrico, pode chegar a ser 50% mais barato do que o ônibus a diesel”, explica Boulos.          

O que são cidades sustentáveis

A definição de cidades sustentáveis se baseia no intuito de cuidar do meio ambiente para garantir um futuro global mais promissor. Por meio de políticas públicas propostas pela administração, tem como pilar principal a  responsabilidade ambiental, vitalidade cultural e o ideal de economia sustentável. Seu conceito está associado a uma visão que preza pelo equilíbrio das atividades socioeconômicas e ambientais de uma população. 

Ao redor do mundo, famosas metrópoles aderiram ao conceito de cidade sustentável e demonstraram melhoria no funcionamento de seus ecossistemas. Essa iniciativa gerou benefícios tanto nos aspectos ambientais como na área da saúde e da economia. Na Dinamarca, a cidade de Copenhague tem se mobilizado cada vez mais para contribuir com essa iniciativa, com a construção de estradas voltadas especificamente para a prática do ciclismo e a venda de bicicletas elétricas a baixo custo. Zurique, na Suíça, é responsável por reciclar mais de 40% de seus resíduos hoje e mais de 80% de seus hotéis possuem certificado de sustentabilidade. Já Tóquio, no Japão, possui um dos sistemas de transporte público que tem a menor emissão de carbono mundial. 

Assim como todas essas cidades, São Paulo necessita que o poder público e os provedores de serviços adotem essa mentalidade sustentável. O professor Célio enfatiza essa necessidade: “O poder público pode e deve dar sua contribuição, com políticas públicas indutoras nessa direção. Entretanto, além do governo e da população, cabe às indústrias, comércio e serviços de transportes (rodoviário, ferroviário, marítimo, aeroviário) darem também sua contribuição, pois são os assim denominados ‘setores produtivos’ os principais responsáveis pelos danos ambientais, que comprometem a existência de todos os seres vivos no nosso planeta.”

O Estado, até então, tem se mantido omisso em relação ao tema e à implementação dessas práticas sustentáveis no país. A ausência de ações de combate à destruição ambiental, acarretam no surgimento, cada vez mais frequente, de desafios a serem enfrentados futuramente.

Guilherme Boulos ministra aula na PUC-SP sobre alternativas para sustentabilidade energética, logística de trabalho e abandono dos centros
por
Giovanna Takamatsu
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29/04/2024 - 12h

Transição energética, redução do tempo de deslocamento espacial e melhoria da segurança pública. Esses foram os três itens trazidos e discutidos pelo deputado federal e pré-candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL-SP), que podem transformar a capital paulista em uma nova metrópole. O evento, que ocorreu na última quinta-feira (25) na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi uma aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Governanças Globais e Formulação de Políticas Internacionais da Universidade.

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Guilherme Boulos fala das possibilidades para as metrópoles. Foto: Giovanna Takamatsu.
"Esse debate de cidades inovadoras precisa ser uma inspiração para nossa cidade e para poder fazer São Paulo voltar a ser o que ela, historicamente, foi"

As pautas levantadas são problemas urbanos enfrentados diariamente pelos paulistanos e, para Boulos, é necessária a participação pública. “Tem soluções que não precisam de bilhões de dólares. São de vontade pública. São de uma decisão de ver a cidade como um espaço para as pessoas e não só um espaço para valorização do dinheiro”, afirmou o deputado. São Paulo é a maior cidade da América Latina e a mais rica do Brasil.

 Transição energética 

O deputado começou sua fala com o exemplo de Xangai na China e de Santiago no Chile. Ambas as cidades são pioneiras na transição energética urbana. Isso significa que os transportes públicos são, em sua maioria, movidos por energia elétrica, limpa de aditivos químicos e fósseis. 

São Paulo inseriu a circulação de ônibus elétricos para algumas linhas, mas os números são baixíssimos. Apenas 84 veículos de pelo menos 12 mil são de energia limpa. Em comparação, Xangai possui 14.700 ônibus elétricos de uma frota de 15 mil automóveis, o que equivale a 98% de carros sustentáveis. 

Essa solução não impacta apenas na redução da emissão de carbono da cidade, mas também diminui o custo estatal com transportes públicos. “O ônibus elétrico, em média, pode chegar a ser 40% a 50% mais barato do que o ônibus a diesel. A gente ganha no tema ambiental e ganha também no custo do sistema. Isso está acontecendo hoje no mundo. Citei duas cidades que eu tive a oportunidade de conhecer, mas está acontecendo em várias cidades do mundo, mas aqui não”, aponta o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo.

Para além dos benefícios econômicos e ambientais, a sistematização elétrica colabora para a diminuição da poluição sonora na metrópole. Os ônibus à diesel tendem a produzir, em média, 76,7 decibeis (dB) – ruídos acima de 60 dB já causam problemas de saúde -, segundo estudo da Proteste em parceria com a Sociedade Brasileira de Otologia, enquanto um veículo elétrico é silencioso. 

Segurança pública e reocupação da cidade 

Boulos declara que o maior problema de segurança em São Paulo é decorrente da desigualdade social. “Nenhum país que tem a desigualdade como nós temos é um país com uma sociedade tranquila, pacificada, que as pessoas saem às ruas e se dão as mãos.”, enfatiza o político. 

A cidade possui muitas falhas básicas de segurança pública. O maior problema é o abandono de propriedades, especialmente no centro, que, por causa da falta de manutenção, aumenta o risco de colapso estrutural e proliferação de doenças.

O abandono também incita violência. De acordo com a Teoria da Janela Quebrada, desenvolvida por Kelling e Wilson, em 1982, o vandalismo atrai o vandalismo. “O centro de São Paulo hoje está marcado pelo abandono. Saiu o IBGE agora, mês passado, um a cada cinco imóveis do centro está abandonado. O espaço que é marcado pelo abandono se torna um espaço perigoso”, afirma Boulos, que se utilizou dos dados do Censo de 2022, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado em março.  

