Por Daniel Seiti
24 de outubro foi o Dia Mundial de Combate à Poliomielite. Causada pela transmissão do Poliovírus, a doença foi erradicada no Brasil em 1989 por meio de uma campanha nacional de vacinação eficaz – incluindo o imunizante ao PNI (Programa Nacional de Imunização) – fato que resultou na adesão em massa da população à vacina. Entretanto, a sequência recente de quedas anuais na taxa de imunização dos brasileiros chama atenção de especialistas, que temem o desencadeamento de um novo surto da doença no País.
Levantamento do Ministério da Saúde aponta que, entre os anos de 2015 e 2020, houve uma redução no número da população vacinada. De acordo com dados divulgados pela Pasta, nesse período, o índice de imunizações contra a poliomielite caiu de 97% para 76%. O valor não atinge o mínimo recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que orienta a taxa de imunização deve permanecer em 95%.
Esse recuo soa um alerta para especialistas, que temem a volta de doenças controladas ou erradicadas pelos imunizantes, como a poliomielite - a possibilidade de situação semelhante a volta do sarampo, que havia sido erradicado e, com a queda nas taxas vacinais, voltou a ter casos registrados no Brasil em 2019. Em entrevista à AGEMT, o médico sanitarista e ex-presidente da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Gonzalo Vecina, expõe os riscos que essa queda pode desencadear.
“Temos que lembrar sempre que a vacinação não é um ato individual, mas um ato coletivo. Não adianta proteger somente alguns se todos não se protegerem, porque haverá a circulação do agente causal daquela doença e isso poderá acometer a todos. A nossa preocupação é que, como o vírus da paralisia infantil ainda circula no nosso meio, podemos ter o reaparecimento de casos. Isso precisa ser devidamente difundido e o que em faltado são campanhas de vacinação”, explica o médico sanitarista.
A diminuição na cobertura vacinal entre os brasileiros se estende a todas as integrantes do PNI. A BCG, contra a tuberculose, chegou a 73,8%, a menor cobertura em 27 anos, enquanto a tríplice viral, contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, caiu para 79%, um decréscimo de 33 pontos percentuais nos últimos seis anos.
Para Vecina, a diminuição do número de vacinados no Brasil não é afetada principalmente por movimentos negacionistas – como acontece nos Estados Unidos e em certos países europeus –, mas pela falta de incentivos e estratégias governamentais.
“A vacinação é uma atividade desenvolvida pela estrutura pública de saúde e que no Brasil é responsabilidade do PNI. Na minha opinião, no atual momento, nós temos uma desmobilização do Ministério da Saúde que não conseguiu ser substituída por estados e municípios – os estados têm a responsabilidade da logística e os municípios da aplicação das vacinas”, pondera.
De acordo com o sanitarista, entre incentivos financeiros, restrições e até a possibilidade da implementação de um passaporte de vacinas do PNI, o fortalecimento de campanhas públicas de vacinação segue como a melhor solução para incentivar a população a se proteger e aumentar as taxas de imunização para índices adequados.
“Existem diferentes formas de incentivarmos a vacinação e elas devem ser utilizadas. No Bolsa Família, por exemplo, o adulto só pode receber o benefício se o filho dele está com a carteira de vacinação em dia. A permissão da matrícula escolar acontece somente para crianças imunizadas. Mas ainda acho que o componente mais importante em um plano nacional de imunizações é a presença do Estado. Nesse momento, no governo Bolsonaro, o Estado se retirou do PNI”, afirma.