Um almoço com Lula

Em 1988, um grupo de cozinheiras, entre elas minha avó, preparou a refeição do então deputado federal, já um líder popular mobilizador
por
Carlos Eduardo da Cruz Pires de Moraes
|
01/12/2020 - 12h

“É verdade é verdade!” Respondeu prontamente minha vó, Minervina Silva da Cruz, 86, moradora de Valença cidade do interior da Bahia, localizada ao sul de Salvador, quando perguntei a ela sobre a tal história de quando ela se encontrou com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, hoje em dia para todos, apenas Lula. Essa é uma história que causa muita animação nela. Lembro a primeira vez que ela contou que havia cozinhado para ele - confesso que naquele momento não tinha levado muito a sério, como ela falava toda animada e com muito orgulho.

Foto de acervo pessoal de Minervina

Esse acontecimento se desenrolou por volta de 1988, um período de esperança para a política brasileira, recém saída do regime militar. Quando meu tio, Décio Silva da Cruz, 62, se candidatava a vereador pelo PT (Partido dos Trabalhadores) e o então ainda apenas militante mas já muito popular Lula, veio ajuda-lo em sua campanha. “Décinho era presidente do partido (ela acabou errando, depois vim a descobrir que ele era na verdade candidato a vereador), eaí mandou chamar ele, pra fazer um almoço e fazer campanha no Guaibím” (praia da cidade). Relata como entusiasmo e alegria minha vó Miné.

“Ele abraçou todo mundo, ninguém acreditou, aí mostrei o retrato com ele, que está eu e as cozinheiras com ele. Tem um amigo dele que sempre me liga até hoje dando parabéns”, relata animada sobre quando cozinhou para o militante petista. Para ela essa ação é um motivo de orgulho, mas esse orgulho muito provém de esse almoço ter sido oferecido para o Lula. Não creio que se fosse um candidato inexpressivo, dona Minervina se lembraria com tanta ênfase e alegria, visto que ela mora em uma cidadezinha do interior da Bahia e a pratica de festejar com políticos é comum.

Foto de acervo pessoal de Minervina. Da esquerda para a direita, Minervina, dona Lurdes, Lula e dona Vavá

Quando eu digo que Lula não era um político qualquer, não estou brincando. Esse encontro com minha vó ocorreu no ano de 1988. A democracia brasileira ainda era recente, o ex-presidente não havia se candidato pela primeira vez a presidência, tendo em seu currículo apenas a presidência do PT e sido eleito em 1987 deputado federal (um cargo não muito popular quando se pensa no eleitor) e mesmo assim já esbanjava uma alta popularidade, que o fazia ser adorado até mesmo em uma pequena cidade do interior baiano.

“Quando ele concorreu ele ganhou aqui, aqui ele ganho!” Dona Minervina afirma. Realmente ele ganhou, 14 anos depois, quando foi eleito Presidente da República. Ganhou com expressividade na pequena cidade de Valença. Talvez aquela sua visita anterior tenha sido realmente muito marcante, que foi capaz de angariar sua vitória naquele local.

É interessante de se notar como as histórias as vezes marcam. Não é a primeira vez que minha vó chegou a cozinhar para um político, mas esse é o único que ela se lembra com clareza. Não digo nem que ela se lembra porque anos depois ele foi eleito e estampou as grandes mídias, mas porque dona Minerva realmente se lembra, pelo fato de a passagem de Lula realmente a ter marcado. Desde o almoço e a forma como ele estava vestido “camisa social, calça preta e tênis preto, normal”, relata, sem mexer na foto que tinha com ele, que só foi encontrar depois. Minha vó tem essas e outras histórias, desde as dificuldades sofridas, as conquistas, a encontro com lobisomens. Se quisesse poderia ser uma poeta e das boas.

Foto do panfleto de candidatura de Décio Silva da Cruz. Da esquerda para a direita, Lelé, Décio e Lula

 

 

Tags: