“Quando se fala ‘ah, eu danço Break’, tem um certo modo de olhar diferente, meio preconceituoso’’, conta Kley Almeida, 28, que está há 14 anos no meio e já participou de competições em todo o país e Europa. O Brasil precário não é nada parecido com os países que visitou, o dançarino comenta que ainda se possui um preconceito muito grande aqui. Mas, com a introdução do Breaking como modalidade olímpica tudo mudou ''virei de marginal para atleta'', comemora o dançarino.
“Faço parte de um grupo da cidade ligado à periferia e através da dança nós conseguimos adquirir outros meios e conhecer áreas competitivas”, afirma Kley. Ele admite que não esperava se consolidar a ponto de virar um trabalho, pois no começo fazia por lazer, mas logo virou sua fonte de renda. A nova modalidade nas Olimpíadas mudou a forma de dançar: “Agora é um esporte sólido e assim tenho mais oportunidades de criar algo concreto."
De origem norte-americana, o Breaking se consolidou na cultura brasileira como parte das danças de rua. Kley é um dos professores que dá aula de graça para fortalecer essa prática: “É importante buscar esses jovens principalmente nas áreas mais carentes”. Porém, muitos deles não permanecem pela falta de incentivo e investimento na área “Quando eu iniciei eram 50 pessoas na turma, depois restaram só 10 e aí 5. E assim vai, para nós isso é normal, o povo vai buscar, tentar, mas sobram só 3 no fim pela escassez de apoio.”. O único incentivo vem do ensino, porém se consegue um amparo maior após a notícia da mudança, já que é uma área esportiva.
Ainda existe uma peneira muito grande para chegar até as Olimpíadas de Paris, em 2024. E essa falta de apoio já prejudicou o atleta: “Em 2019 eu não pude ir competir por falta de recurso, e ainda hoje eu não tenho patrocínio.” Mas isso não desanima Kley, que manteve o foco e a perseverança. Isso o trouxe bons resultados, visto que durante a pandemia ele conquistou vitórias em campeonatos on-line, em primeiro e segundo lugar, o que possibilitou atrair mais visibilidade.
Em suas experiências fora do Brasil, Kley comenta sobre o destaque do Break: “O comportamento e o tratamento é outro, as pessoas realmente te veem com outro olhar. As premiações são ótimas, dá para viver de dança!”. O Brasil não é nada parecido com os países que visitou, já que na França a dança vive 24 horas por dia. No Japão, o nível é outro “tem criança fazendo movimento de adulto, parece até um robô”, comenta.
Com a notícia do Breaking nas olimpíadas surgiu uma nova discussão – o perigo de se tornar um esporte elitizado. De acordo com Kley, pode ser que sim ou pode ser que não, “Tem pessoas que vão usar como cultura e tem pessoas que vão usar como esporte. Mas os dois são bons, pois isso gera trabalho, investimento e evidencia a modalidade. Querendo ou não, acaba sendo normal.” Na Capoeira, esse tópico também é recorrente “É assim, tem gente que faz por amor e tem gente que faz pelo dinheiro’’.