A última obra de Jô Soares-"Gaslight, uma relação tóxica".

Escrita por Patrick Hamilton em 1938, “Gaslight” ganha adaptação brasileira e estreia dia 09 de setembro em São Paulo.
por
Lídia Rodrigues de Castro Alves
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07/09/2022 - 12h

“É a realização de um sonho nosso e, principalmente, um sonho dele”, afirma diretora de produção, Priscila Prade, sobre a realização da última obra idealizada por Jô Soares. A primeira adaptação brasileira de “Gaslight” foi dirigida por Jô e Maurício Guilherme, projetada por Giovani Tozi e Jô e traduzida por Matinas Suzuki.  “Gaslight, uma relação tóxica” estreia dia 09/09 no Teatro Procópio Ferreira, no centro da cidade de São Paulo. A obra gira em torno de uma relação abusiva na qual, um homem (Jack), manipula sua esposa (Bella), até que a personagem comece a duvidar de si própria. O diferencial da montagem é que, a história ganha um toque especial, as mãos de um dos maiores autores e comediantes do país. Maurício Guilherme, codiretor da montagem, conta que Jô não queria fazer algo que já tivessem feito, por isso, mudou a estética do cenário da peça. Portanto, diferente das outras apresentações, desta vez, o público receberá um ponto de vista não realista no palco.

“Tudo que vocês vão ver aqui, está num lugar de muito afeto e carinho”, exclama Tozi sobre projeto que nasceu em sala de cinema na casa de Jô Soares. A peça conta com Kéfera Buchmann, Leandro Lima, Giovani Tozi, Erica Montanheiro e participação especial de Neusa Maria Faro, elenco que segundo Prade, foi escolhido a dedo pelo diretor, que junto com Matinas Suzuki traduziu o texto já imaginando quem deveria interpretar cada trecho do espetáculo. O cuidado de Jô com a maneira com que o texto traduzido seria passado ao público foi um dos pontos levantados por Suzuki em coletiva de imprensa, “a gente traduzia em blocos, e ele lia em voz alta parte por parte, para saber se a tradução seria assimilada pela plateia, se tinha ritmo, se faria sentido, se as pessoas iriam de fato entender o que estava sendo dito”, já que, segundo Jô, o que não pode ser compreendido, não causa interesse. Matinas também ressalta que as peças não são literalmente suas traduções, é necessário que o autor tenha a sensibilidade de substituir e adaptar cada detalhe do texto, processo que foi muito valorizado por Jô, na criação do espetáculo.

O escritor usava a comédia não só para fazer o público rir, mas para fazer o público pensar, suas piadas muitas vezes demonstravam sua insatisfação política e denunciavam irregularidades e em sua última obra, não foi diferente. “Temos a necessidade de fazer essa peça nesse momento, o Brasil tem um presidente que é um gaslighter, o que ele faz com as mulheres é um crime, portanto, essa peça tem que ser representada nesse momento”, disse Jô para Suzuki pedindo que repassasse o recado.

 Além de cenário original, a peça recebe também, uma trilha sonora feita especialmente para sua exibição. Ricardo Severo, responsável pela composição das músicas pontua que Jô sempre teve muito cuidado com essa parte em seus espetáculos, a trilha é uma mistura de suspense, drama e obviamente, humor. “É uma pena que Jô não pôde ouvir a versão final, mas tenho certeza que ele teria gostado, pensei o tempo inteiro o que ele gostaria de ouvir e que ajudaria a contar essa história”, conta Severo sobre processo de criação. “Jô dava aula e ao mesmo tempo era um banho de amor”, exclama compositor, que se junta ao grupo de admiradores do comediante. Todos do elenco demonstram forte afeto pelo diretor e equipe, entrosamento que segundo Kéfera, facilita a execução do espetáculo, “somos uma família”. A peça é suspense, é alerta, drama, comédia e principalmente, "um tributo ao nosso querido amigo e mestre” afirma, Maurício Guilherme.

 

 

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