O trabalho longe de casa e os serviços nas regiões periféricas   

O terceiro e último tópico discutido na aula foi o deslocamento dos paulistanos até seus locais de trabalho.

Um estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria revela que 36% dos brasileiros passam mais de uma hora por dia em transportes públicos. Isso ocorre especialmente com aqueles que moram nas periferias das cidades e precisam se deslocar para os centros urbanos, onde se concentram os comércios.

“Aqui do lado, na Barra Funda, nós temos 400 empregos para cada 100 moradores. No extremo leste, Jardim Iguatemi, São Mateus, Cidade de Tiradentes, nós temos oito empregos para cada 100 moradores. De 400 vai para oito. Qual é o resultado disso? Quem é do bairro São Mateus sai todo dia de manhã para vir para cá [zona oeste], com duas horas no trânsito, com ônibus lotado, um monte de automóvel individual, com mais poluição, com piora na qualidade de vida”, explica o deputado sobre a desigualdade de oportunidades de empregos por habitante. 

O político do PSOL exemplificou como Paris, que também é uma metrópole, lidou com a diminuição do tempo de deslocamento com o projeto “Cidade de 15 Minutos”. O governo realizou a reapropriação do centro parisiense, o que impediu a especulação imobiliária, e possibilitou a realocação dos moradores para esses locais. Além disso, estimulou financeiramente empresas públicas e privadas a se expandirem para regiões periféricas. 

Evento de comemoração de 13 anos da Agência Pública traz Ailtron Krenak, Carlos Nobre e Daniela Chiaretti para debatar temas ambientais. 
por
Luísa Ayres
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14/03/2024 - 12h

Na noite de ontem (13) o evento de celebração do 13º aniversário da Agência Pública, fundada por ex-alunas da Universidade Pontifícia Católica de São Paulo (PUC-SP), apresentou uma mesa fundamental para a compreensão dos impactos da ação humana no meio ambiente. 

A roda de debate contou com a participação de importantes estudiosos, militantes e jornalistas da causa, com destaque para a participação de Ailton Krenak, o nome mais aguardado da noite. 

Recebido com aplausos, o doutor honoris causa pela UFMG e pela UFJF e eleito para a Academia Brasileira de Letras, se preocupou em evidenciar, para além das questões ambientais, as preocupações sociais imprescindíveis ao tema.  

Abordando o racismo estrutural e ambiental, Krenak pontuou como as consequências da crise climática são sentidas de formas diferentes pelas pessoas - e sempre de maneira mais forte pelas camadas pobres da população.  

Além disso, o indigenista chamou a atenção da plateia para o que está além da vida humana: a extinção em massa de diversas espécies animais.  

Segundo o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU deste ano, de 976 espécies avaliadas em diversas regiões do mundo, 47% sofreram extinção de populações locais em anos de temperatura recorde.   

Populismo e os riscos para o clima

O renomado climatologista e criador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN-MCTI), Carlos Nobre, também presente no evento, alertou para como os efeitos do negacionismo têm impactado na destruição do Planeta. 

Em agosto de 2023, um documento redigido pelo Grupo de Inteligência Climática Global (CLINTEL), assinado por mais de 1.600 cientistas oriundos de 60 países, afirmava que “não há emergência climática”. A maior parte deles nativos de países da Europa e América do Norte, com destaque para Itália, Estados Unidos e França. 

Na América do Sul, o Brasil foi o país com maior número de assinaturas: 20. Além disso, vale lembrar que os brasileiros foram os que mais aumentaram a emissão de gases poluentes durante a pandemia do COVID-19 no mundo. 

Para Nobre, estes dados não são um acaso – mas sim uma consequência.  

Infelizmente nos últimos 25 anos, há um grande crescimento das eleições democráticas e populistas. Nós estamos vendo o populismo crescendo no mundo inteiro e essas pessoas todas são eleitas democraticamente. Esse é um enorme desafio. Nos EUA, 65% dos americanos são preocupados com mudanças climáticas e esses americanos elegeram um presidente negacionista que tirou os EUA do Acordo de Paris”, alerta.  

Crise sistemática

A jornalista Daniela Chiaretti, que cobre as Conferências do Clima da ONU desde 2008, concorda - e afirma que percebe a crise climática como “um problema que o próprio sistema (capitalista) criou”.  

Pensando, portanto, na crise climática como uma consequência da ação humana predatória ao longo dos séculos, cientistas, geólogos e outros estudiosos da área tem debatido, há 15 anos, a nomeação de uma nova era geológica: o antropoceno.  

As questões levantadas sobre o tema procuram pensar o tamanho do impacto que a humanidade tem causado ao mundo e às suas biosferas – e se são suficientemente graves a ponto de levar o Planeta a um novo período histórico.  

Segundo Carlos Nobre, o antropoceno teria tido início ainda na década de 40 com o impacto das bombas atômicas em terras como as do Canadá e México, que serviam como base de estudos de geólogos devido seu bom estado de conservação. Após os testes, suas estruturas foram modificadas com novos elementos. 

Hoje, falar de antropoceno pode soar como, praticamente, falar do fim do mundo como o conhecemos.  

Consequências

A Terra, desde seus primórdios, varia em eras de acordo com a órbita em torno do Sol. Em épocas de maior elipse, entramos na Era Glacial, com temperaturas mais amenas em cerca de 5ºC. Já quando em órbitas ligeiramente mais arredondadas, saímos deste período. Este ciclo, como explica Nobre, demora cerca de 100 a 120 mil anos. 

O problema é que o tempo que temos para lidar com as mudanças climáticas e suas consequências atuais é bem menor do que isso.  “Caso mudanças não sejam rapidamente efetivas, em 2100, teremos 4ºC de aumento (...). Nunca a temperatura chegou ao que pode chegar no século 22. Praticamente todo o mundo tropical será inabitável, quando poderão ser atingidas temperaturas em que o nosso corpo não perde mais calor. É o chamado estresse térmico”. 

