Em 1960, a partir dos movimentos de contracultura da época, o mundo conheceria um novo estilo de relatar fatos e de fazer jornalismo, o New Journalism (Novo Jornalismo). Ele é conhecido também como jornalismo literário, e surgiu como uma maneira mais literal e menos objetiva de narrar os fatos, cruzando a linha tênue entre jornalismo e literatura. Tom Wolfe, Gay Talese e Truman Capote foram os nomes mais famosos desse movimento que mudou a maneira “quadrada” de fazer jornalismo.
A partir dele, surge sua mais famosa variante, o Jornalismo Gonzo, idealizado pelo jornalista Hunter S.Thompson. Criado para ser um estilo de narrativa jornalística onde o narrador se torna um dos principais personagens da obra, ele difere do New Journalism por ser escrito em primeira pessoa e ganhar características mais pessoais. Para Hunter, mergulhar na experiência era muito mais importante, apesar das consequências.
Medo e Delírio em Las Vegas é, até hoje, uma das obras mais famosas de Thompson. Publicado em 1971 pela primeira vez em na revista Rolling Stones, foi com ela que o autor modificou as regras do jornalismo estabelecidas até então, representando em sua narrativa um pouco mais do que acontecia naquele período nos Estados Unidos e ironizando a busca do tão ansiado “sonho americano”.
A história é atraente desde o primeiro segundo de narração, tanto no livro quanto em sua adaptação para o cinema. Ele conta a história (verídica) de Raoul Duke, nome fictício de Hunter na trama, jornalista chamado para cobrir um evento em Las Vegas. Para evitar maiores confusões durante a viagem, Dr Gonzo, seu advogado se torna seu acompanhante. Regado a cocaína, ácido e outras drogas pesadas, o jornalista conta tudo e mais um pouco do que acontece nos dias caóticos na famosa Cidade do Pecado.
É através dos efeitos alucinógenos causados pelas substâncias, que os personagens buscam encontrar respostas sobre várias inquietações internas sobre si, suas profissões e a sociedade. Com um toque de ironia, os diálogos adquirem um caráter crítico durante o decorrer da narração.
A política dos Estados Unidos estava em um momento de crise nesse momento. A guerra contra as drogas já saia do controle na maior parte do país, principalmente após os movimentos de contracultura que aconteciam desde o final da década de 1960. Além disso, a crise do petróleo e a participação do país na Guerra do Vietnã geraram gigantes reações em torno de toda a América, o que popularizou os movimentos hippies e negros no país.
“Dos trezentos dólares em dinheiro fornecidos pelos
editores da revista, quase tudo já tinha sido gasto em drogas
altamente perigosas. O porta-malas do carro mais parecia
um laboratório móvel do departamento de narcóticos.
Tínhamos dois sacos de maconha, 75 bolinhas de mescalina, cinco folhas de ácido de alta concentração, um saleiro
cheio até a metade com cocaína e mais uma galáxia inteira
de pílulas multicoloridas, estimulantes, tranquilizantes,
berrantes, gargalhantes... além de um litro de tequila, outro
de rum, uma caixa de Budweiser, meio litro de éter puro e
duas dúzias de amilas.”
A relação de Thompson com drogas já fazia parte de sua vida real, mas nesse contexto, a crítica sobre a política de drogas dos Estados Unidos era mais intensa. Todas as questões envolvendo o sonho americano e a realidade do país naquela época, levaram o autor a quebrar as regras, tanto do jornalismo como do seu papel de cidadão americano naquele momento.