Vendas online de supermercados disparam na quarentena

por
João Pedro Calachi
|
19/05/2020 - 12h

Em função das recomendações de isolamento social da população de São Paulo, o volume de compras online  dos supermercados disparou. Na última semana de março, por exemplo, as entregas mais do que dobraram em relação à média. E esse aumento não indica que os consumidores estão comprando em excesso, mas sim que o delivery está ganhando cada vez mais espaço nestes tempos de quarentena.  

Desde o dia 24 de março, quando a recomendação de isolamento social passou a ser mais difundida entre os paulistas, os super e hipermercados do estado de São Paulo passaram a ser grandes alvos da população, que, em meio às incertezas da Covid-19, correu para  armazenar  mantimentos. A prática foi veementemente condenada por jornais e  nas redes sociais, mas o aumento no volume de compras não se limitou às lojas físicas:  77% dos mercados relataram forte alta nas vendas online entre os dias 16 e 22 de março.

No total, em comparação com a média dos três  meses anteriores, o aumento durante esse período foi de 74% e, consequentemente, 59% das empresas do ramo precisaram realocar mão de obra para o setor online, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas).

A experiência de fazer compras pela internet, porém, não é  comum entre os brasileiros. Até 2019, apenas 15% dos consumidores faziam uso dos meios tecnológicos para as compras de supermercado, mas, em meio ao novo coronavírus, as novas formas de comunicação foram inevitáveis e necessárias para evitar a disseminação da nova doença. 

Entre os clientes que sempre optavam por comprar nas lojas físicas, está a aposentada Maria Elizete, 67, que se disse surpresa com a funcionalidade do aplicativo “James”, do Pão de Açucar, embora  ainda prefira escolher suas frutas pessoalmente. “Ah... confesso que fiquei com um pouco de medo no primeiro momento, mas, assim que meu neto me ensinou a mexer, deu tudo certo”, comentou. 

Com a boa aceitação, ainda que insubstituíveis para alguns, as compras presenciais perderam espaço para o e-commerce e, nestes tempos de reclusão, não é difícil entender o porquê. Após as primeiras semanas do vírus no estado de São Paulo e a aparente conscientização de parte da população, as vendas online atingiram o ápice de crescimento na última semana de março, ficando 107% acima da média. 

Surpreendidos pela demanda, 52% dos supermercados relataram que tiveram de suspender temporariamente os serviços online para evitar atritos com os clientes, segundo levantamento da Apas. A logística e a operação dos canais virtuais foram os principais problemas apontados pelas empresas do setor nesse período inicial. 

 

 

 




 

Porém, engana-se quem pensa que apenas as grandes redes se adaptaram por meio da tecnologia para manter as vendas e atender a clientela. Localizado na Vila Olímpia, o Mercadinho Nova Cidade, por exemplo, criou um WhatsApp para receber as encomendas. “Seguimos todas as medidas de higiene e estamos fazendo as entregas com luvas e máscaras”, contou Paulo Gomes, dono do estabelecimento. 

Com mais de 6.100 mortes causadas pelo coronavírus no estado de São Paulo, a população parece optar cada vez mais pelas alternativas tecnológicas para compras nos supermercados. De acordo com o levantamento da  Apas, durante a semana de Páscoa (06/04 a 12/04), houve um aumento de 81% no volume de vendas online, mas apenas 15% dos supermercados registraram aumento no volume total de compras, sinalizando assim que a tendência inicial de estocar mantimentos já não é mais realidade e que as compras online estão substituindo, mesmo que por ora, o comércio físico. 

Além disso, ainda em 2019, as previsões de crescimento nas vendas online para 2020 no estado de São Paulo eram de 12% (segundo a FecomercioSP). Após as mudanças comportamentais causadas pelo novo surto epidemiológico, o crescimento da modalidade  ainda não pode ser calculado, mas, a julgar pela aproximação da sociedade com essas tecnologias, assim como pela “familiaridade forçada” que tem ocorrido durante os dias de isolamento, é bem provável que  supere as expectativas.

Em nota, a Apas informou que continua negociando com os fornecedores para manter o abastecimento com preços justos e sugere aos consumidores que realizem compras conscientes e procurem produtos substitutos quando possível. No que diz respeito ao abastecimento dos mercados, a associação enfatizou que os consumidores precisam se programar para as compras online, mas que não é preciso fazer estoque.