Grupos Bolsonaristas do Telegram são focos de desinformação e de formação de eleitores de Jair Bolsonaro. O app, ao início deste ano, tinha 42 milhões de usuários ativos no Brasil e, desde o início da corrida eleitoral, se tornou central na formação de parte do eleitorado brasileiro.
Os grupos variam desde canais oficiais de informação de deputados, senadores e mesmo do atual presidente, a grupos específicos para tratar da eleição e de ameaças esquerdistas no país.
Constantemente são enviadas listas com nomes de canais e de influencers bolsonaristas (as mesmas correntes foram observadas em grupos distintos apurados pela AGEMT), além dos grupos serem permeados por um fator que muitas vezes não é considerado na análise das eleições: a linguagem.
De simples trocadilhos pejorativos a menções de personagens de livros de fantasia, os grupos bolsonaristas no telegram constroem uma imagem com um “imaginário bolsonarista” popular entre pessoas neles presentes. O constante uso de termos como “presidente”, “Brasil”, “ascendendo”, “reeleição” e a ausência de menções a “economia” e “gestão”, por exemplo, ajudam a compor um imaginário compartilhado por essas pessoas.
Os principais sites bolsonaristas enviados em correntes dos grupos somam um alcance superior a 10 milhões de inscritos e 1 bilhão de visualizações no Youtube e a 6,8 milhões de seguidores no instagram - alguns dos quais seguidos pelo perfil oficial de Jair Bolsonaro.
Além de influenciadores, existem diversos portais de comunicação (como Revista Oeste, Brasil Paralelo e Foco do Brasil) que têm grande alcance, além de históricos de disseminação de fake news em anos recentes. A AGEMT fez o levantamento de alguns destes veículos.
Foco do Brasil - as notícias sobre o presidente da República, e o seu governo, e o nosso Brasil.
Plataforma bolsonarista da qual o publicitário, Beto Viana, alega ter recebido R$1.100, não só para fingir apoio ao Jair Bolsonaro, mas também para perguntar sobre a entrevista do Henrique Mandetta - ex-ministro da Saúde - veiculada no Fantástico. Em 13 de abril de 2020, a resposta presidencial já programada menosprezava a mídia arqui-inimiga: “Eu não assisto à Globo” - afirmou o candidato do Partido Liberal (PL).
Segundo Viana, “Anderson do Foco do Brasil” o contratou para questionar o líder do Executivo no cercadinho do Palácio da Alvorada. Nas mensagens de WhatsApp, expostas pelo publicitário na Folha de S. Paulo, o participante do site bolsonarista clamou por cautela e atos discretos para que Beto não fosse descoberto pelos jornalistas no Palácio. Até pediu para evitar a entrada da imprensa e só usar a de visitantes .
De acordo com dados enviados do Ministério da Saúde à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, o governo Bolsonaro desviou verba pública - no mínimo R$ 44,2 mil - para sites bolsonaristas disseminarem fake news, como a cloroquina ser eficaz para o tratamento de COVID-19 entre 2020 e 2021. Logo, exposto pelo The Intercept Brasil, o governo Bolsonaro beneficiou o Foco do Brasil com R$9,3 mil. O alcance do site no Youtube é de 2,91 milhões de inscritos com mais de mil vídeos. O final da sua descrição na plataforma é : “O Foco do Brasil cresceu naturalmente e não recebe e nunca recebeu nenhum recurso financeiro de políticos, empresários ou quem quer que seja”.
Revista OESTE:
Site jornalístico de “pensamento liberal-conservador” interligado à extrema-direita brasileira. Propaga a ideia de como as “hierarquias estabelecidas” - desigualdade entre as classes - fizeram prosperar a liberdade individual do empreendedor. A revista alega que os valores judaico-cristãos a representam, garantindo uma liberdade religiosa e de discurso, abrindo espaço à frase: “É só a minha opinião, cadê o meu direito de me expressar?”.
As edições criticam como o Supremo Tribunal Federal (STF) age como uma ditadura para salvar a democracia, atacam ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) , enaltecem o ministro da economia (Paulo Guedes), apoiam o armamento populacional e disseminam fake news como uma mentira rodeada por negacionismo que mencionava uma suposta ligação entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) - facção criminosa brasileira. O TSE mandou excluir essa matéria quando Bolsonaro a repostou nas redes sociais.
Com 13.108 inscritos no grupo no Telegram, 222 mil seguidores no Instagram, 62 mil no Facebook, 75,1 mil no Youtube e 494,5 mil no Twitter. A OESTE possui um podcast - OESTECAST -, enfatizando os pensamentos das mulheres com o programa “AS LIBERAIS”.
Jornal da Cidade Online:
Jornal se diz consciente com a verdade, “doa a quem doer”. Na edição de setembro, a revista enalteceu o como uma onda verde e amarela perpetuou no dia da independência do Brasil. Entretanto, o DataFolha e a Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC), averiguaram a rejeição do candidato do atual presidente como, no mínimo, de cinquenta por cento.
Seu vocabulário é marcado pelo uso do superlativo enaltecendo o conceito de hipérbole nas ações dos candidatos bolsonaristas. Em relação a Jair Bolsonaro, o site informativo escreve o como ele tem um “coração de Deus”, discursa brilhantemente e de forma impactante, além de ser um destaque midiático.
O jornal enaltece a “elegância da primeira-dama” e exalta o papel dela na campanha eleitoral do atual presidente - mirando os votos das mulheres. Em contraponto, distorcem a imagem da Janja - socióloga brasileira e esposa do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - e tentam criar uma rivalidade feminina entre as companheiras dos candidatos. Portanto, não é surpreendente mencionar o como atacam o ex-presidente petista. As plataformas da Cidade Online o xingam e menosprezam, alimentando a polarização. Reanimam o pavor de um Brasil comunista com uma imprensa medíocre encabeçada pela “Globo Lixo”.
O jornal tem 1.626.469 seguidores do Facebook, 406 mil no Twitter, 268 mil no Instagram e 728 mil inscritos no Youtube.
Brasil Paralelo:
Canal de extrema direita neoliberal criado em 2016 que, atualmente, tem 3 milhões de inscritos e 292 milhões de visualizações no Youtube. Conta com séries que misturam entretenimento e política como o “Investigação Paralela”.
Uma das suas séries chegou a ser veiculada no canal de televisão estatal TV Escola - vinculada ao Ministério da Educação - e foi repudiada por telespectadores por conter “versões mentirosas e negacionistas da história”, segundo a regional São Paulo da Associação Nacional de História.
Entre abril e maio deste ano, gastou cerca de R$1,3 milhão em anúncios ganhando espaço dentro da lista dos 10 maiores anunciantes no Facebook e Instagram.