Um peso, duas medidas

Com a instauração da fase roxa na metrópole paulistana, ficou nítido que os casos não param de se expandir. O que era 100 mortos por dia virou 4 mil - e as UTIS atualmente trabalham com quatro vezes sua capacidade; realmente existem os responsáveis por tu
por
Yerko Mauricio, Pietra Nobrega, Manuela Troccoli e João Carlos Ambra
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08/04/2021 - 12h

Em março de 2020 foi declarado o primeiro caso de coronavírus no Brasil. Um ano depois, somatizamos em mais de 400 mil mortes. Mas por que motivo isso acontece? A quem se deve o colapso que estamos vivendo, e, principalmente, a que comportamento isso pode ser associado?

    Apesar de São Paulo ter mais de 12 mil leitos (todos ocupados), e considerando que a UTI está operando com quatro vezes da sua capacidade total, a fila de mortalidade de covid só cresce - são centenas de pessoas aguardando e falecendo ao não conseguir ter acesso a nenhum leito (vale lembrar que São Paulo é o Estado com maior quantidade e disposição de leitos no país). A calamidade é geral, milhares de habitantes aguardam oxigênio.

    Além de temas como “quarentena”, “lockdown” e “kit covid”, não podemos descartar a falta de um plano nacional de imunização, a “novela” que está sendo o processo das vacinas desde o ano passado e o comité anti covid falando inclusive sobre furar a fila do plano nacional - tal que é para muitos, questionável. Sem contar que não se fala de combate, das estatísticas de outros países e da importância crucial de usar máscaras protetoras. 

    A grande falta de informação produz um descuido na proteção ao vírus, inclusive aglomerações constantes e várias festas clandestinas; mas será que quem frequenta este tipo de ambiente realmente não tem acesso a informação ou prefere se alienar para “curtir com os amigos”?

Após o aumento em massa de casos de covid com a nova variante e o decreto do governo da fase vermelha e emergências, os donos de festas, lounges, bares começaram organizar as mais conhecidas  “festas clandestinas”. 

São festas feitas a escondidas, contra as leis, com pessoas imprudentes que desrespeitam as regras e não se importam com o grande número de casos em São Paulo. Os organizadores que são chamados de promotores fazem o convite circular pelas redes sociais, sem nunca revelar a identidade para não serem pegos facilmente pelos guardas civis, policiais ou fiscais da vigilância sanitária. 

Os interessados entram em contato e recebem os dados bancários para o pagamento, só após feito e a apresentação do comprovante é revelado onde será o ponto de encontro para o partida  ou mandam o endereço para se conduzirem ao local proibido onde ocorrerá a festa clandestina. 

Os promotores apresentam regras antes de acontecerem as baladas para que não ocorra de serem encontrados, eles obrigam os convidados a deixarem o celular em um guarda volumes para evitar as fotos, também frequentemente a troca de endereços.

Dependendo do lugar e da festa a classe social acaba mudando, em lugares mais elegantes e mais caros a elite de São Paulo estará presente, que são as pessoas que têm mais dinheiro e estão dispostas a pagar mais de 300 reais pela entrada das baladas. Já em bairros mais pobres a classe muda, mas independente de quem são as pessoas eles estão desrespeitando as regras e piorando o andamento contra o Vírus. 

O empresário Carlos Eduardo de Andrade, de 28 anos, era dono de um restaurante, no centro de São Paulo. Porém com a pandemia, muitas lojas e restaurantes tiveram que fechar suas portas, devido a crise. Carlos não conseguiu manter seu restaurante e fechou.

"Na minha opinião, restaurantes, bares, shoppings e o comércio deveriam funcionar normalmente, com o uso obrigatório de máscaras e distanciamento, não vejo necessidade alguma de não poder funcionar e no final somente nós saímos perdendo e tendo que fechar nossos estabelecimentos .” disse Andrade.

    Carlos conta que estava frequentando restaurantes, bares e até mesmo festas com aglomerações.

“ Não acho tão preocupante o momento atual que estamos vivendo, a ponto de parar a minha vida e ficar isolado em casa, sei que muitas pessoas estão morrendo mas é só se cuidar e sair de máscara. Estou saindo com meus amigos sempre que posso.” Diz Andrade.

Com cerca de 341 mil mortes pela Covid-19 no Brasil, e os números de mortes por dia cada vez maiores, Carlos Eduardo diz não confiar em números e dados fornecidos pelo ministério da saúde. 

“Posso afirmar que o governo está fazendo um bom trabalho na pandemia, dentro do possível é claro, mas acho que eles aumentam os números de morte para deixar a sociedade mais aflita, com medo de sair e assim, as pessoas  começam a ficar em casa.” Diz Andrade

    Com o processo de vacinação ocorrendo por todo o Brasil, o empresário faz parte do grupo de pessoas que ainda não sabem se irão se vacinar e duvidam da eficácia.

