Por Clara Maia de Castro Ribeiro e Rafaela Dionello
De acordo com dados oferecidos pela prefeitura de São Paulo, as ruas da capital abrigam hoje nada menos que 942 feiras livres, realizadas de terça a domingo, ao longo de todo o ano. Presentes no cotidiano de todo paulista, as feiras são as principais fontes de diversidade de produtos e preços acessíveis. Entretanto, a produção de resíduos alimentícios gerados nesses ambientes é um problema pouco estudado pela comunidade científica.
No Índice de Desperdício Alimentar, um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente divulgado em 2021 foi ressaltada a falta de informações sobre o Brasil e a América Latina em geral. O documento destaca que, embora as pesquisas sobre desperdício de alimentos no continente abordam satisfatoriamente a esfera doméstica, há uma escassez de dados quando se trata dos setores de serviços alimentares, como restaurantes, e do varejo de alimentos, como supermercados e feiras. De acordo com o relatório da ONU, nessas duas áreas, o Brasil e a América Latina apresentam uma grande falta de dados.
O grande perigo desse desperdício é o impacto ambiental que ele gera. Em média, no Estado de São Paulo, as feiras livres geram por ano cerca de 33 mil toneladas de resíduos desperdiçados. O mau reaproveitamento alimentar resulta em diversas consequências negativas. Primeiramente, causa um aumento significativo na emissão de gases de efeito estufa, especialmente o metano, devido à decomposição da matéria orgânica. Além disso, contribui para o desperdício de água, considerando a perda relacionada ao cultivo de vegetais com folhas e frutas. Por fim, há também a perda nutricional desses alimentos, que poderiam ser consumidos por populações carentes, mas acabam sendo descartados de forma inadequada.
*Dados do Jornal da USP
Yuri Miranda, de 21 anos, feirante em Perdizes comenta sobre as sobras de alimentos ao final da feira. “Levo para casa. O que realmente não consigo aproveitar acabo jogando no lixo”, expõe Miranda.
Já Maria Fernanda de Souza, 44 anos e feirante da zona norte de São Paulo, Vila Gustavo compartilha de um pensamento convergente. “Não consigo ver famílias passando fome e simplesmente jogar fora os produtos que não vendi.” Souza é conhecida por suas ações sociais, e descreve um pouco do seu trabalho: “Tento ajudar algumas famílias da comunidade onde vivo. Levo o que não consumido - como alface, alguns legumes - para essas pessoas. Elas já passam por tanta dificuldade, né? Se posso ajudar de alguma forma, eu vou tentar.”
Há outras formas também de reaproveitar estes alimentos. Uma delas é o processo da Compostagem. Esse processo é um método de reciclagem do lixo orgânico que transforma a matéria orgânica presente nos resíduos em adubo natural. Esse adubo pode ser utilizado na agricultura, em jardins e plantas, eliminando a necessidade de produtos químicos. Outro ponto positivo do método é sua praticidade, podendo ser feita em casa.
Além disso, a compostagem também desempenha um papel importante na redução do aquecimento global. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, apenas em 2015, cerca de 32 milhões de toneladas de resíduos orgânicos foram gerados no Brasil, equivalente a 88 mil toneladas de lixo diário. Quando esses resíduos se decompõem em lixões ou aterros sanitários, eles produzem metano, um dos principais gases causadores do efeito estufa.