TUCA: Um suspiro de liberdade que marcou a resistência

A história por trás de um dos teatros mais emblemáticos da história de São Paulo, bem como para o Brasil.
por
João Pedro Stracieri Fareleiro
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25/04/2024 - 12h

O Museu do Memorial da Resistência de São Paulo, inaugurado em 2009, conta uma linha de tempo virtual interativa que traz a cronologia de atos de repressão e movimentos de resistência históricos no Brasil, desde a Proclamação da República (1889) até hoje. 

No dia 9 de março de 2024, o museu inaugurou a exposição Resistências na PUC-SP, que mostra a luta e a resistência na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) diante do autoritarismo, da violência e da censura da Ditadura Civil-Militar (1964-1985). 

A exposição está dividida em cinco eixos: Invasão da PUC-SP e a resistência à ditadura; Docentes, artistas e intelectuais acolhidos pela PUC-SP; Comissão da Verdade da PUC-SP Reitora Nadir Gouvêa Kfouri; Arte e resistência no TUCA; e A defesa radical da democracia.

 

O Teatro TUCA

Durante vários momentos a instituição PUC-SP se assumiu enquanto um suspiro de liberdade e, em 1965, inaugurou o Teatro da Universidade Católica de São Paulo (TUCA) com a peça “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto, e testemunhou Caetano Veloso cantando “É proibido proibir”, em 1968.

 

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Incêndio no Tuca em 1984. Crédito: CEDIC-PUC. 

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Após 19 anos da inauguração, em 1984, o teatro sofreu dois incêndios, um em setembro e o outro em dezembro. O primeiro incêndio muito provavelmente criminoso dado às condições em que ocorreu. Na noite de sábado, 22/9/1984, cerca das 19h30min horas, mesmo dia da invasão da PUC-SP pelas forças da repressão 7 anos antes, em 1977, o TUCA é incendiado. O teatro estava vazio porque era intervalo entre dois espetáculos. Aproximadamente às 22:00 horas “o fogo e o TUCA estavam acabados”, conforme descreve o jornal Porandubas. 

Aberta as investigações, constatou-se que o incêndio foi ocasionado por uma falha termoelétrica, contudo para muitos não se tratava de uma falha, mas de um ato criminoso. 

“O incêndio de setembro de 1984 foi um “atentado terrorista que” deu certo". Era o dia do sétimo aniversário da grande invasão. Enquanto na rampa se comemorava a vitória da PUC, um grupo da extrema direita, provavelmente com elementos da própria Universidade, tramou e executou uma manobra bem mais profissional da qual resultou um terceiro incêndio nascido em vários focos simultâneos. Dessa vez deu certo: tudo foi destruído”, afirmou o Padre João Edênio Reis Valle, pró-reitor comunitário da universidade, em trecho retirado da Comissão da Verdade da PUC-SP. 

Após os incêndios, comunidade externa e interna à universidade se comoveram e logo foi iniciada uma campanha pela reconstrução do TUCA. Logo em seguida foi criada a SOS TUCA, um projeto em que artistas e estudantes promoveram eventos e incentivos para a coleta de recursos, para que então, o teatro pudesse ser reconstruído.  

“O TUCA não pode ficar no meio da caminhada como uma estátua de sal... Que este momento prove quem somos, a que viemos e o que iremos fazer no futuro”, declarou Dom Paulo Evaristo Arns, franciscano e escritor brasileiro.

 

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Apresentação da Orquestra Sinfônica de São Paulo. Foto retirada do site: Comissão da Verdade da PUC-SP

 

Dois anos após os incêndios e 9 anos da invasão, no dia 21 de setembro, com a presença do D. Paulo e uma plateia improvisada, a Orquestra Sinfônica de São Paulo compareceu ao teatro e fez uma bonita apresentação. No dia seguinte, mais de 3 mil pessoas compareceram no TUCA para assistir a uma apresentação da Oficina de Dança do TUCA e mais cinco grupos musicais. Ainda no final desse ano, o teatro seria reaberto, entretanto, em situação precária. 

 

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Imagem teatro TUCA nos dias atuais. Foto retirada do site: Teatro Tuca

 

Reconstruído pelo arquiteto Joaquim Guedes, na sua concepção arquitetônica e em seu ambiente cultural, o espaço do teatro preserva não só as marcas da violência institucional, mas também a memória de inúmeros momentos da resistência à ditadura civil-militar. Lugar de criação cultural de vanguarda, de protagonismo do movimento estudantil e de militância de diversos movimentos de resistência, o TUCA tornou-se marco simbólico e lugar da geografia política da história da cidade naquele período. 

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