No ano em que o golpe militar de 1964 completa seis décadas, é momento de relembrar uma série de eventos que foram ocultados do grande público em decorrência da censura imposta diante do regime militar. Com tal data simbólica se aproximando, o Memorial da Resistência, junto com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) trouxeram uma exposição que relembra aos visitantes o papel da luta pela democracia por parte da Universidade paulistana, e atos repugnantes cometidos pelo governo vigente com ela.
Uma testemunha ocular importantíssima de muitas lutas lideradas pela PUC-SP contra a ditadura, foi o teatro da Universidade – O Teatro Da Universidade Católica (TUCA). Inaugurado em 1965 com a peça “Morte e vida Severina” de João Cabral De Melo Neto, o TUCA permaneceu desde sua criação até a queda de Figueiredo 1985 sendo um palco de diversas lutas libertarias em meio a censura imposta as universidades da época.
Em 1968, no ano em que se instaurou o Ato Constitucional Número 5 (AI5) o teatro presenciou Caetano Veloso cantar “É proibido proibir” em um dos momentos mais críticos do regime militar. Sem mencionar outras peças e discursos de docentes expulsos de outras universidades por ferirem as leis autoritárias do regime ditatorial.
Após uma série de protestos e reivindicações por parte da PUCSP, os militares algum momento reagiria, para tentar silenciar as vozes de alunos e funcionários indignados com a situação do país. Em 1977, 9 anos após o teatro ouvir a voz de Caetano Veloso ecoando “É proibido proibir” a universidade é invadida pelas forças golpistas. Os alunos foram conduzidos a um estacionamento próximo a Universidade, e 80 deles levados presos por violarem as leis ditatoriais. O TUCA também foi invadido nessa incursão a Universidade, contudo não sofreu nenhum grande dano em meio a invasão.
TUCA IMORTAL:
Em 1984, um ano antes da queda de João Figueiredo, houve um incêndio no Teatro, sem deixar vítimas pois o fogo se alastrou durante um intervalo entre dois espetáculos carbonizando o teatro por inteiro. Com às investigações constatou-se que as chamas eram resultado de uma falha termoelétrica. Contudo, até hoje acredita-se que o fogo não foi em decorrência de um acidente, mas que na verdade ele teria sido um ataque proposital. No dia em que o TUCA ardeu até quase sua última coluna, os alunos faziam um ato sobre os 7 anos da grande invasão de 1977, e as suspeitas apontam que grupos alinhados ao governo ditatorial teriam se reunido com alunos da própria universidade para realizar tal ato criminoso. Nas palavras do Pós reitor vigente, Padre Edenio Valle: “O incêndio de setembro de 1984 foi um “atentado terrorista que” deu certo". Era o dia do sétimo aniversário da grande invasão. Enquanto na rampa se comemorava a vitória da PUC, um grupo da extrema direita, provavelmente com elementos da própria Universidade, tramou e executou uma manobra bem mais profissional da qual resultou um terceiro incêndio nascido em vários focos simultâneos.”
O TUCA, presenciou diversos eventos importantíssimos para a história do Brasil. Desde peças que contestavam o regime ditatorial vigente, até invasões e incêndios. E em suas paredes até hoje queimadas, não permite os alunos e professores esqueçam o que aconteceu ali. O local por si só revela a dura e triste realidade da opressão no país que durou mais de 20 anos. Mas também expõe que muitas pessoas não se conformaram caladas com as atrocidades cometidas pela ditadura, ele expõe que muitos se levantaram e lutaram, contra uma realidade barbara e desumana, e assim ele ficará marcado na história.