Transgêneros enfrentam desafios para acesso acadêmico no Brasil

Apenas seis universidades federais do país reservam cotas para o grupo da comunidade LGBTQIA+ em cursos de graduação
por
Mariane Beraldes
Victória Miranda
|
13/06/2024 - 12h

Pessoas transgêneros enfrentam desafios significativos para acessar a educação superior no Brasil, uma vez que, das 69 universidades federais, somente seis adotam a política de cotas trans em cursos de graduação, sete estudam a implementação da medida e 15 instituíram a reserva para pós-graduação.

As instituições públicas buscam, de forma independente, adotar medidas e reservar vagas para pessoas trans. As cotas existentes são dadas por legislações municipais, estaduais ou de iniciativas políticas internas de organizações públicas ou privadas.

Em 2017, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) foi a primeira instituição a reservar a cota, destinando uma vaga em cada curso a transexuais.

Já em São Paulo, a Universidade Federal do ABC (UFABC) foi pioneira na reserva, contando com 40 vagas para o grupo. A universidade pública do estado de São Paulo, aderiu às cotas por meio do Sistema de Seleção Unificada (SISU).

No começo de 2018, o projeto de reserva de vagas a pessoas trans foi aprovado junto à Comissão de Políticas Afirmativas, e em novembro ocorreu a aprovação final pelo Conselho Universitário. Assim, em 2019 a instituição do ABC Paulista, recebeu a primeira turma de estudantes beneficiados pela cota.

Com a ação afirmativa, 1,6% das vagas da graduação passaram a ser destinadas para pessoas que se identificam como transgêneros, transexuais ou travestis.

Sarah Ísis, estudante de Bacharelado em Ciência e Tecnologia na UFABC, foi uma das contempladas com o benefício no ano de 2024. Ela afirmou: “A implementação das cotas foi uma oportunidade incrível, pois para você tentar concorrer na ampla concorrência, é muita gente e acaba que muitas pessoas trans não tem tantas oportunidades de estudo, de emprego, do financeiro em si, para poder investir em cursinho por exemplo”.

 

Sarah Ísis, de 20 anos. Imagem: Arquivo Pessoal.
Sarah Ísis, de 20 anos. Imagem: Arquivo Pessoal.

 

Nascida na cidade de Paulo Afonso, na Bahia, Sarah revelou ter escolhido estudar em São Paulo devido às possibilidades e condições de vida. “Eu escolhi a UFABC porque o estado de São Paulo é um lugar de oportunidades, principalmente para pessoas trans. No lugar onde eu nasci e fui criada não é bom, por questões de oportunidades e preconceito”.

E completou: “Embora São Paulo também tenha preconceito, a diferença está nas políticas públicas de saúde e nas maiores chances de emprego. Um exemplo são os ambulatórios trans do SUS, onde você pode fazer tratamento hormonal, psicológico e endócrino gratuitamente. Na Bahia, infelizmente, isso é inexistente.”

A estudante ao entrar na Universidade Federal do ABC percebeu que tinha feito a escolha certa: “A UFABC é muito incrível na questão de acolher, tanto as pessoas da comunidade LGBT+ quanto propriamente dito as pessoas trans”.

 

Publicação do movimento estudantil da comunidade LGBTQIA+ da UFABC

 

PROJETO PARA LEI DE COTAS

Em junho de 2023, com o objetivo de diminuir a realidade de exclusão e preconceito no Brasil, a deputada federal Érika Hilton (PSOL-SP) apresentou o Projeto de Lei (PL) nº 3109/2023, que estabelece a reserva de 5% das vagas para pessoas trans e travestis nas universidades federais brasileiras. Em fevereiro de 2024, foi incorporado ao processo, o PL n° 354/2024, que propõe a reserva de 2% das vagas em concursos públicos para pessoas trans.

Atualmente, o projeto se encontra aguardando designação do Relator(a) na Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial (CDHMIR).