Transatlântico Oceania: Vietnã

Estreante em Copas do Mundo, o Vietnã tentará dificultar a vida das adversárias
por
Kawan Novais
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07/07/2023 - 12h

O Vietnã, país que carrega uma estrela brilhante amarela no centro de sua bandeira vermelha, está localizado na costa leste da península da Indochina, sudeste asiático. Em dados de 2021, o país tem mais de 97 milhões de habitantes em seu território, segundo Indicadores de Desenvolvimento Mundial, do Banco Mundial. Sua capital Hanói, atualmente, tem mais de 8 milhões de pessoas, de acordo com o Departamento de Saúde da cidade.

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Hanói, capital do Vietnã. Foto: Reprodução/Getty Images.

A história do país é marcada por guerras, disputas territoriais e conflitos ideológicos que vão desde 111 a.C., contra o Império da China à Proclamação da República Democrática do Vietnã, que resultou na primeira guerra da Indochina, entre 1946 e 1954, contra a colonização francesa. Após derrotar e afastar os franceses de seu território, foi reconhecida a independência vietnamita por meio do Acordo de Genebra. Em seguida, o país passou a ser polarizado politicamente entre o Norte, através da República Democrática do Vietnã apoiada pela União Soviética, e Sul, através da República do Vietnã com apoio norte-americano.

Essa polarização explodiu na Guerra do Vietnã, entre 1955 e 1975, com estimativas de mais de 3 milhões vietnamitas mortos por causa do conflito. Após vitória e domínio nortista, o país foi unificado em meio ao surgimento da República Socialista do Vietnã que, desde então, atravessou o processo de reinserção no mercado e desenvolvimento de relações diplomáticas com outros países. Atualmente, assim como outras nações asiáticas, os vietnamitas têm destaque mundial na agricultura, principalmente, na produção de arroz, sendo o quarto país que mais produz arroz no mundo, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A culinária do Vietnã é caracterizada por diferentes combinações com o prato principal: o arroz. Um exemplo é o “Pho”, o prato mais tradicional vietnamita, que combina arroz, macarrão, vegetais e pedaços de frango ou carne. Além disso, o país possui características únicas na moda, através de vestuários como o “Nón Là”, chapéu cônico vietnamita, o vestido de ceda chamado “Áo dài”, mais utilizado pelas mulheres, e o “Áo Gấm”, definida por uma camisa de ceda cumprida, mais utilizado por homens.

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Características culturais vietnamitas, o vestido “Áo dài” e o chapéu “Nón Là”. Foto: Reprodução/Pixabay.

Mesmo sem muita tradição, o futebol é o esporte mais popular do país. A Federação de Futebol do Vietnã, responsável pela administração do esporte no país, recebe cada vez mais investimentos da FIFA para fomentar a prática futebolística. De acordo com informações divulgadas no jornal local Bao Giao Duc Thoi Dai, a FIFA investe 2,7 milhões de dólares em centros de treinamento juvenil ao futebol vietnamita. O investimento mostrou resultado no futebol feminino no histórico recente, com a conquista de campeonatos asiáticos e pela primeira participação em Copa do Mundo.

 

O início de uma história

Pela primeira em vez sua história, o Vietnã será representado em uma Copa do Mundo. Nenhuma seleção do país, feminina ou masculina, conseguiu se classificar para o maior torneio de seleções mundiais do futebol até o dia 06 de fevereiro de 2022, quando a seleção vietnamita venceu o Taipé Chinês por 2 a 1, com gols de Thi Kieu e Nguyen Thuy, e garantiu a classificação ao torneio.

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Comemoração das jogadoras durante o gol que garantiu a vitória contra o Taipé-Chinês e classificou o Vietnã à Copa do Mundo de 2023. Foto: Reprodução/Confederação Asiática de Futebol.

 

Um projeto que tem nome e sobrenome: Mai Duc Chung

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Treinador Mai Duc Chung. Reprodução: Duc Dong/VnExpress.

O vietnamita Mai Duc Chung é um dos grandes responsáveis por elevar o futebol feminino no Vietnã. Chung assumiu a seleção feminina pela primeira vez em 1997. O treinador, desde então, ficou em um “vai e vem” no cargo até que, em 2017, ele retornou e permanece no comando.

Com o treinador, a seleção do Vietnã se tornou a equipe a ser batida nas competições do sudeste asiático. Ainda assim, é uma equipe que encontra muitas dificuldades para jogar competições de maior nível na Ásia ao enfrentar equipes como o Japão, China ou Coréia do Sul.

