Uma arte esquecida

As dificuldades enfrentadas pelos profissionais da dança no Brasil
por
Beatriz Camargo Vasconcelos
Maria Luiza Costa
|
17/11/2021 - 12h

De acordo com relatos jesuítas, a dança no Brasil teve início com os povos indígenas, que tinham propósitos religiosos e ritualísticos, como o toré no Nordeste e o kuarup no Mato Grosso. Já as danças eruditas, foram introduzidas de forma tardia pelos europeus, mais especificamente por Luis Lacombe que produziu o primeiro espetáculo de ballet no ano de 1813, na cidade do Rio de Janeiro. 

            As escolas de dança só chegaram no território brasileiro um século depois do primeiro espetáculo, até então para a elite carioca, assim estabelecendo a desigualdade que vemos na arte até os dias atuais. Porém pouco se sabe sobre a história da dança brasileira "Outro dia uma professora minha falou assim: 'Bartira traz os materiais aí sobre as danças regionais do Brasil’, a gente não acha, não existe, não tem a valorização nesse sentido", contou a professora de dança Bartira Mercês, 43 anos, formada pela escola nacional de ballet do Canadá, que hoje permanece no país por uma melhor oportunidade no ramo.

"Registro de um processo intenso e cheio de emoção e aprendizado” (@quadrelacia)
"Registro de um processo intenso e cheio de emoção e aprendizado” (@quadrelacia)

 “A diferença do investimento feito na arte no Brasil e no Canadá é gritante. Aqui as crianças no Canadá, desde novas, nas escolas, têm acesso a arte. A arte como disciplina, o conhecimento da arte, música é vivo na vida das crianças.” disse Bartira. Essa falta de investimento faz com que poucas pessoas tenham acesso a modalidade no Brasil, visto que é preciso ir atrás de companhias, normalmente privadas, para conseguir ter um futuro na área, mais uma vez elitizando a dança no país, assim afastando cada vez mais pessoas que vivem em comunidades desfavorecidas. 

Tentar uma carreira no exterior nem sempre é uma opção, por isso muitos acabam ficando no Brasil e enfrentam diversas dificuldades pela falta de investimento e pela desvalorização da dança como profissão. Roberto dos Santos, 59 anos, trabalha no ramo desde seus 16 anos e atualmente tem sua própria companhia diz que "o currículo não é muito valorizado e as condições de trabalho, muitas vezes também não são muito favoráveis", o mesmo também destaca que para se tornar um profissional credenciado são necessários 8 anos de estudos, o que normalmente não ocorre assim banalizando e desprestigiando a profissão.  

Coreografia: "Meus gestos clamam" (@quadrelacia)
Coreografia: "Meus gestos clamam" (@quadrelacia)

A pandemia do coronavírus prejudicou o setor da cultura, que apresentou uma perda de cerca de 240 mil postos de trabalho, de acordo com o Painel de Dados Observatório Itaú Cultural. Com isso, a falta de investimento de forma adequada nesse campo, faz com que viver da arte se torne algo mais difícil do que antes, levando diversos profissionais a buscarem outras alternativas para sobreviverem. Essa situação ocorreu de forma diferente para Bartira, que mesmo tendo que parar de trabalhar para cuidar de seus filhos não passou por muitas dificuldades dado que recebeu auxílio do governo canadense, assim como outros artistas, desde professores até músicos, bailarinos e profissionais da arte de forma geral. 

 

 

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