A semana, norteada por aparatos tecnológicos, não poderia ser melhor descrita pelo envio e recebimento de e-mails. Abro a caixa de entrada: de segunda à sexta, entulhada por arquivos que chegam aos montes. No fim de semana, finalmente, dão uma trégua. E, quando aparecem no almoço de sábado ou jantar de domingo, certamente são para lembrar-me de finalizar a compra de um produto esquecido no carrinho da loja virtual.
O anseio gerado pela expectativa de determinada mensagem já me tirou noites de sono, me fazendo sonhar de olhos abertos pelas madrugadas. E, só quem viveu sabe, a decepção que é abrir a caixa de entrada e não encontrar nada ali para além das propagandas implorando para serem notadas. Ou, na pior das hipóteses, as contas do mês que chegaram...de novo! Não há tecnologia que nos salve dos boletos aguardando pagamento.
Encaro o correio eletrônico como metáforas que simbolizam a passagem do tempo, uma retrospectiva da vida moderna. Afinal, basta comparar os e-mails de janeiro aos de dezembro. O que aconteceu neste período? Histórias que tomaram outros caminhos, se apaixonaram, se despediram de entes e amigos queridos, se viram diante de episódios jamais imaginados. São tantos rumos que poderiam ser recontados a partir da narrativa deixada pelos substitutos das cartas. Não obstante, não raro incorporam os papéis de jornais ou livrarias, lhe recomendando autores nunca lidos anteriormente, te levando para a notícia tão fresca quanto uma melancia recém tirada da geladeira. Como leitora, me sinto plenamente derrotada pelos algoritmos quando sou obrigada a assumir que dada recomendação estava certa. “Por que eu não havia lido isso antes?”.
Como uma cronista amadora que se vê rascunhando acerca do mundo que tem à volta, faço da caixa de entrada um verdadeiro acervo de lembranças. Sendo incapaz de escrever sobre todas elas, me pego bisbilhotando os textos que exalam formalidade, sempre terminados em “abraço” ou “atenciosamente”. Dou risada. Mando cópia para outras pessoas. Me transporto para o passado enquanto recordo os momentos especiais cujos detalhes seriam apagados da memória se não fossem, claro, os e-mails.
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