Sua explicação prossegue alertando para os riscos de tal situação, como o tempo de vida de idosos e crianças - que pode não passar de 20 minutos. A espécie humana precisaria se adaptar para viver no topo dos Andes, no Ártico ou em outras regiões extremamente geladas.  

Além disso, esta época representaria a 6ª maior extinção do Planeta (a quinta ocorreu há cerca de 62 milhões de anos atrás, com os asteroides que mataram os dinossauros).  

Mapa de calor
Medidas mais drásticas para reduzir a emissão de gases-estufa serão necessárias para evitar que o planeta esquente mais de dois graus Celsius até o fim do século, aponta IPCC  – Mapa: Nasa/NOAA 

 

Quando nos perdemos?

Para Ailton Krenak, a humanidade perdeu muito – em tempo e experiência - invalidando os povos originários, que já avistavam estes riscos há muito tempo através do contato diário da natureza. 

O humano achava que a Terra era um lugar sagrado. Ele tinha medo do raio, do trovão, da tempestade. Ele tinha medo da mudança da cor do pôr do sol. Quando todo mundo ficou esperto, dominou a agricultura, pegou o metal, começou a fazer essa farra toda, deixaram de tratar a vida do Planeta como uma experiência sagrada e passaram a acreditar que a Terra é um organismo plástico, que podemos esticar, dobrar, enrolar (...)”.  

O militante da causa acredita, por isso, que o antropoceno é sim real e deveria ser validado. 

“Estamos comendo o corpo da terra feito pestes”, afirma.  

 

A comunidade do Morro do Piolho enfrenta o racismo ambiental com educação e ajuda da ONG Juntos pelo Capão
por
Silvia Monteiro
Lívia Rozada
Maria Elisa Tauil
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29/11/2023 - 12h

“A gente não precisava ter ficado mais de uma semana sem luz e água. Da ponte pra lá as pessoas receberam um formulário (da Enel) pra falar o que tinha sido estragado, aqui as pessoas nem sabem que podem fazer isso”, relata.

No dia 3 de novembro o Estado de São Paulo foi atingido por fortes chuvas e rajadas de vento de até 100 km/h. O temporal, um dos tantos exemplos da crise climática, não escolheu as suas vítimas, entretanto o racismo ambiental sim. Rose Borges, moradora do Morro do Piolho, periferia localizada no bairro do Capão Redondo, Zona Sul, enfrentou 10 dias sem luz e água.

“Isso é racismo ambiental. Por que quem mora lá pode ir atrás do direito deles e aqui não? Como o Eduardo Lyra fala em Gerando Falcões: a favela tem que sair do museu, reflete Rose.

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Moradores do Morro do Piolho passaram mais de 10 dias sem luz e água. (Foto: Maria Elisa Tauil)

O racismo ambiental é um termo utilizado para descrever situações de injustiça social, onde grupos minoritários são sistematicamente submetidos às consequências da degradação do ecossistema. Isso fica evidente quando moradores de bairros e territórios periféricos, em sua maioria pessoas pretas, indígenas e famílias de baixa renda, são diretamente afetados com o agravamento das condições climáticas, enquanto os mais privilegiados usufruem de melhores condições de vida.

“JUSTIÇA CLIMÁTICA É JUSTIÇA RACIAL”

O racismo ambiental está presente na sociedade em diferentes formas, como por exemplo, na maior incidência de riscos de inundações, deslizamentos de terra, concentração dos piores índices de poluição do ar e das águas, e até mesmo a falta de saneamento básico em comunidades. Dessa forma, a população está mais exposta aos impactos dos desastres naturais. Um exemplo marcante é o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG). A tragédia, que deixou 270 pessoas mortas e derramou milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração na bacia do Rio Paraopeba, teve como sua principal vítima a população negra e de baixa renda, que morava na região. Quatro anos após o ocorrido, a empresa responsável pelo desastre não foi responsabilizada e as famílias afetadas ainda sofrem com as consequências da desigualdade socioambiental.

No lançamento do livro “Racismo Ambiental e Emergências Climáticas no Brasil”, organizado pelo Instituto de Referência Negra Peregum, os autores debateram sobre a necessidade de trazer à tona as demandas dos movimentos negros e denunciaram o embranquecimento do movimento ambientalista. “A crise ecológica global é, simultaneamente, uma crise de justiça global”, expôs a jornalista Mariana Belmont na coletiva de imprensa.

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Lançamento do livro que ocorreu no Instituto de Referência Negra Peregum em São Paulo. (Foto: Maria Elisa Tauil)

Em uma entrevista a Agemt, Andressa Dutra, gestora ambiental, mestranda em Ecoturismo e uma das autoras do livro, conta que a questão racial é a chave para solucionar a crise ambiental. “Entendendo que o Brasil é um país estruturado no racismo, o Silvio Almeida fala que a gente não vai conseguir resolver as grandes questões se a gente não trouxer um foco para questão racial, porque é isso que dá base e faz entender quem vai viver e quem vai morrer”, explica.

“Não adianta mais a gente tentar resolver as mazelas dos problemas ambientais sem pensar na questão racial,” relata a ativista. 

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“Livro “Racismo Ambiental e Emergências Climáticas no Brasil”. (Foto: Maria Elisa Tauil)

MORRO DO PIOLHO: UM REFLEXO DO RACISMO AMBIENTAL

Localizado na região do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, o Morro do Piolho, segundo moradores, abriga 300 famílias, sendo uma delas a da líder comunitária e agente transformadora Rose Borges, fundadora da ONG Juntos pelo Capão.  “Tem muita coisa acontecendo do outro lado da ponte do rio Pinheiros, que separa os pobres dos ricos, o lado A do lado B”, relata.

