Uso excessivo de redes sociais podem causar ansiedade excessiva

Na pandemia nossa “normalidade social” se tornou digital, entretanto são raras as vezes em que nos questionamos sobre o impacto daquilo que consumimos on-line em nossa saúde e bem-estar
por
Diogo Moreno Pereira, Maria Júlia Mendes Baumert, Patrícia Almeida Mamede, Rafaela Guazzelli Dionello
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30/09/2021 - 12h

 

Com a chegada da pandemia, o tempo corrido do usuário em redes sociais teve um crescimento significativo de 22% em relação a 2019 de acordo com dados levantados pela App Annie. Esse aumento resultou também na elevação da preocupação de usuários e criadores de conteúdo com os efeitos dessas e de seus algoritmos, em sua saúde mental. 

Yasmin Morais, criadora de conteúdo e fundadora do projeto Vulva Negra, diz que a melhor plataforma para realizar seu trabalho é o Instagram. "Tenho percebido que constrói-se uma relação muito mais íntima e imediata com o público’’, justifica sua preferência. No entanto, as pessoas que utilizam destas plataformas como ferramenta para seu trabalho precisam saber ponderar seu conteúdo com os algoritmos, responsáveis pelo crescimento do perfil. 

@yasminescritora
Arquivo pessoal. @yasminescritora

 

Segundo a Comscore, os conteúdos relacionados à educação e finanças foram os que mais cresceram em interações durante esse ano. Uma outra pesquisa levantada pela Comscore, parceira reconhecida para planejamento, transações e avaliação de mídia em diferentes plataformas, notou que o Brasil atinge o índice mais alto do mundo (97%) na penetração de conteúdos entre usuários únicos de redes sociais. O mesmo estudo aponta um crescimento de 25% no engajamento nas redes sociais em 2020.

Bruno Alves, baiano de 19 anos que possui um público de mais de 160 mil seguidores no Tiktok, no entanto, possui uma experiência diferente com o Instagram: é ali que seu conteúdo encontra mais "hate". Bruno afirma que é muito difícil crescer na plataforma por ser muito pautado em critérios superficiais como dinheiro, além da frequente compra de seguidores para dar um boost na rede. Assim, escolheu o Tiktok como sua principal ferramenta, "Lá no Tiktok era ao contrário, as pessoas que me ajudaram, me apoiaram, gostam do seu conteúdo e te admiram''.

Moraes adverte que a forma como as redes sociais são constituídas partem de uma ótica patriarcal e racialmente hierárquica. A escritora explica que existem inúmeros perfis com tendencias relacionadas à pedofilia que não são bloqueados, enquanto um perfil que aborda amamentação é limitado de alguma forma. ‘’Então nós percebemos que até mesmo dentro dessas modulações existem delimitações que podem ser compreendidas como políticas’’,  afirma.

Além da implicação política das redes sociais na sociedade, há também efeitos psicológicos para os criadores de conteúdo. O Hospital Santa Mônica vincula as redes sociais ao aumento de vulnerabilidade há problemas como: impulsividade, ansiedade excessiva, transtorno de humor, consumo de substâncias, TDAH, entre outros.

infográfico
Infografico feito pelo Hospital Santa Mônica sobre o uso de redes sociais.

A escritora afirma que sofreu alguns desses sintomas devido ao seu trabalho no Instagram: "Tenho a certeza que isso por vezes afeta-me negativamente, afinal trabalhar com as mídias sociais e internet tende a nos pôr em um estado de constante ansiedade, afinal de contas, nós temos de estar a todo momento pensamos no que iremos fazer, quando iremos fazer, como iremos fazer, como esse conteúdo será recebido pelo grupo". Inclusive ela sugere a todos os produtores de conteúdo que procurem acompanhamento psicológico.

Ellen Senra, psicóloga, escritora e colunista acumula mais de 18 mil seguidores em seu Instagram concorda com Yasmin, acreditando que trabalhar com redes sociais pode acabar sendo maléfico para a saúde mental. “Além do cansaço mental, precisamos lidar com a falta de bom senso de muita gente, inclusive haters que estão ali apenas para derrubar seu conteúdo, então é preciso cautela e se resguardar dentro do possível”, disse a psicóloga.

 

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