Union Berlim: A persistência da Alemanha Oriental

Equipe do extinto lado oriental alemão vive a sua melhor campanha na história da Bundesliga
por
Vitório Fleury
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26/04/2023 - 12h

No dia 13 de agosto de 1961, durante a Guerra Fria, o muro mais emblemático da história começara a ser construído. Motivado pela constante fuga da população da Alemanha Oriental, economicamente atrasada, para a Alemanha Ocidental, o governo da República Democrática Alemã (RDA), em conjunto com a URSS, tomou uma decisão drástica ao dividir o país, simbolizando um dos principais movimentos da Guerra Fria.

Durante todo esse período, o futebol alemão foi muito influenciado pelas disputas políticas. Economicamente estável, a parte ocidental era governada da perspectiva capitalista e recebia apoio das nações parceiras, ajudando no seu desenvolvimento industrial.

Com grande incentivo, a Alemanha do Ocidente venceu duas Copas do Mundo, em 1954 e 1974. Em seu primeiro título, desbancou a Hungria de Ferenc Puskás, e em 74, a Holanda de Johan Cruyff. Do outro lado, a Alemanha Oriental disputou apenas uma Copa, em 1974, na qual enfrentou de forma histórica a Alemanha Ocidental e venceu por 1 a 0 com gol de Jürgen Sparwasser, que garantiu o 5º lugar da seleção na competição.

Em 1989, após a crise do bloco socialista e manifestações populares, Günter Schabowski, porta-voz do governo, anunciou a abertura das fronteiras com a Alemanha Ocidental. Ainda que de forma equivocada, a população foi as ruas e não havia mais o que fazer senão permitir a passagem com a derrubada do muro, e assim foi feito por Egon Krenz, comandante da RDA que substituiu Erich Honecker.

Como reflexo das seleções, demorou 30 anos para uma equipe da Berlim Oriental figurar na primeira divisão. O Union Berlim, ao subir na temporada 2019/20, foi apenas o quinto que disputou a extinta Oberliga (competição da RDA). Os demais quatro: Dynamo Dresden, Hansa Rostock, VfB Leipzig e Energie Cottbus nunca conseguiram se manter na elite alemã.

Fundado como FC Olympia 06 Oberschöneweide, em 1906, se tornou Union em 1910. O apelido de “Eisern Union” (União de ferro) e “Schlosserjung” (garotos metalúrgicos) surgiu com a participação de operários, que faziam referência à classe trabalhadora.

Nos anos seguintes, o clube manteve sua modéstia e não fez grandes campanhas. Durante a Alemanha Nazista, o Union Oberschöneweide foi excluído, pois o segundo nome fazia referência a uma das regiões na ofensiva do Exército Vermelho, sendo dissolvido pelas autoridades comunistas.

Ao retomar o nome em 1948, o Union passou por diversas mudanças durante a divisão da Alemanha. Após reivindicar o seu lugar no Campeonato Alemão-Oriental, após ser vice-campeão do campeonato regional de 1949/50. Barrados pelo regime comunista ao tentar viajar para Kiel, onde enfrentaria o Hamburgo, atletas na maioria titulares encararam as autoridades e realizaram a partida. No placar final, uma derrota por 7 a 0.

Após os jogadores que foram ao duelo fundarem o Union 06 Berlim na Alemanha Ocidental, o Union Oberschöneweide, ainda que enfraquecido, foi integrado a Oberliga, sendo rebatizado como Motor Oberschöneweide, momento em que trocaram o azul do uniforme pelo vermelho, que segue até os dias atuais.

Na sequência do acesso a primeira divisão em 1962, após sofrer uma queda em 1953, o clube começou a crescer no cenário oriental. No ano de 1968, venceu a Copa da Alemanha Oriental, batendo o Carl Zeiss na grande final por 2 a 1.

Nas décadas seguintes, viveu em uma gangorra entre a primeira e segunda divisão da Oberliga, rivalizando com o Dynamo Berlim. No final dos anos 1980, a torcida do Union ecoava “Die Mauer muss weg” (O muro vai cair) e seguia forte o seu lado operariado.

Com a queda do muro, o Union se fortaleceu como a equipe da capital, fazendo uma união com o Hertha em um amistoso assistido por 51 mil torcedores, oficializando a reunificação alemã.

Agora juntos, os Eisernen tiveram que disputar a terceira divisão do Campeonato Alemão. Apesar das dificuldades financeiras, o clube contou com patrocinadores e a própria torcida, que auxiliaram a equipe a se estabilizar na segundona. 

Ao subir para a Bundesliga em 2019, após disputar playoff para a promoção, contra o Sttutgart, e se classificar pela regra do gol fora após dois empates, o clube protagonizou um momento histórico. Enfrentando o RB Leipzig, vindo da Alemanha Oriental, mas odiado por ser gerido por uma empresa de energéticos, que representa o capitalismo, o Union goleou por 4 a 0 o “rival”. Nas arquibancadas, a torcida protagonizou 15 minutos de silêncio em resposta ao futebol moderno, figurado no Leipzig.

Desde a temporada 2019/20 na elite, o Union Berlim vem crescendo nas posições finais. No ano em que estreou, terminou o campeonato em 11º lugar. Na sequência, figurou na sétima e quinta colocação.

Atualmente, disputando a Bundesliga 2022/23, o clube da capital segue cada vez melhor, representando um passado desafiador na Alemanha Oriental. O clube está atualmente na 3ª posição do torneio, com 55 pontos, cinco atrás do líder Borussia Dortmund.

O sucesso do time passa pela mão de Urs Fischer, técnico do Union desde 2018. Um dos principais nomes do acesso em 2019, o comandante tem contrato até o final deste ano.

Contando com a melhor defesa do campeonato até o momento, o Union Berlim quer mais uma vez fazer história e garantir a sua melhor posição, podendo disputar a Champions League pela primeira vez, após cair nas oitavas da Europa League neste ano.