A Copa do Mundo Feminina 2023, na Austrália e na Nova Zelândia, é o mais novo palco das futebolistas irlandesas. Não só é o primeiro mundial que elas disputam, como também é a primeira grande competição internacional na qual elas estão presentes. O elenco comandado pela técnica Vera Pauw, que conta com a estrela Denise O’Sullivan, espera não ir apenas a passeio: quer botar a prova a sua solidez defensiva e representar a sua força cultural na Oceania.
O PAÍS
A Irlanda é uma terra marcada pela rica cultura e desenvolvimento social. Possui um estilo musical tradicional, que envolve violinos, flautas e harpas em suas melodias. Muitos nativos têm o costume de se reunir em “pubs” (típicos bares do Reino Unido) nos finais de semana, para beberem umas cervejas. Além disso, a dança é uma arte muito praticada pelos irlandeses. O estilo “Riverdance”, com passadas rápidas e precisas, é reconhecido no mundo inteiro e integra a identidade cultural do país.
A literatura irlandesa também é reconhecida internacionalmente. Escritores como William Butler, Oscar Wilde e James Joyce viveram nos arredores da capital Dublin. Locais literários icônicos compõem a cidade, como a Biblioteca Chester Beatty e a Trinity College Library. A cultura da Irlanda está enraizada em lendas e na mitologia celta. Histórias antigas de heróis, deuses e seres míticos, como Leprechauns (duendes, em tradução), são passadas de geração em geração.
A Irlanda também é famosa por seus festivais que celebram uma variedade de eventos, como literatura, teatro e cultura celta. O “Saint Patrick's Day”, em 17 de março, é o festival originário da Irlanda mais conhecido e celebrado ao redor do mundo.
Em 2020, o IDH (Índice de desenvolvimento humano) da Irlanda chegou à marca de 0.955/1 e ficou entre os maiores índices do mundo no ranking. Isso só reflete o tamanho da influência cultural que o país perpetua nas ruas, bares, bibliotecas e ao redor das cidades. A renda média anual dos irlandeses é de 76.110 dólares (377 mil reais aproximadamente) e faz com que ocupem a 3º posição entre os países com maior poder de compra no planeta.
A SELEÇÃO
Em contraste com a forte cultura nativa, a seleção feminina irlandesa ainda busca um reconhecimento e um fortalecimento técnico do esporte no país. Muito por conta do futebol inglês (Premier League e as demais ligas inglesas) no qual está inserido, o país busca uma maior expressividade no âmbito internacional. Apesar de nunca ter conseguido se classificar para a Eurocopa, muito menos alcançado uma Copa do Mundo, as irlandesas apresentaram uma evolução significativa na última década. Das oito seleções estreantes deste mundial, apenas Portugal está a frente delas no Ranking FIFA das melhores seleções femininas do mundo.
A prancheta da Vera
Apesar da ascensão da equipe, o estilo de jogo adotado pela treinadora Vera Pauw é polêmico e controverso. O esquema tático 5-4-1 é questionado por ser monótono e extremamente defensivo. Muitas das vezes, os jogos são decididos por uma bola parada, após 90 minutos de “retranca” total. É o famoso “bola para o mato que o jogo é de campeonato!”.
A treinadora, em entrevistas coletivas, disse “não é que gosto de retrancas, mas eu gosto de ganhar. Jogar recuado é o que o time precisa para fazer boas exibições e vencer. Jogo com cinco defensoras porque, apesar de termos atletas fantásticas nesse setor, elas não são as mais rápidas. Se jogarmos aberto, podemos levar um 5 a 0”.
Em defesa da treinadora, esse estilo tem funcionado para a Irlanda. Após empatar fora de casa contra a Suécia nas eliminatórias para a Copa, o time surpreendeu no playoff final da UEFA e garantiu a classificação para o primeiro mundial, após vencer a seleção da Escócia por 1 a 0. Esses placares apertados e econômicos foram muito comuns na campanha de Vera Pauw. Se as redes balançaram, é muito provável que seja em lances de bola parada, como nos três gols na incomum vitória contra a Austrália, no amistoso pré-copa.
Trevos de quatro folhas
As principais “melodias” do elenco de Pauw são as meio-campistas Denise O’Sullivan (10) e Katie McCabe. Pela seleção, Denise contribuiu com 19 gols e Katie com 18, e lideram a artilharia, mesmo que a função das jogadores não é balançar as redes. Ambas ditam o ritmo do meio campo da seleção e Denise é o principal motorzinho da equipe.
A camisa 10 é uma das responsáveis pela classificação da seleção para a Copa. No jogo contra a Escócia, de 1 a 0, a desportiva foi a responsável pela assistência do gol que ficou marcado nos corações dos torcedores e torcedoras irlandeses. A jogadora ocupa o patamar das principais atletas do Campeonato Norte-Americano há alguns anos. “Não há nenhuma outra jogadora no mundo neste momento que consiga tanto armar as jogadas como também ser o motor do time, roubando bolas na defesa. Ela tem todas as qualidades.” disse Pauw a respeito da craque.
A elegância e protagonismo de O’Sullivan, combinados com as qualidades de sua companheira de meio campo McCabe, serão cruciais para o futuro da Irlanda na Copa do Mundo. Se a dupla estiver encaixada, as estreantes poderão aprontar algumas surpresas nesse mundial.
Além das atletas já consolidadas, Vera Pauw apostou na jovem promessa Abbie Larkin, com seu vasto talento. A ex-capitã da seleção sub-17 foi chamada para o time principal e estreou com apenas 16 anos. Não demorou muito e a centroavante, jogos depois, balançou as redes pela primeira vez. A jogadora, hoje com 17 anos, é pouco provável que seja titular. Porém, se pintar uma oportunidade, Abbie poderá ser a arma secreta da seleção irlandesa.
NA COPA
As irlandesas tiveram azar no sorteio da fase de grupos e caíram em uma cova de leões. As atletas terão que correr dobrado para se classificar em um grupo que inclui uma das anfitriãs (Austrália), a atual campeã olímpica (Canadá) e a seleção mais bem sucedida e vitoriosa da África (Nigéria). De longe, a Irlanda não é favorita para se classificar. Apesar disso, Vera Pauw montou um elenco, na medida do possível, capaz de dar trabalho para as adversárias balançarem as redes. Um 0 a 0 ou um 1 a 0 podem fazer total diferença para o rumo do grupo.
A solidez defensiva pode ser a pedra no sapato das grandes seleções do grupo. Logo de cara, a Irlanda enfrentará a Austrália, no dia 20 de julho, às 20h no horário local, e colocará em xeque a vantagem das adversárias de jogar em casa. Em seguida, enfrentarão a poderosa seleção do Canadá, no mesmo horário, sete dias depois.
O último jogo da fase de grupos será contra a Nigéria, no dia 31 de julho, às 20h no horário local. Esse confronto será um teste real do poder da defesa irlandesa. A forte ofensividade da seleção africana, com seu quadrado mágico e arsenal criativo, baterá de frente com a retranca de Vera Pauw e poderá decidir a miraculosa classificação da equipe.