Transatlântico Oceania: Nigéria

Com a craque Asisat Oshoala, a seleção nigeriana não se intimida com as difíceis adversárias do Grupo B
por
Beatriz Barboza
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28/06/2023 - 12h

A Nigéria, com cerca de 225 milhões de habitantes, é o país mais populoso do continente africano. Segundo previsões da ONU, a nação nigeriana pode alcançar a marca de 400 milhões de habitantes até 2050 e superar os Estados Unidos. Além disso, o país é a maior potência econômica da África atualmente, sua economia concentra-se na exploração de petróleo, que compreende 80% de suas exportações.  

Com sua população predominantemente jovem, a Nigéria tem se dedicado à produção cultural. O país possui a terceira maior indústria cinematográfica do mundo, conhecida como Nollywood. O cinema nigeriano cultiva a autenticidade das narrativas africanas, são cerca de 2500 filmes gravados anualmente em cenários cotidianos, com elenco nacional e enredos que perpassam a realidade dos diferentes povos do continente. “Lionheart” (2018), “Your Excellency” (2019) e “Por Uma Vida Melhor” (2020) são exemplos de produções de Nollywood disponíveis na Netflix.  

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Sharon Ooja, Omoni Oboli, Beverly Osu, Kemi Lala Akindoju são algumas das atrizes nigerianas que estrelam Òlòtūré - Por Uma Vida Melhor (Imagem: Divulgação/Netflix)  

O país é um verdadeiro mosaico cultural, são cerca de 250 grupos étnicos e mais de 500 línguas faladas. Sua pluralidade é justamente o que ilustra todos os anos a maior festa de rua do continente: o Carnaval de Calabar. O festival acontece em dezembro e reúne turistas de todo o mundo e nigerianos de todo o país. Os blocos de foliões tomam as ruas da cidade de Calabar com músicas e danças tradicionais, e as atenções se voltam à atração principal: a Batalha das Bandas, um espetáculo semelhante ao desfile das escolas de samba do Brasil.   

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Desfile das Bandas no Carnaval de Calabar, na Nigéria, em 2023. A maior festa de rua no continente africano. (Imagem: Niyi Fagbemi) 

Melhor seleção feminina da Confederação Africana de Futebol 

Segundo o ranking da FIFA, a seleção nigeriana de futebol feminino é a melhor da Confederação Africana. Trata-se do país mais titulado do continente. Seus títulos são, em sua maioria, da Copa das Nações Africanas: de 14 edições, 11 foram conquistadas pela seleção alviverde. Em sua última edição, em 2022, a Nigéria se classificou em 4° lugar para o Mundial, juntamente com a África do Sul, Marrocos e Zâmbia.  

A performance das “Super Falcons”, como são conhecidas, foi prejudicada pela ausência de sua principal jogadora: Asisat Oshoala, atacante que permaneceu afastada dos campos devido uma contusão muscular. O título foi então conquistado pela África do Sul, que derrotou a equipe do Marrocos na decisão por 2 a 1. O terceiro lugar foi ocupado pela Zâmbia que, por um único gol, venceu as nigerianas.  

A Nigéria participou de todas as edições da Copa do Mundo. Sua melhor performance foi em 1999, nos Estados Unidos, quando alcançou a 7° colocação no ranking final do campeonato. Naquela ocasião, a seleção chegou às quartas de final e foi eliminada pelo Brasil em um jogo que terminou em 4 a 3 para as brasileiras. Na última edição, em 2019, foi eliminada nas oitavas de final pela Alemanha, por 3 a 0. 

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Seleção nigeriana de futebol feminino, as “Super Falcões”, na Copa do Mundo de 2019, na França. (Imagem: Getty Images)  

Prancheta de Randy Waldrum 

O técnico americano Randy Waldrum, anteriormente treinador de times universitários nos Estados Unidos, assumiu a equipe nigeriana em 2020. Sua formação preferida é o 4-2-3-1, com constante rotatividade das 4 jogadoras ofensivas, tanto em nome, quanto em função. Waldrum é conhecido pela rápida substituição das atletas em campo quando os resultados não correspondem ao esperado. As mudanças acontecem no intervalo ou no início do segundo tempo.  