Rose conta que em decorrência da tempestade e rajadas de vento, ela ficou sem luz por quatro dias, enquanto alguns vizinhos ficaram mais de uma semana. Na segunda-feira, três dias após a tempestade, a maior parte do bairro seguia sem energia e sem água; consequentemente, a maior parte das escolas e creches não abriram. Assim como muitas mães e avós, ela precisou ficar em casa para cuidar da sua neta, precisando ligar à sua chefe para avisar que não tinha condições de ir trabalhar. Muitas outras mulheres da comunidade passaram pela mesma situação, mas receberam um tratamento diferente das empresas, com seus salários e benefícios sendo descontados. “Não é culpa delas, mas é visto assim. ‘Se vira’. Como se a gente pudesse se teletransportar”.

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Morro do Piolho, localizado na Zona Sul de São Paulo. (Foto: Maria Elisa Tauil)

A moradora denuncia a situação precária que as mães do bairro, grande parte mulheres negras e mães solo, precisam enfrentar ao ficar sem energia. “A maioria das mães aqui, quando saem, deixam coisas pros filhos comerem, porque elas vão trabalhar e só voltam à noite. Então ela trabalhou lá o dia inteiro, e, quando chegou em casa, não tinha luz nem água pra sobreviver”. Rose relata que, muitas pessoas precisaram se locomover e ficar na casa de amigos que já tinham energia. Ela precisou ir à casa da sogra, que fica em Campo Limpo, 42 km de distância do Morro do Piolho. A fundadora da ONG levou seu celular e os de seus vizinhos para carregar lá, além de trazer os alimentos que havia em sua geladeira.

Dessa forma, a comunidade se viu na necessidade de se mobilizar para enfrentar a falta de água e luz. Um vizinho de Borges, que tinha acesso a um lugar com água, ficou responsável por levar galões de água e trazer água para os moradores. Por ser uma quantidade limitada, as pessoas pegavam garrafas de 2 litros e faziam um banho rápido, e os que tinham filhos, tiveram que usar a mesma água em duas ou três crianças, e o restante foi usado para fazer comida e beber.

Além da falta de energia, a cidade de São Paulo também passou, recentemente, por uma onda de calor e mais uma vez, as comunidades periféricas foram as mais afetadas. Rose conta que, por conta do calor extremo, as pessoas precisaram dormir com as janelas abertas, e muitas precisaram colocar o colchão na parte externa da casa, onde era mais fresco. “Eu tive que colocar o colchão na garagem, sabe quando você não aguenta o calor?”, fala.

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Comunidade do Morro do Piolho enfrenta a onda de calor. (Foto: Maria Elisa Tauil)

O calor extremo chegou enquanto muitas pessoas ainda estavam sem energia, sendo ainda mais prejudicial às pessoas da comunidade. Sem luz, as geladeiras não funcionavam e as comidas apodreciam. “Minha cunhada perdeu tudo que estava na geladeira. Minha vizinha tinha duas crianças pequenas, e teve que ir pra um lugar no extremo sul porque lá as crianças tinham água e o que comer. Ela preferiu pegar um dinheiro e gastar com a condução do que ficar aqui”.

JUNTOS PELO CAPÃO: UM OLHAR DE ESPERANÇA

Claro, projetos como o de Rose não começam do dia para a noite. Durante a entrevista, ela nos conta que a ideia começou, no final de 2019, quando estava na missa e ouviu um pedido do pároco local, Padre Márcio, que fazia aniversário naquele dia. Como presente, ele queria um panetone porque tinha uma criança que não sabia o sabor do bolo. No seu trabalho, numa escola particular na zona oeste da cidade, ela pediu ajuda às mães dos alunos e conseguiram uma “parede” de panetones para serem doados no Natal, e a partir daí passou a acontecer todos os anos, conta com empolgação.

No início de 2020, com a chegada da pandemia, as escolas fecharam e as crianças moradoras do Morro do Piolho não tinham onde ficar. Para Rose, sua única opção era sair da bolha e se mobilizar, “a gente sempre tem um pouco de social, mas uns desenvolvem outros não”. Com a vontade de mudar a sua comunidade, ela pediu ao Padre Márcio uma sala que estava desocupada e começou ali seu projeto: Juntos pelo Capão.

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Rose Borges, criadora da ONG Juntos pelo Capão. (Foto: Maria Elisa Tauil)

Atualmente, há 2 projetos no portfólio da ONG: Escritores Mirins, onde, com a intenção de incentivar a literatura e escrita, cada criança participante escreve e publica seu próprio livro e Desenvolvedores Mirins (ou Pacote Office), responsável pela capacitação de jovens em ferramentas digitais. Além disso, a ONG organiza a ação Capão Sem Fome, uma frente permanente de combate à fome no Morro do Piolho, com distribuição de cestas básicas para famílias carentes durante todo o ano.

Quando o Estado não olha para aqueles que são invisíveis na sociedade, existe em contrapartida um cidadão ou cidadã que tem a capacidade de sair de sua bolha para causar um impacto na comunidade, e Rose Borges é uma delas. Através de seu olhar, de sua garra, ela consegue mobilizar toda uma comunidade para juntos se unirem e mudarem seu entorno. “Quando me deu esse despertar de fazer mesmo social como diferença na minha vida, de olhar para os outros, eu me senti uma torneira aberta jorrando água potável”, finaliza.

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de jornalismo da PUC-SP. 

A Conferência das Partes (COP 28) começou na última quinta-feira, 30, em Dubai, e se encerra no dia 12 de dezembro.
por
Francisco Barreto
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05/12/2023 - 12h

As lideranças globais anualmente se encontram na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas para debaterem pautas relacionadas com o clima. O objetivo desta edição deve continuar o mesmo: limitar o aumento da temperatura do planeta para no máximo 1,5 °C, consenso firmado a quase quinze anos na França, no que ficou conhecido como "Acordos de Paris".