Em maio deste ano, o Vietnã ganhou a sua oitava medalha de ouro no SEA Games (“South East Asian Games” ou Jogos do Sudeste Asiático) em cima da seleção Mianmar, com gols de Huynh Nhu e Nguyen Thi. Essa foi a quarta vez consecutiva que o país conquista essa medalha, o que é um feito inédito à história da competição.

Além disso, a seleção feminina do Vietnã está em um processo de rejuvenescimento de suas jogadoras, e assim, terá que lidar que apoiar atletas inexperientes nesta Copa.

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Jogadoras comemoraram a inédita quarta medalha consecutiva na 32ª edição dos SEA Games, em maio de 2023. Foto: Reprodução/Lam Thoa - VnExpress.

 

Como joga?

O Vietnã prioriza o sistema defensivo e se preocupa, principalmente, com o meio de campo. Chung faz com que o estilo das vietnamitas seja um jogo vertical, optando por uma linha defensiva sólida. O time costuma jogar através de contra-ataques e de ligações diretas em lançamentos que exploram espaços abertos nos corredores laterais. As jogadas de ataque procuram a centroavante e melhor jogadora da equipe: Huynh Nhu.

A formação mais utilizada pelas vietnamitas é a 3-4-3, com uma linha de três zagueiras bem postada, duas meio-campistas e duas alas defensivas que apoiam pouco o ataque, duas pontas velocistas que procuram espaços laterais e uma centroavante que flutua pelo meio de campo.

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Formação tática do Vietnã feminino na final do SEA Games, contra Mianmar. Foto: Reprodução/Bong Da TV - YouTube.

Uma alternativa ao time do Chung é a formação 4-2-3-1, com o recuo de suas alas à lateral defensiva para formar uma linha de quatro, e a volta das pontas para proteção na entrada da área. Esta alternativa é utilizada pelo treinador, principalmente, quando a equipe está à frente do placar ou quando enfrenta fortes equipes.

 

Pré-Copa

Entre os dias 22 de maio e 4 de junho, a equipe vietnamita se reuniu para viajar à Alemanha, local em que treinará até o dia 24 de junho. No território europeu, além da realização de amistosos contra equipes femininas alemãs, como o SUB-20 do Eintracht Frankfurt e a equipe principal do Short Mainz Club, a seleção do Vietnã jogará um amistoso contra Alemanha no dia 21 de junho em preparação à Copa do Mundo.

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Seleção do Vietnã antes dos treinamentos de julho em Frankfurt, na Alemanha. Foto: Reprodução/Associação de Futebol do Vietnã (VFF).

O Vietnã está no grupo E da Copa do Mundo e jogará contra os Estados Unidos, no dia 21 de junho, Portugal no dia 27, e encerrará a fase de grupos no confronto com a Holanda, no dia 01 de agosto.

 

Esperanças vietnamitas

Com 32 anos, a centroavante, camisa 9, capitã e melhor jogadora da seleção vietnamita, Huynh Nhu é esperança de gols de sua equipe. Ela foi a primeira jogadora da história do Vietnã a atuar no futebol profissional europeu pelo Länk Vilaverdense, equipe que joga na elite do futebol feminino português. Nhu é a maior artilheira na história da seleção do Vietnã com mais de 70 gols feitos em quase 100 jogos disputados.

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Huynh Nhu, a melhor jogadora e a capitã da seleção do Vietnã. Foto: Reprodução/Duc Dong - VnExpress.

A camisa 12, Pham Hai Yen, chamada de “flash de luz” pela mídia vietnamita, é uma atacante de 28 anos que joga no Hanoi I, equipe da elite no Vietnã que se destacou ao ser arthileira com 8 gols marcados pela seleção nas eliminatórias da Copa da Ásia de 2022.

A meio-campista Nguyen Thi Tuyet Dung, de 29 anos, camisa 7 do Vietnã e defensora do Phong Phu Na Ham, é a mulher das bolas paradas da seleção. Dung marcou um gol olímpico contra o Mianmar, em um jogo válido pela fase de grupos da Copa da Ásia de 2022. Vale ressaltar que esse não foi o primeiro gol olímpico feito por ela, pois em 2015, contra a Málasia, nos SEA Games, a meio-campista marcou 2 gols olímpicos na mesma partida.

 

Será que dá?

Sem grandes expectativas para a Copa do Mundo, a seleção do Vietnã disputará a competição para consolidar os investimentos dos últimos anos. Em um grupo com favoritismo para Estados Unidos e Holanda, as vietnamitas desejam ansiosas pela zebra na Oceania.