A indústria da moda está entre as que mais poluem no mundo, a revista Modefica (em 2021) estimou que um caminhão de lixo têxtil é desperdiçado por segundo nos aterros, e cerca de 70% à 80% das roupas que podem ser fabricadas tem potencial para acabar no lixo ou acumuladas em espaços sem terem sido utilizadas. A tendência é que os dados se multipliquem cada vez mais com o crescimento das chamadas "fast fashion" e o consumismo exacerbado de roupas.

A moda é sazonal, acompanha estações e acontecimentos que possam representar algum marco, a rapidez com que isso acontece está cada vez mais aparente, e as consequências dessa velocidade estão na demanda ambiental necessária para a fabricação e o descarte irresponsável. Manuela Troccoli, estudante de jornalismo e pesquisadora de história da moda pontua “A indústria da moda é a 2º mais poluente do mundo ficando atrás apenas da indústria do petróleo, sem contar que é uma das que mais demandam o uso de água e matérias primas ambientais para a produção das peças.”. Em contraponto a isso, Manuela se demonstra positiva quanto a consciência também crescente sobre o uso responsável e uma moda que possa representar mudanças significativas no consumo “Saiu um entrevista recente nos EUA que 14% dos americanos estavam mais interessados em consumir moda sustentável, peças que tenham menos impacto ambiental, o que engloba todo ecofashion, então acho que talvez estejamos caminhando para um futuro melhor.” comenta.
Vestindo Lixo: O reuso como alternativa
Para pensar em prática de contraponto ao consumismo podemos considerar o movimento upcycling, que é a ideia de reutilizar de forma criativa, fazer o reaproveitamento de peças que geralmente seriam destinadas ao lixo ou que por ventura fiquem paradas sem aproveitamento, nesse movimento essa peça pode retornar a circular.
O movimento está em constante crescente dentro e fora das passarelas, e já existem movimentos que representam essa progressão, o projeto “Transmutação têxtil e o Reaproveitamento de Peças” que acontece no Centro Cultural Santo Amaro sugere uma oficina de moda que apresenta técnicas de costura para desenvolver peças a partir do reuso de materiais têxteis já existentes, visa promover a conscientização sobre o descarte de roupas, tornando a moda circular uma alternativa possível para o cotidiano.
Dandara Marya, arte educadora, produtora de moda visual e idealizadora da oficina traz a perspectiva de “Movimentar a transmutação têxtil, um laboratório que propõe através de técnicas de costura estimular as pessoas a promoverem uma consciência de que esse consumo também é um mecanismo de construção de estereótipos. A conversação da moda inclusiva e consumo consciente em espaços culturais, colaborativos, ONGs e residências artísticas, nos dá a ideia de uma forma de reuso e menos descarte. Isso é essencial para conscientizar e para ampliar essa discussão em territórios sem tais recursos de conhecimento. A proximidade a esse debate é um passo muito grande para que possamos discutir sobre como a moda nos define.”
O desfile “Corpa Criativa” desenvolvido por Sollar é resultado da elaboração das peças feitas por alunes durante a oficina ministrada por Dandara e figurinos do acervo pessoal de 'Corpa Sollar' que também foram elaboradas a partir da técnica de reuso. “O desfile fala muito sobre identidade, para a moda além desse consumo, é sobre fazer a moda que realmente veste o nosso corpo.” comenta Sollar.

Mayara Nogueira, estuda e experiência a moda, é adepta ao movimento da moda sustentável, compartilha que o motivo para se vestir de maneira sustentável está diretamente ligado ao fato de se preocupar com a geração de lixo e os efeitos no meio ambiente, diz não encontrar desafios para aplicar a moda sustentável em seu cotidiano “O bazar é muito acessível, se você não gostar da peça dá pra arrumar, cortar e costurar de outra forma, então acho que não tem nenhum desafio” comenta. Nogueira, ainda complementa dizendo que o existe um caminho comum para a moda sustentável e que está principalmente em repensar nosso consumo “Repensar o que a gente compra, o quanto a gente compra, onde a gente compra, e usar a criatividade, pegar uma peça que já existe e usar de outra forma, com uma peça a gente tem muitas possibilidades, assim a gente ressignifica a moda e nosso dia a dia”.

A moda é cíclica e diversa, é a expressão da identidade e pode representar muito mais do que o simples ato de vestir-se, escolher moda sustentável é tornar-se um ato político diante uma crise ambiental.