Cada edição é sediada em um país, neste ano o evento acontece nos Emirados Árabes Unidos, na cidade de Dubai. COP é a abreviação para "Conferência das Partes", as "Partes" são os países que ratificaram em 1992, no Rio de Janeiro, o primeiro acordo climático da ONU.

Controvérsias com o anfitrião  

Com um ano marcado por temperaturas recordes e catástrofes climáticas extremas, a escolha do país sede soou contraditória. Os Emirados Árabes Unidos são membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), além disso, é uma das 10 nações maiores exportadoras de petróleo do mundo, sendo responsável por cerca de 3% da produção mundial.

Para José Carlos Pedreira, engenheiro agrônomo formado pela UNESP Jaboticabal com especialização em Administração Rural pela Fundação Getúlio Vargas, a escolha do país como sede levou em consideração suas ações e histórico no combate a crise climática como o estabelecimento, em 2015, da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), instrumento pelo qual os países assumem compromissos voluntários para as questões climáticas no âmbito do Acordo de Paris.

"Entretanto, na opinião de muitos especialistas tudo isso não passa de lobby político visto que tudo indica que nos próximos anos a produção de combustíveis fósseis nos Emirados Árabes Unidos crescera consideravelmente", complementa Pereira.

Outra polêmica em torno do evento foi a nomeação de Sultan al-Jaber como o líder das negociações da COP 28. Al-Jaber é, atualmente, o presidente da Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (ADNOC), a petrolífera estatal do emirado mais rico do país.

O líder das negociações da COP 28 e  presidente da ADNOC, Sultan al-Jaber. Fonte: Folha de São Paulo
O líder das negociações da COP 28 e  presidente da ADNOC, Sultan al-Jaber. Fonte: Folha de São Paulo

Em 2022, a ADNOC emitiu cerca de 24 milhões de toneladas métricas de gás, entretanto a estatal se comprometeu a eliminar suas emissões de CO, até 2030 e antecipou sua meta de Net Zero para 2045. O Net Zero é uma meta de longo prazo em que compensações somente são permitidas para aquelas pequenas frações de emissões inevitáveis. As promessas foram recebidas com ceticismo pois na última década a ADNOC não apresentou os relatórios de emissões de metano à ONU.

Sede da ADNOC, a petrolífera estatal do Emirado de Abu Dhabi. Fonte: ADNOC
Sede da ADNOC, a petrolífera estatal do Emirado de Abu Dhabi. Fonte: ADNOC 

Os Emirados Árabes Unidos terão uma produção de petróleo e gás estimada em 3.300 mil barris por dia, até o fim deste ano, segundo a Mordor Inteligence, portal focado na pesquisa de mercado.

Em maio do ano passado a estatal anunciou duas grandes descobertas: a primeira foi uma reserva de 650 milhões de barris de petróleo bruto em Abu Dhabi e uma gigantesca reserva de gás, medindo entre 1,5 a 2 trilhões de pés cúbicos de commodities. Tanto o petróleo quanto o gás são combustíveis fósseis responsáveis pelo agravamento das mudanças climáticas.

A ADNOC pretende aumentar, em cinco anos, sua produção de petróleo e gás diária para 4.939,24 mil de barris, a um CARG de 8,40%. O CARG é a taxa de crescimento anual composta é um modo de calcular a taxa média de crescimento de um investimento ao longo de determinado tempo, ajustada para a variação anual. A estatal prometeu, em novembro de 2022, investir uma quantia de US$ 45 bilhões nos próximos 5 anos, para que este aumento de produção seja possível.

A BBC News apontou, segundo documentos vazados, que os Emirados Árabes Unidos possuem interesse em utilizar seu papel de anfitrião na COP 28 para firmar acordos sobre petróleo e gás. Tudo indica que irá usar sua influência de país sede para direcionar o foco da COP de Dubai para o uso do solo, jogando mais responsabilidades e os custos para países em desenvolvimento e produtores de alimentos, com o Brasil, Sudeste Asiático e continente africano.

Pereira acredita que a questão não se traduz necessariamente como "conflito de interesse" e que cada país tenta atribuir as causas e responsabilidades que são seu "foco/prioridade"

"Pesa a favor dos países produtores de petróleo o fato que o mundo ainda depende dos combustíveis fósseis para seu suprimento de energia, cuja restrição vai exigir uma mudança geral muito grande de modelo de produção e consumo {...} Focar nos sistemas agroalimentares, em grande parte presentes nos países tropicais em desenvolvimento, atenua as restrições aos países temperados e desenvolvidos" , afirma.

Passado quase um ano, liderança indígena Yanomami fala sobre atual momento de seu povo, após Ministério da Saúde declarar Estado de Emergência de Saúde Pública na região
por
Artur Maciel
Bianca Abreu
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23/11/2023 - 12h

 

Em 20 de janeiro deste ano, o território Yanomami foi declarado em Estado de Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pelo Ministério da Saúde brasileiro. Concentrados em uma região Amazônica entre o Brasil e a Venezuela, com cerca de 30,4 mil habitantes, Yanomamis sofrem com a intensa atividade de garimpos ilegais no local. Epidemias - como gripe e malária - insegurança alimentar, morte sistemática de crianças indígenas e destruição do meio ambiente são provenientes das ações dos extrativistas na região.

Em entrevista por telefone ao repórter Artur Maciel, da Agência Maurício Tragtenberg (AGEMT), o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami (Condisi) e representante do Conselho de Saúde Indigena (SESAI), Júnior Hekurari Yanomami, fala sobre a importância da atuação do poder público no combate ao genocídio provocado pela extração ilegal de minérios.

