Viva e Vivencie o Manifesto

Na calçada do Parque Trianon, jovens ligados a movimentos estudantis improvisam um ensaio de bateria, enquanto outros, escrevem faixas com palavras de ordem como “Comida no Prato e Vacina no Braço”
por
Eduardo Rocha da Luz - RA00074318
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18/06/2021 - 12h

Em 29 de maio de 2021, promoveu-se, em várias capitais do Brasil, manifestações contra as conduções das políticas públicas do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia. Mas como promover esses atos em plena pandemia, onde o distanciamento social, higienização das mãos e uso constante de máscaras se faz necessário? E mais ainda, como registrar esse acontecimento de forma segura?


Dias antes, ao longo da semana que antecipou o ato, pouco se ouviu falar sobre o que viria a ser realizado. Apenas algumas poucas menções surgiam em redes sociais e na internet no geral. Parecia algo especulativo, nada realmente certo. Até que no dia 27 de maio, em uma chamada simples e rápida em emissora de TV, a APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) confirma o ato, marcado para dali 2 dias, em frente ao MASP (Museu de arte de São Paulo), às 16hs. Certo, tinha uma oficialização exposta. Não se tratava apenas de especulação.

Ao chegar na região da Avenida Paulista, por volta das 11hs, o que se podia ver, eram em sua maioria, transeuntes descompromissados, com seus afazeres cotidianos, alguns pedintes e vendedores ambulantes. Nada que indicasse o que viria a se tornar aquele local. Em dado momento, tenho a atenção atraída para um carro estacionado em um recuo de calçada, em frente ao Parque Trianon. Do porta malas desse veículo, um casal, paramentados com luvas, máscaras e óculos de proteção, retiram marmitex e realizam a distribuição às pessoas em situação de rua, que rapidamente e de forma organizada, entram em fila, para receber o alimento.


Aguardo até que terminem seus afazeres e me aproximo para tentar uma conversa. Os dois se mostram bem extrovertidos e até é possível ver a alegria, em seus olhos, ao falar sobre a ação que realizam com o “Projeto Guarda-Chuva - Combate a Fome de Ponta a Ponta”. Onde, em resumo, são arrecadados alimentos em restaurantes da região e distribuídos por voluntários. Como que por um passe de mágica, enquanto conversávamos, um caminhão de som “aparece” em frente ao MASP, barracas estão montadas na calçada, algumas bandeiras hasteadas e uma pequena movimentação de pessoas é percebida. Me despeço do casal e atenho a observar a nova movimentação.


Neste momento me dou conta que o grande vão livre do MASP, não está tão livre como deveria ser, pois esse está cercado por grades de contenção e dentro delas, guardas municipais vigiam o movimento. É possível ver que na barraca montada pela APEOESP, além dos adesivos, que costumam ser comuns, são distribuídos máscaras de proteção PFF e aplicação de álcool em gel aos que se aproximam. Na calçada do Parque Trianon, jovens ligados a movimentos estudantis improvisam um ensaio de bateria, enquanto outros, escrevem faixas com palavras de ordem, como “Comida no Prato e Vacina no Braço”. A movimentação dos transeuntes descompromissados dá lugar a todo o tipo de pessoas, homens e mulheres desacompanhados, famílias com crianças, casais héteros e homoafetivos, idosos, policiais militares, muitos policiais militares. Em comum, todos usando suas máscaras de proteção.


Por volta das 14hs, como que ordenando que voltassem para suas casas, uma chuva torrencial deságua sobre nossas cabeças, dando início à dispersão dos poucos que até aquele momento, ali se encontravam. Mas essa chuva mostrou a que veio. Apenas para acalmar os ânimos dos que pudessem estar mais exaltados. Chuva passageira. Alguém sobe no caminhão de som e inicia uma chamada melodiosa: “Pode chover, pode molhar, eu tô na rua é pra mudar”. Essa chamada ecoou ao longe, fazendo com que as pessoas a atendessem e viessem para a rua.

Quase que de imediato, surgiam mais e mais pessoas, com cartazes feitos em casa, escrito com garranchos ilegíveis. Cada qual com seu pedido ou questionamento: “Fora genocida”, “Chega de Cloroquina, cadê nossa vacina”, “Bolsonaro mata mais que a Covid”, entre tantos outros. Aquele quarteirão em frente ao MASP já não comporta a multidão, que já havia invadido a Avenida Paulista. Nesse momento já são 3 quarteirões, lotados de manifestantes mascarados com suas N95 e munidos de cartazes. Uma pequena tropa de homens vestidos de preto, arrastam uma enorme faixa pelo chão e na sequência à estende. O que se pode ler é: “Gaviões da Fiel contra o comendador da morte” e o brasão do Corinthians. Perto dali, outro caminhão de som, mais palavras de ordem. Uma bateria toca um ritmo chamativo e constante, mais pessoas mascaradas chegam, mais cartazes, mais pedidos de vacinas.

Às 17hs decidi ir embora, meu registro estava finalizado. Minha contribuição já estava feita. Chegou o momento de me besuntar de álcool em gel e ir pra casa. Esperar o noticiário da noite e me regozijar das imagens aéreas que seriam mostradas, ver proporção que tomou essa manifestação pacífica. A manifestação não foi pautada pelos grandes veículos de imprensa.

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