Trabalho remoto, covid e desurbanização

A tecnologia permite realizar o seu trabalho em qualquer lugar. O escritório é o mundo.
por
Guilherme de Lima Alavase e Luiza Mazzer
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20/04/2021 - 12h

O processo de desurbanização de grandes cidades do mundo, como Nova York, Chicago e Londres deve-se ao extraordinário avanço tecnológico que permite conectar os trabalhadores onde quer que eles estejam. Nas grandes cidades americanas, cerca de 25% dos profissionais já trabalham remotamente e muitos estão se mudando para outras regiões do país, conforme dados da empresa de videochamadas GotToMeeting, a qual analisa a origem das ligações. 

O fenômeno do home office, previsto para acontecer gradualmente, foi acelerado pela pandemia da covid-19 em diferentes lugares do mundo. No Brasil, segundo o IBGE, 7,8 milhões de trabalhadores atuam remotamente, podendo chegar a 20,8 milhões de postos de trabalho que facilmente podem ser convertidos para a forma remota. 

 A experiência inicial de trabalhar a partir de qualquer lugar parece ter sido bem aceita pelos trabalhadores, principalmente pelo fato de não precisarem mais perder horas no trânsito das grandes cidades. Alguns gastavam duas horas para ir e duas horas para voltar do trabalho, o que, para eles, era considerado uma grande perda de tempo.  

Com a consolidação do trabalho remoto, muitos trabalhadores passaram a considerar a possibilidade de mudança para fora das cidades grandes., Conforme pesquisa realizada pela empresa Ticket com 1000 trabalhadores brasileiros, eles querem mais contato com a natureza e mais tempo para outras atividades de seu interesse e, por estes motivos, consideram a mudança definitiva de cidade caso o trabalho remoto seja permanente. Como fator positivo do trabalho remoto, indicam principalmente a melhoria da qualidade de vida, devido a diminuição de deslocamentos e aos horários mais flexíveis, que permitem outras atividades na rotina. Além disso, o meio ambiente também é beneficiado com a diminuição de veículos na rua,

 

André Ferreira Endres, analista de negócios, trabalha remotamente para a  empresa “Consultoria Transnacional de Tecnologia” desde o início da pandemia da covid-19 e diz que o ganho de três horas desperdiçadas no trânsito todos os dias são sentidos de forma imediata. Endres tem utilizado essas horas para cozinhar, passando um bom tempo com a família em volta da mesa e do fogão, abolindo assim o fast food de sua rotina, o que para ele foi mais uma vantagem. O analista afirma que sua vida melhorou muito com estes momentos de relaxamento em volta das panelas. 

Porém, mesmo assim, ainda cumpre à risca sua rotina de trabalho: dedica à empresa quatro horas pela manhã e depois, no meio da tarde, trabalha outras quatro horas. Dessa forma, consegue equilibrar o trabalho, a vida pessoal e seus hobbies. Endres acredita que a empresa onde trabalha manterá grande parte de seus funcionários em trabalho 100% remoto. Se isso se confirmar, pretende se mudar para uma cidade média do interior de São Paulo, pois quer morar em uma casa mais espaçosa e com mais proximidade da natureza.

 Rodrigo Guimarães, especialista em educação profissional, antes trabalhava em São Paulo, mas atualmente trabalha da cidade de Franca, onde nasceu.  Para ele, o fato de morar em uma cidade menor, lhe dá mais tempo para se exercitar fisicamente e se alimentar de forma mais saudável. Nos últimos doze meses conseguiu perder 10 Kg com a mudança de estilo de vida. Guimarães afirma estar adorando o trabalho remoto e que se a empresa mantiver este formato, pretende voltar definitivamente para sua cidade natal, e apenas voltará à São Paulo a turismo nas férias ou finais de semana prolongados.

Essa mudança não tem acontecido apenas para cidades do interior, mas tem sido bastante frequente no litoral de São Paulo. O casal Tinay e Daniel Mondini, publicitária e engenheiro respectivamente, mudaram para Ubatuba após a decisão de suas empresas, localizadas na cidade de São Paulo, de adotar o trabalho remoto para seus colaboradores. Ambos afirmaram a melhora na qualidade de vida por morar em meio a natureza e a diminuição do stress. Um dos principais hobbies de Daniel é o surfe, e morando a poucos metros da praia de Itamambuca, consegue surfar antes do trabalho, o que deixa sua rotina mais leve.

O sonho dos dois é morar definitivamente em Ubatuba, porém a oferta de trabalhos em suas áreas é muito pequena na cidade, além da média salarial ser bem mais baixa do que em São Paulo. Com a possibilidade do trabalho remoto, podem continuar em suas respectivas empresas e realizar o sonho de morar perto da praia.

Muitas empresas brasileiras, inclusive a de Mondini, já decretaram fechamento de suas unidades físicas e seus funcionários passarão a trabalhar apenas remotamente.