 

Junior Hekurari Yanomami momentos antes do IV Fórum das Lideranças Yanomami e Ye’kuana. Foto: Fabricio Araújo/ @Socioambiental
Junior Hekurari Yanomami momentos antes do IV Fórum das Lideranças Yanomami e Ye’kuana. Foto: Fabricio Araújo/ @Socioambiental

 

“A ajuda aos Yanomami deu esperança de poder olhar de novo. Olhar o sol brilhante na floresta que estava no escuro”. Júnior Hekurari Yanomami

A fim de combater a desassistência sanitária no território Yanomami, o Ministério da Saúde instalou o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE - Yanomami) - cuja gestão está sob a responsabilidade da SESAI. Segundo a pasta, ao chegar na terra Yanomami, o órgão “se deparou com crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição grave, além de muitos casos de malária, infecção respiratória aguda (IRA) e outros agravos”.

“Durante 6 meses, muita gente voluntária. Médicos. Enfermeiros. Farmacêuticos. De São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba”, explica Júnior Hekurari, quando questionado sobre o suporte atual na região após declarada crise sanitária. “A ajuda aos Yanomami deu esperança de poder olhar de novo. Olhar o sol brilhante na floresta que estava no escuro”.

Segundo ele, “antes não tínhamos uma visão, apenas medo. O garimpeiro poluindo nossas terras. Nossas águas. Interrompendo nossos rituais. Culpa do governo ladrão de jóias. As crianças voltaram a brincar e andar depois das ações”. “Eu tinha medo do povo morrer. Sem o Lula, o povo Yanomami ia morrer. Em 2020, 2021, 20 mil garimpeiros destruíram nossas vida” desabafa, citando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e a atuação do Estado na crise humanitária. Mas pontua com veemência que “ainda tem muita coisa a melhorar”.

Quando perguntado sobre como era tratado o impacto ambiental na região, em relação ao lixo gerado pela atividade garimpeira, o presidente do Condisi declara que “os garimpeiros não respeitam. Desmatam e tiram a terra de nossa vida”. “Durante 4 anos, fomos abandonados pelo governo brasileiro. Por um governo ladrão de jóias. Agora o governo voltou e os profissionais de saúde estão apagando o fogo das emergências pensando em uma restauração”, completa. Ele se refere ao governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que não raras vezes, ao longo de sua vida pública, legitimou publicamente as atividades ilegais dos garimpos.

 

Doença, fome e violência: genocídio em prática

As doenças, a insegurança alimentar, a violência e a morte passaram a fazer parte do cotidiano dos Yanomami diante da negligência do Estado em frear a extração indevida de minérios na região. De acordo com levantamento do Malária Journal, o aumento do número de casos de malária - causa recorrente de mortes de crianças indígenas - na região Yanomami saltou de 2.559, em 2010, para 18.765, em 2020. Sobre a presença da doença na região, o representante da Sesai afirma que a doença contamina até mesmo quem vai em seu combate. “Muitos dos médicos 'adoeceu'. Pegou malária e voltaram (para casa)”, conta. “Mas o importante é que a maioria 'desse' profissionais viram Roraima. Viram o Brasil!”, completa, demonstrando, em sua voz, um misto de preocupação pela saúde dos profissionais e esperança diante da visibilidade à situação de seu povo.

Outro aspecto da presença dos garimpeiros na região é o acúmulo de lixo nas proximidades das comunidades. Por conta disso, os indígenas locais entram em contato com elementos provenientes de fontes aquém da natureza - produzidos com materiais que não se reintegram àquele território. Pelo contrário, o desequilibram e o prejudicam. “Hoje tem lama em todo lugar, os garimpeiros deixaram lixo em todo lugar. Máquinas, latas e lixo”.

O que nos leva a outro problema que compõe esse efeito dominó no descaso com a saúde Yanomami: a fome. A alimentação indígena é, primordialmente, garantida pela natureza por meio da caça, pesca e consumo de frutas. Diretamente afetada pelo uso de mercúrio no garimpo, a água foi contaminada. Com isso, peixes mortos, impróprios para consumo, perdem-se nos rios onde a atividade garimpeira está. “O garimpo destruiu nossos rios. Nossas vidas. As mulheres não iam pescar. Não tinha peixe nem camarão para comer. Mataram tudo, não tinha alimento”, aponta Junior. E questiona, em seguida: “que dia vamos voltar a comer peixe? Voltar a comer camarão? O povo não tem”.

Além da malária e da fome, os indígenas ainda precisavam se proteger de outro perigo. Júnior Hekurari Yanomami denuncia que os crimes cometidos pelos garimpeiros também se estendem à violência sexual. Deixando, ainda mais evidente, o risco que a presença desse grupo não-indígena e extrativista provoca na população local. “O que aconteceu aqui foi muito traumático. Meninas de 12 anos grávidas. Estupradas por garimpeiros. Estamos agregando trauma de mães com luta dos filhos. Deram tiros nas crianças”, expõe a liderança. “Destruíram meu povo. Tem cicatrizes grandes até hoje e vai demorar para curar. Talvez em 50 anos. Quem sabe se cura”, conclui, reflexivo.

 

*Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP.

A tecnologia voltada para o meio ambiente agora mostra o quão é viável progredir enquanto cuidamos do nosso planeta.
por
Nicole Keller Lekitsch
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22/11/2023 - 12h

As consequências para o meio ambiente devido à industrialização e do progresso tecnológico são evidentes globalmente. Antes o avanço da tecnologia e da indústria parecia contradizer os esforços em prol da sustentabilidade e preservação ambiental. Porém, a tecnologia voltada para o meio ambiente agora mostra o quão é viável progredir enquanto cuidamos do nosso planeta.

A tecnologia ambiental está se tornando um grande aliado na busca por soluções sustentáveis para os desafios enfrentados pelo planeta. Desde a diminuição de resíduos até o incentivo da utilização de energias renováveis, a inovação tecnológica possui é um dos protagonistas na preservação do meio ambiente.