    “Tenho um tempo para pensar até chegar a minha vez, mas como nunca peguei o vírus, acho que não vou precisar, tenho uma boa imunidade. Até porque não quero virar jacaré.” Diz Andrade. 

       Para buscar um contraponto de alguém que estava tratando a pandemia com cuidado e respeito, entrevistamos Lia Aruni Damous Bertolo, de 20 anos, que atualmente exerce a profissão de estudante. Lia está tomando todos os cuidados e cautelas necessárias e tem uma opinião contrária à de Carlos Eduardo de Andrade sobre a pandemia e a Covid-19. 

       “Por um um lado entendo aqueles que precisam trabalhar e não tem a opção de não pegar transporte público, mas vejo que muitos já se acostumaram com o que estamos passando e não tem mais “medo” do vírus. Acredito que aqueles que não tem mais “medo” do vírus e não se precavem podem não ajudar a melhorar a situação que estamos. Outro ponto que não está colaborando é o governo, que está cagando completamente pra tudo, e isso tá me dando um certo medo de ver os outros países conseguindo controlar a pandemia enquanto o Brasil só cresce o número de mortos por dia.” Diz Bertolo

       A estudante conta a respeito das medidas que está tomando junto a sua família para se cuidar contra a Covid-19.

       “As medidas que ando tomando são as básicas, como o uso de álcool em gel sempre que não estou em casa, uso de máscara, quando volto do mercado com compras sempre higienizo, ao entrar em casa tirar o tênis, higienizar a sola do sapato  e o colocar na área externa (onde há ventilação natural) além de sempre que posso tomar um banho por completo depois de voltar da rua, minha mãe está bem exigente, mas com razão, todo cuidado é pouco.” Disse Bertolo

       Lia tem tomado cuidado em dobro pois está vendo somente seu namorodo e a família dele tem pessoas no grupo de risco, sobre a vacinação da COVID-19 a estudante pontuou;

     “Sobre a vacina, irei  tomar e meu namorado também, estamos ansiosos. Mas ainda não fiz uma pesquisa a fundo pra saber mais detalhes e eficácias das vacinas. Para aqueles que optaram por não tomar, eu respeito, mas estes têm que ter um cuidado maior consigo e os que estão à sua volta.” Disse Bertolo; 

Lia conta que está passando por momentos de altos e baixos na quarentena e acredita que todos estão de saco cheio.

      “Estou muito de saco cheio da quarentena, tudo que eu queria era poder viajar com meus amigos, sair na rua, abraçar pessoas,  mas não é por isso que vou furar a quarentena e botar a minha vida e a de outros que estão à minha volta em risco, é difícil se manter positiva e produtiva em tempos como esse, tenho várias fases precisamos cuidar da gente e da nossa saúde mental.” Diz Lia.

    Após as entrevistas, ficou clara uma nítida contraposição entre os entrevistados. Enquanto de um lado existem pessoas clamando pelo fim da pandemia, e tomando cuidado para que este período não se prolongue, temos outras pessoas que estão vivendo a vida de maneira muito próxima a vida normal, sem se preocupar com contrair a doença e sobretudo em transmiti-la.

    O interessante é pensar que ambos os entrevistados estão lidando com a mesma crise sanitária, de formas absolutamente distintas. 

            Com o cenário atual que estamos vivendo, existem pessoas que preferem não enxergar a realidade, às vezes é mais fácil, só pensar em você, enxergar a sua realidade, que muitas vezes é totalmente diferente dos outros, sem se  importar com o próximo, e com as dificuldades que muitas pessoas estão passando, notamos isso  nas entrevistas. 

    Enfrentar a pandemia está sendo difícil para todos os brasileiros, todos tiveram que se adaptar a uma nova realidade, se reinventar, construir uma nova  rotina totalmente diferente,  ver a vida por outros ângulos, dar chances para o novo. Não podemos negar que as classes inferiores sentem esse impacto de uma forma maior, e com mais necessidades, mas cada um tem sua batalha diária, sua forma de passar  e viver a tudo isso.

           A melhor forma de enfrentarmos a Covid-19 é sendo humilde em reconhecer que esse momento tão crítico e cruel merece nossos esforços para que tudo acabe logo, como fazer a quarentena, ficar em casa sempre que possível, usar máscara, álcool em gel, evitar aglomerações. Cada vida importa, a sociedade precisa se unir para um bem estar coletivo, não dá mais para fingir que todos os dias morrem mais de mil pessoas, que o Brasil não é um dos piores países no combate do vírus, com dados e índices assustadores. Precisamos combater esse vírus e a diferença começa por cada um de nós.

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