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O técnico da seleção feminina da Nigéria, Randy Waldrum, no jogo contra Estados Unidos durante o Amistoso Internacional em 2022. (Imagem: Brad Smith/ISI Photos/Getty Images)  

Na formação do trio ofensivo, a experiente jogadora Francisca Ordega, que joga no Mundial pela terceira vez, é peça fundamental no ataque da Nigéria. Sua performance como atacante lhe rendeu repetidas indicações ao prêmio de melhor jogadora africana. Ao seu lado, Rasheedat Ajibade, atacante do Atlético de Madrid e Uchenna Kanu, que atua no time estadunidense Racing Louisville, apoiam Asisat Oshoala, principal ameaça ofensiva da equipe, na zona central.

Olho nelas! 

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Ajibade e Kanu, jogadoras nigerianas, durante a Copa das Nações Africanas em 2022. (Imagem: Brila Media) 

Rasheedat Ajibade foi o grande destaque ofensivo da Nigéria no Mundial Sub-20 de 2018. Desde 2020, joga pelo Atlético de Madrid, time campeão da Copa da Rainha de 2023, na qual Ajibade foi responsável por uma das assistências na final. Embora ainda não tenha feito parte do time titular de sua seleção, a jogadora merece atenção pela excelente atuação na liga europeia e pela velocidade que garante ao ataque nigeriano.  

Uchenna Kanu se prepara para sua segunda Copa do Mundo Feminina. A FIFA pede atenção para a atuação da jogadora e a define como uma boa atacante, visto sua notória performance na derrota por 2 a 1 para os Estados Unidos no ano passado. Kanu entrou em campo durante o segundo tempo e marcou o único gol da Nigéria no jogo. Para o Mundial deste ano, resta saber se Randy Waldrum vai aproveitar a sua habilidade desde o início da partida, ou vai manter a estratégia de trazê-la após o intervalo, o que funcionou muito bem contra os EUA.  

 

Estrela Nigeriana: Asisat Oshoala

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Asisat Lamina Oshoala, primeira africana a vencer a Liga dos Campeões, o principal campeonato europeu. (Imagem: fcbarcelona)

Em 2014, durante a Copa do Mundo sub-20 no Canadá, o futebol internacional conheceu Asisat Oshoala. Com uma sequência de 4 vitórias, 1 hat-trick e uma goleada de 6 a 2 sobre as norte-coreanas, a jogadora recebeu a Chuteira e Bola de Ouro aos 19 anos. Hoje, quase uma década depois, a Super Zee é considerada o maior destaque do futebol africano, 5 vezes eleita a melhor jogadora do continente pela CAF Awards.  

Oshoala foi a primeira africana a vencer a Liga dos Campeões. O Barcelona, seu atual clube, levantou a taça do principal campeonato do futebol europeu em 2021 e 2023 - na recente final contra Wolfsburg. No ano passado, foi considerada a artilheira da Super Copa Feminina da Espanha. Com passagem pelo Liverpool, Arsenal e Dalian Quanjian, na China, a estrela se destaca por sua velocidade e pela otimização dos lances ofensivos - bola no pé, é gol! Na Copa de 2019, Oshoala foi responsável pelo único tento marcado pela Nigéria na edição.  

Em entrevista para a FIFA, o técnico Waldrum destacou o desejo de Oshoala em liderar uma campanha de sucesso na Oceania. “Ela põe muita pressão sobre si mesma porque ama a Nigéria e quer que a seleção vá bem na Copa do Mundo”. A Rainha de Lagos fez e permanece com o objetivo de fazer história com a camisa de seu país. “Vê-la jogando na TV e mandando bem nos jogos nos mostra que há esperança para jogadoras africanas. Há muito espaço para ocupar, há possibilidade de levarem nossos jogos a sério”, declarou Gift Monday, jogadora de uma liga local da Nigéria.  

Jogadora essencial para o time, Oshoala, atacante e “máquina de fazer gols do Barcelona”, comanda o ataque nigeriano com velocidade excepcional, construindo os lances ofensivos e garantindo o aproveitamento em assistências e finalizações. Em entrevista para a FIFA, a atleta reconheceu o potencial das adversárias, mas declarou confiante: “Quem disse que a Nigéria não pode vencer a Copa?”. 

As nigerianas enfrentarão o Canadá, atual campeão olímpico, a Austrália, uma das anfitriãs de 2023 e a Irlanda na fase de grupos. Os dois primeiros adversários são difíceis, estão entre as 10 melhores seleções femininas de acordo com a FIFA. Julia Grosso, destaque canadense, e Samantha May Kerr, estrela australiana, não intimidam a supercraque nigeriana. Para Randy Waldrum: "Com alguém como a Oshoala, você tem chances contra qualquer equipe".