As energias renováveis, solar e eólica, ganharam foco quando o assunto é tecnologia ambiental, investindo para a elaboração de painéis solares mais eficientes, turbinas eólicas de mais tecnológicas e sistemas de armazenamento mais rápidos para fontes de energia limpa e sustentável, para que dessa forma haja uma redução da dependência de combustíveis fósseis.

Com a ascensão de pautas voltadas para a energia sustentável, surgiu o programa REI, lançado pelos CIFs em 2021, buscando ajudar na expansão do uso de energias renováveis por países em desenvolvimento. O financiamento e a assistência técnica oferecidos pelo Programa de Integração de Energia Renovável dos CIFs tem como objetivo apoiar a integração da gestão de riscos climáticos no setor elétrico, reduzindo os efeitos da variabilidade e das mudanças no clima. Além disso, o programa ajuda os consumidores a se envolverem mais na energia, para fazer com que seja mais viável o uso dela quando precisamos.

A maneira como lidamos com resíduos também está sofrendo mudanças, desde a reciclagem avançada até o desenvolvimento de métodos mais eficientes de tratamento de resíduos, como a compostagem de resíduos orgânicos, a tecnologia está ajudando a reduzir o impacto dos resíduos no meio ambiente.

A compostagem, por exemplo, é um processo natural em que materiais orgânicos, como restos de comida e resíduos biodegradáveis são decompostos por microrganismos em condições controladas, transformando esses resíduos em adubo orgânico. Sendo uma alternativa para a diminuição do desperdício e o consumo de agrotóxicos, pois produz um fertilizante natural.

A Internet das Coisas também é um recurso que pode auxiliar no meio ambiente, sendo usado para monitorar, gerenciar recursos da natureza e controlar o uso de agrotóxicos. Através de sensores inteligentes pode rastrear a qualidade do ar, da água e do solo, fornecendo dados em tempo real que ajudam na identificação de áreas com problemas ambientais e facilitam uma resposta mais rápida a eventos como vazamentos de substâncias tóxicas.

A utilização de câmeras IP usadas em análises de imagens também é um recurso útil para a identificação da presença de insetos ou doenças.

Entretanto, apesar de resultados otimistas da implementação desses recursos, há grandes desafios, como o custo e investimento para o desenvolvimento dessas tecnologias e regulamentações governamentais. Não se pode esquecer da necessidade de abordar o tema de maneira holística e colaborativa entre países e setores, convencendo-os a investir na prática.

A tecnologia ambiental é um grande apoio pela sustentabilidade e pela preservação do planeta. Com inovações surgindo constantemente, é essencial encarar os desafios e fazer com que essas tecnologias sejam aplicadas de forma eficaz e acessível, para que dessa forma haja uma mudança e melhora considerável na proteção do meio ambiente.

 

Discussão sobre o controle de destruição do litoral vem a tona pelas temperaturas e aumento de lixo plásticos nos mares
por
Gabriel Ferro
Gabriel Borelli
Pedro Rossetti
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17/11/2023 - 12h

           Principalmente focado nas questões de aquecimento global, o debate pelas causas ambientais são de grande importância e vêm sendo mais corriqueiras no dia a dia. Questões de clima e lixo excessivo são cruciais, porém, casos como esse podem agravar e se relacionar com outros problemas que vêm sendo enfrentados atualmente, como a preservação da fauna brasileira.

            Por conta disso, a matéria a seguir irá tratar e discutir o que vem sendo feito pela preservação marinha nas costas do país. Sabe bem que o Brasil tem uma grande extensão litoral que é banhado 100% pelo Oceano Atlântico, e com mais de 7000 quilômetros divididos em 17 estados, está entre os 15 países com maior litoral nacional do mundo. A partir desse dado, é nítida a necessidade de um grande número de pessoas voltadas para o cuidado dessa gigantesca beleza natural.

Apresentando jurisdição sobre mais de 3,5 milhões de km² de águas costeiras com extensos estuários, lagoas costeiras, manguezais e mais de 3000 km de recifes de corais, o Brasil tem enfrentado desafios na conservação marinha que estão se tornando significativos. Em torno de 1.173 espécies brasileiras estão listadas como espécies ameaçadas de extinção, com isso, é papel do poder público a criação e organização de um bom Sistema de Unidades de Conservação (UCs). Hoje são 102 unidades de conservação por toda a costa brasileira, de modo que apenas 1,5% de todo o litoral é protegido pelas UCs, o que é muito abaixo da meta definida pela Convenção sobre Diversidade Biológica, que estipulava 10% de regiões protegidas até 2010.

Especialistas reportam que no Brasil, os governos federais, estaduais e municipais não possuem uma estrutura administrativa que priorize a gestão e governança das praias. Isso resulta em uma implementação prática limitada ou ausente das políticas públicas relacionadas a esses ambientes. Além disso, alertam que há também uma falta de cultura de planejamento a longo prazo, compreensão prática do ciclo político envolvido na gestão e governança, bem como diretrizes claras para promover a sustentabilidade nas praias pelos diversos setores econômicos, como turismo, comércio e serviços.

            Em um trabalho publicado pela revista Diversity and Distributions, foi feito um mapeamento sobre a distribuição de ameaça à biodiversidade marinha no Brasil. Foram identificados 286 mil quilômetros quadrados de áreas prioritárias para conservação, tendo em vista as 143 espécies ameaçadas, os 161 habitats marinhos e 24 fatores de impacto humano. Correspondendo a uma área do tamanho do estado do Rio Grande do Sul, a região representa menos de 8% da Zona Econômica Exclusiva do mar brasileiro.

