Videogames despontam na pandemia como meio de entretenimento

Em meio à crise causada pela Covid-19, mídia interativa ascende e jogadores ampliam consumo durante a quarentena
por
Hiero de Lima
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12/06/2020 - 12h

No mês de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que a população mundial “ficasse em casa e jogasse videogames”, segundo matéria do Independent. Os números mostram que os gamers seguiram isso à risca: as vendas de títulos como o sangrento jogo de tiro Doom Eternal (Bethesda Softworks) e o pacato simulador de vida Animal Crossing: New Horizons (Nintendo), ambos lançados mundialmente em 20 de março, explodiram em meio à quarentena, com Doom tendo sido jogado por 100 mil pessoas no fim de semana de seu lançamento, e Animal Crossing chegando a 11 milhões de cópias vendidas em 11 dias, além de aumentar as vendas do único console para o qual está disponível, o Nintendo Switch.

Mas os novos lançamentos não são os únicos nos consoles dos gamers. A estudante de direito pernambucana Annalu Barreto, 20, preferiu um título do ano passado: está passando a quarentena com Judgment (Ryu Ga Gotoku Studio/SEGA, 2019), exclusivo do Playstation 4. O jogo se passa na pele de um ex-advogado, agora detetive, investigando uma série de assassinatos no Japão.

Ela conheceu o jogo durante o isolamento e já o concluiu, somando 50 horas de pura jogatina. “Aproveitei uma promoção e decidi comprar; daí, joguei incessantemente”, conta a universitária. O jogo conta com um modo multijogador, mas Barreto optou por completá-lo sozinha.

Annalu Barreto, 20, e Judgment: jogo, sobre advogados e detetives, corresponde ao curso da estudante de direito (fotos: acervo pessoal / Ryu Ga Gotoku Studio/SEGA)

Segundo a estudante de Recife (PE), o título serviu como escapismo “da realidade hostil que se vive atualmente”, mas também foi um complemento de seus estudos. “A educação à distância me é insuficiente em um curso de direito”, afirma, “e o jogo aborda de forma incisiva esse assunto em um contexto japonês”.

Ela se define entusiasta da advocacia no Japão, tendo escrito uma dissertação relacionando o assunto à franquia nipônica Ace Attorney (Capcom, 2001-2016), e afirma que se aprofundar no tópico com Judgment melhorou sua saúde mental, que define como “fragilizada”, e deu um novo ânimo a continuar estudando: “tive a sensação de estar no controle da situação, viver na normalidade”.

O jovem carioca Lucas Borges, 19, desempregado, também optou por um título de mistério como jogo da quarentena: o premiado Disco Elysium (ZA/UM, 2019) coloca o jogador no papel de um detetive que perdeu a memória após abusos de álcool, e, assim como o protagonista de Judgment, deve solucionar um assassinato, enquanto descobre a verdade sobre quem é e onde vive.

Borges, que também entrou em contato com o jogo durante a pandemia, tendo-o recebido de presente de um amigo, diz que ele é uma ferramenta eficiente de distração: “a história é bem envolvente e ajuda a refrescar a cabeça”.

Lucas Borges, 19, e Disco Elysium, RPG eleito pelo carioca como jogo da quarentena (fotos: acervo pessoal / ZA/UM)

Além do elemento da diversão, Disco Elysium serviu de aprendizado para o carioca, que reside em São Paulo (SP): as mecânicas de inquisição, quando o jogador consulta testemunhas e suspeitos para obter fatos, estimularam o raciocínio lógico do jovem, bem como sua empatia. “É um jogo fantástico, meia hora com ele já me fez começar a pensar em outras jogatinas, com outros meios de construir meu personagem”, conta.

Por sua vez, o estudante português de ensino médio Artur Nobre, 18, elegeu o jogo de ação em plataforma Katana Zero (Askiisoft/Devolver Digital, 2019), protagonizado por um ninja mercenário em uma cidade moderna, estilo cyberpunk, para amenizar o tédio do isolamento social.

Nobre, que vive na cidade de Beja, no sul de Portugal, é um gamer inveterado: segundo ele, seu amor por videogames permeia grande parte de sua vida. Recentemente, participou de um campeonato do jogo de luta Super Smash Bros. Ultimate (Nintendo, 2019), que conta com um elenco recheado de personagens da Nintendo e licenciados de outras empresas, e conseguiu chegar às quartas-de-final. “Estou sempre procurando a próxima experiência, e não me sinto bem sem estar jogando qualquer coisa”, relata via Twitter.

Artur Nobre, 18, e seu jogo de escolha, Katana Zero (fotos: acervo pessoal / Askiisoft/Devolver Digital)

Katana Zero, especificamente, não tem modo multijogador, mas o português também costuma jogar outros jogos com amigos, como o Smash, mencionado acima: em homenagem ao amor dele pelo game, ele conta que, para seu décimo oitavo aniversário, seus amigos online lhe desenharam os personagens jogáveis de que gostavam mais. “Diria que, talvez, alguns jogos multijogador conseguiram substituir nem que seja um pouquinho do contato social de antes da pandemia”.


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