O mapa abaixo apresenta essa região, localizando problemas maiores principalmente na região sudeste, que é marcada pelas ameaças humanas:

Mapas de locais da região costeira com ameaças, prioridades de proteção e prioridades máximas
Mapas de locais da região costeira com ameaças, prioridades de proteção e prioridades máximas

O primeiro indica as ameaças na costa, com foco maior na região Sul, Sudeste e Norte, porém, no segundo é possível identificar as regiões de prioridade que é distribuída por toda a ZEE. Por fim, o terceiro mapa apresenta as prioridades máximas, no sudeste e na região sul da Bahia. Para analisar mais a fundo esses problemas, é preciso voltar-se para as principais ameaças à fauna e flora da costa brasileira.

            Relacionada totalmente a ações humanas, a destruição da costa brasileira se dá pelos seguintes fatores:

     Poluição: com foco nas regiões mais populosas, a população provém de descargas de esgotos, vazamentos de petróleo e ansiosamente os descartes de lixo plásticos e redes marinhas.

     Destruição de habitats: pode ser causada por questões como a pesca predatória, a extração de recursos naturais e obras dentro do oceano.

     Aquecimento global: gera o aumento de temperatura da água, que compromete a sobrevivência marinha

Plástico nos oceanos pode superar os peixes até 2050
Plástico nos oceanos pode superar os peixes até 2050

Casos como esses são determinantes para a destruição da costa, que é um grande atrativo do Brasil, que conta com a maior biodiversidade do mundo, dito isso, o país conta com diversos projetos e observatórios responsáveis pela manutenção e análise do litoral, tudo para garantir a preservação. Ações do cotidiano já podem ser feitas para diminuir a destruição da região, como utilizar materiais reutilizáveis ou biodegradáveis e principalmente, praticar atividades de forma responsável e ecológica, fazendo com que o turismo, que é fonte de renda de grande parcela da população, possa ser feito sem atingir a fauna e flora marinha.

Quando questionada sobre quais as possíveis ações para preservar e trabalhar de forma mais elaborada a conservação de faunas, e em especial a marinha, a bióloga Júlia Dalto relatou: “Para preservar a fauna e flora de qualquer ambiente, existem diversos planejamentos de conservação, como a criação de parques ecológicos, áreas de proteção, como o uso sustentável de áreas protegidas”.

Sobre áreas de fauna aquática, Júlia completou: “Se tratando da fauna marinha, sabe-se que essa pertence a um habitat extremamente atingido pelas ações antrópicas, desde a exploração excessiva das espécies à contaminação da água por diversos fatores, como a falta de tratamento e descarte de efluentes”. A bióloga de 24 anos também descreveu que as mudanças climáticas estão acelerando cada vez mais e, portanto, é necessário um olhar mais crítico da sociedade quanto aos hábitos diante da natureza: “A educação ambiental deve ser mais presente no cotidiano”.

Principais pontos de observação de animais
Principais pontos de observação de animais

Outro fator pertinente que afeta diretamente a integridade dos mares e fauna presente, é o do lixo direcionado a essas regiões. A falta de reciclagem muitas vezes é um dos principais fatores atuantes em ocasiões desse gênero. Segundo Daphine Herrera, bióloga, pesquisadora e pós-doutoranda na UNESP-Bauru, essa falta de reciclagem é um dos pilares da problemática da poluição plástica; “Para se ter uma ideia, em 2019 houve uma produção global de 368 milhões de toneladas de plástico. Os relatórios atuais preveem que, no rumo atual, os oceanos conterão mais plástico do que peixes até 2050 (peso)”. “As questões mais urgentes a serem abordadas agora são sobre como reduzir o volume de fluxos de resíduos plásticos descontrolados ou mal geridos que vão para os oceanos, e como aumentar o nível de reciclagem”. Dos 7 bilhões de toneladas de resíduos plásticos gerados globalmente até agora, menos de 10% foram reciclados.

A respeito do lixo mal direcionado aos mares na fauna presente, a bióloga natural de Lins - São Paulo completou: “É importante ressaltar que as micropartículas, quando introduzidas no ambiente marinho, ficam disponíveis para toda a cadeia alimentar. Pesquisas concluíram que as partículas de tamanho reduzido que entram na cadeia alimentar podem se acumular em predadores de topo - como peixes, aves, mamíferos marinhos e seres humanos - levantando preocupações sobre o potencial de bioacumulação e biomagnificação.”

Quanto aos impactos diretos, reportou que estes variam desde a morte de organismos por emaranhamento em detritos plásticos em forma de corda ou laço. “A ingestão de detritos plásticos é o tipo de interação mais estudado. A absorção de macroplásticos pode resultar em bloqueio ou lesão dos intestinos, levando à redução da ingestão de alimentos ou até mesmo à morte”.

Daphine também relatou que os plásticos ingeridos podem criar uma falsa sensação de saciedade, fazendo com que o animal coma em excesso ou pouco, afetando sua forma física, crescimento e reprodução, além também dos sufocamentos que podem ocorrer, restringindo a movimentação e lesões de diversas espécies marinhas. Por fim, Herrera alertou: “O plástico pode promover a dispersão de espécies para além de suas áreas geográficas normais, contribuindo para a disseminação de espécies invasoras”.

O gráfico abaixo, proveniente do órgão “Recicla Sampa”, ilustra a quantidade de plásticos identificados nos oceanos ao redor do mundo entre 1990 e 2019.

Grafico sobre a quantidade de plástico no oceano de 1990 a 2019
Grafico sobre a quantidade de plástico no oceano de 1990 a 2019

A luta pela preservação marinha é fundamental e deve ser espalhada por todo o país, pela proteção de belezas naturais, faunas, e o oceano como um todo. No Brasil, atualmente, nos 1.173 táxons oficialmente reconhecidos como ameaçados, estão 110 mamíferos; 234 aves; 80 répteis; 41 anfíbios; 353 peixes ósseos (310 de água doce e 43 marinhos); 55 peixes cartilaginosos (54 marinhos e um de água doce); 1 peixe-bruxa e 299 invertebrados.

 

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP.